Pluralidade ou falta de identidade?

Texto e Fotos de Maron Ramos

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Everton Pinheiro fala de cultura e diversidade em conversa com o Imperatriz Notícias

Imperatriz é uma cidade que expressa, por meio da música, da culinária e de formas de falar, a cultura de diversas regiões. Para falar sobre toda essa mistura, conversei com o criador da empresa MIAMI Design e Coordenador do Espaço Cultura, Everton Pinheiro, que há dois anos organiza, por meio do Espaço e Studio Cultura, eventos na cidade e região com o objetivo de divulgar artistas e bandas locais valorizando o que é produzido na cidade. Nessa entrevista, Ele falou sobre o cenário cultural imperatrizense, as dificuldades de novos artistas e de projetos futuros para a cidade. 

Imperatriz possui uma identidade cultural própria?

Imperatriz tem mais de uma identidade cultural, mas vejo que a cidade pouco conhece de sua história e das referências que constituem sua cultura local.

Por que o estilo musical Sertanejo é tão forte na cidade?

A pergunta não é tão difícil, mas a resposta é de se refletir. Vou usar um exemplo prático: já ouvi muito isso e em meios diferentes, pessoas dizendo que o problema da família brasileira é a mídia, e que o povo só gosta de “besteira”, mas isso não é verdade, o povo consome o que lhes é oferecido em massa, por motivos óbvios no sistema em que estamos inseridos. Dinheiro.

Penso que a questão são os detentores da mídia, aqueles que estão por trás dela. São eles que irão determinar os valores e “produtos” a serem consumidos pela população, em todos os âmbitos. No caso da música a lógica é óbvia se for seguir este raciocínio.

Primeiro, estamos em uma cidade que tem uma quantidade grande de pessoas que vieram da região Centro-Oeste do país, onde esse estilo musical é bem expressivo; segundo, a indústria musical tem explorado muito bem essa “fase sertaneja” que temos vivido, assim como foi com outros estilos; por fim, se eu tenho uma produtora de eventos, se eu quero ganhar dinheiro com meu evento, vou oferecer o que está em alta. São tantas razões que fazem deste estilo algo forte na região, vai além da geografia ou do sistema capitalista, mas isso não faz do sertanejo apenas mais um produto, o sertanejo é cultura, conta a história de uma região do nosso povo e revela nossas raízes também. Pelo menos o sertanejo que eu ouvi há alguns anos atrás.

O público de Imperatriz é aberto a novidades?

Se não fosse, não teria chegado nem nos três primeiros meses de projeto.

Hoje, a cidade conta com bandas e artistas que se apresentam na noite, qual a análise que você faz desse momento que Imperatriz vive?

Vejo algo maravilhoso acontecendo, há um sentimento de “podemos viver outra realidade”, ao passo que ainda há uma competitividade desnecessária nos bastidores entre os artistas, e do outro lado da história existe uma grande parte de donos de estabelecimentos que não valorizam os músicos e um público que exigente que não quer pagar cover artístico, quer meia em tudo e acha um absurdo o valor dos ingressos para eventos na região.

Minha humilde opinião é que aos poucos a mentalidade de ambas as partes deste processo tem mudado, se tem mudado, se permite haver uma importante desconstrução, o que é muito positivo para todos.

Quais as dificuldades do artista que começa hoje em Imperatriz?

A falta de incentivo, de solidariedade e de oportunidades se aplica não somente ao artista que está em início de carreira, mas até mesmo ao que já está na estrada há mais tempo. Não apenas em Imperatriz mas em qualquer lugar do mundo. Creio que as dificuldades são as mesmas, a questão é olhar para as possibilidades e não para os problemas.

Hoje temos a internet e isso já facilita muito, em vários aspectos, um artista divulgar seu trabalho e se fazer conhecido.

Quando você percebeu que era possível trabalhar com cultura em Imperatriz?

Nunca busquei trabalhar com cultura, mas quando percebi uma limitação nas programações e espaços na cidade, vi uma oportunidade de criar um projeto que agregasse as linguagens que eu aprecio, e aproveitar para encontrar pessoas com o mesmo interesse. Era uma programação de três meses, apenas uma atividade secundária, sem pretensão alguma. Eu brinco que fiz o Espaço Cultura pra mim e o perdi no primeiro dia.

Quando surgiu a ideia de criar o Espaço Cultura?

Surgiu em janeiro de 2014, em uma conversa entre amigos, eu estava em São Luís e durante a conversa lembrei que existia uma sala antiga de cinema que não estava sendo utilizada. Então veio a ideia de fazer uma programação neste espaço. Assim surgiu o projeto.

Dois anos de Espaço Cultura, o que já foi possível fazer por Imperatriz?

Se olhar para trás, há dois anos não havia a quantidade de coletivos, de grupos e bandas se movimentando como hoje. Sem pretensão alguma posso dizer que isso não se deve somente ao Espaço Cultura, mas tenho a consciência de que fizemos parte desse fomento de maneira significativa. Digo isso com base a todos os depoimentos que recebo de como o EC foi um estímulo que gerou parte de tudo isso. Falando de resultados, conseguimos estabelecer uma rede valiosa entre educadores, estudantes, artistas, profissionais de diversos segmentos e empresários locais que fazem do EC o que ele é hoje.

Atendemos comunidades e povoados da nossa região, onde o acesso a linguagens artísticas é mais limitado, levamos pessoas de todas as idades pela primeira vez ao cinema, por exemplo, isso pode parecer pouco importante, mas pergunte a cada uma destas pessoas sobre como foi tal experiência. Demos acesso, dignidade, participamos de outros coletivos ligados a instituições que trabalham em defesa das crianças e adolescentes, em defesa da mulher, do índio, do quilombola e fomos a comunidades carentes, contribuir de algum modo dentro de tais realidades.

Por que o Espaço Cultua é necessário para a cidade?

Todo fomento cultural, toda plataforma que visa incentivar o potencial artístico de uma cidade é importante e necessária. A cultura é uma esfera de influência, e nós entendemos isso como uma oportunidade de colaborar ativamente diante de problemáticas da sociedade, interligando grupos dos mais variados segmentos em prol de uma causa, estabelecer uma rede de solidariedade e comunicação entre a classe artística e a sociedade civil, além de estimular o potencial local, o que também estimula a economia e outros setores.

O EC se torna importante por tudo o que o coletivo é capaz de proporcionar através dessa plataforma, não pelo entretenimento que oferecemos até aqui, isso não é o nosso foco, mas a cidade pode continuar vivendo sem o Espaço Cultura.

Quais são os planos futuros do Espaço Cultura para a cidade?

Nesse momento estamos nos dedicando a construção do nosso novo espaço e da consolidação dos outros coletivos do Espaço Cultura que estamos formando nas cidades de Pedreiras, Barreirinhas, São Luís, Balsas e Carolina.