“O barato não precisa ser chinfrim”: entrevista com o criador do Curso de Inglês Acessível

Entrevista de Brenda Delmira Andrade e Thays Gabrielle Abreu

A ideia do professor Gabriel Costa Porto, 24 anos, em tornar o inglês mais acessível veio após perceber a necessidade dos universitários em aprender o idioma ao mesmo tempo em que não tinham como pagar o valor da mensalidade que era cobrado nas escolas.

Gabriel foi matriculado pelo pai em uma escola de idiomas com 13 anos de idade e com 16 anos, além do português, já falava inglês, espanhol e francês. A partir daí começou a trabalhar como professor e já trabalhou em três escolas de idiomas antes de abrir a sua. O professor já viajou para vários lugares, tais como Venezuela, Inglaterra, Espanha,Portugal, França, Itália, Alemanha, Holanda, Bélgica, Suíça e San Marino.

Enquanto trabalhava nessas escolas, cursava Direito na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e no décimo período o empresário precisava fazer o estágio requisitado pelo o curso, mas como o horário não batia com o da empresa, pediu para sair. Além disso, o professor diz que nunca se identificou com o curso e que não se sentia realizado, poiso seu prazer é ensinar, o que fez com que ele trancasse o curso para investir em um projeto informal que já se chamava Curso de Inglês Acessível (CIA).

Sabendo que apenas 1% da população brasileira fala inglês e tendo conhecimento da sua importância tanto na vida, quanto no ambiente universitário no qual o Gabriel estava imerso, de acordo com ele, seu objetivo era criar um projeto que fosse acessível e contemplasse as minorias, democratizando assim o idioma que antes era compreendido como uma língua apenas para pessoas de alta classe.“Não existe isso de inglês é para um público, inglês é para todo mundo”, destaca Gabriel. Dessa forma, o projeto passou a ser conhecido na cidade, já que tinha um valor mais em conta e uma metodologia de ensino que não era tradicional. Com isso, ao perceber o potencial que o projeto tinha e o desejo das pessoas em aprender, inaugurou a sua primeira sede própria em agosto de 2018, que na época já tinha em torno de 300 alunos. Atualmente, o CIA possui duas sedes e conta com cerca de 1500 alunos, o que fez com que se torne a escola de idiomas com maior número de alunos do Maranhão.

O Curso de Inglês Acessível tem a duração de três anos e é dividido em três módulos: básico, intermediário e avançado. Hoje a mensalidade é R$130,00 e o material já está incluso nesse valor, mas o empresário pretende diminuir ainda mais esse montante para que mais pessoas tenha acesso ao idioma. A única restrição que o curso possui é uma idade mínima de 14 anos.

Nesta entrevista trataremos do tema inglês. Perguntamos ao Gabriel como é possível administrar uma escola de idioma de qualidade por um preço considerado acessível, sobre a importância do inglês e porque falar esse idioma é um diferencial. O professor e empresário conta como pretende diminuir ainda mais o valor da mensalidade para alcançar mais pessoas. Ele também fala onde usar o inglês trabalhando em Imperatriz.

Imperatriz Notícias: Na página de divulgação do curso foi postado que você quer fazer no mercado de idiomas o mesmo que o Uber fez com os transportes: melhorar o serviço e diminuir o preço.  Em sua opinião, o valor da mensalidade atualmente, é realmente acessível para quem ganha um salário mínimo?

Gabriel Costa Porto:Acredito que sim, porém eu tenho casos práticos que a gente vê aqui na escola, de pessoas que ganham um salário mínimo e pagam com dificuldade. Às vezes me procuram e falam que vão parar e eu falo: não para, fica, a gente dá um jeito. E ajeitamos a pessoa. Então, existe ainda uma classe de pessoas que ganham um salário mínimo e aquele salário é comprometido, porque são mãe e pai de família. Sabe-se que tem gente que sobrevive com um salário mínimo, eu não sei como é possível, mas o brasileiro dá um jeito. O salário mínimo deveria ser R$ 3 mil. Para a gente poder alcançar essas pessoas, estamos com a ideia de tentar financiar o curso. A ideia é ajudar essas pessoas.

IN: Quais estratégias o senhor tem pensado para melhorar a qualidade do curso ao mesmo tempo que diminuir o preço?

GCP: Uma das coisas que a gente tem pensado é saltar para ser uma empresa 100% digital. A gente usa alguns aplicativos que não são nossos, mas estamos com o projeto bem avançado, queremos colocar em prática já esse ano, que é o desenvolvimento de um aplicativo próprio. Quando tivermos esse aplicativo não vamos mais estar produzindo material físico, o que vai diminuir os custos e eu posso baixar a mensalidade. Então temos essa ideia de um projeto inédito, uma plataforma que faça tudo e que seja entregue para o cliente no final de graça.

IN: Por que o senhor afirmou na página do Instagram do curso que muita gente não percebe a extrema importância do Inglês para a vida e que ousa afirmar que hoje saber inglês faz mais diferença do que ter um curso superior?

GCP: Porque hoje a realidade brasileira, é que 90% dos cursos superiores não são mais a garantia de 25 anos atrás. A pessoa, por exemplo, da década de 80 e 90, que se formava em Administração, em Letras, em História, em Direito etc., estava empregada, ela tinha retorno. Hoje por vários fatores, saturou o mercado. E até mesmo a sociedade, ela muda, e alguns cursos são prejudicados por isso. Quanta gente formada em Engenharia Civil que hoje ganha dinheiro com uma coisa que não tem nada a ver, gente fazendo Uber… Então eu pego esses fatos e confronto com outra estatística: apenas 1% dos brasileiros falam inglês. Isso significa que inglês é um diferencial, porque ao passo que ser formado em um curso superior não é mais um diferencial, por outro lado falar inglês é, e vai demorar de 50 a 100 anos para o Brasil chegar a um ponto em que 20% a 30% da população fala inglês. Então se você fala inglês hoje, você tem espaço nas empresas. E o nosso trabalho aqui não é só dar a oportunidade que muita gente não tinha, mas fomentar a necessidade, é fazer as pessoas perceberem que elas precisam do inglês.

IN: Onde usar o Inglês trabalhando em Imperatriz?

GCP: Empresas multinacionais e não multinacionais, que pedem também, escolas de idiomas e empresas de aviação. Além disso, muitas formações superiores, se você quer seguir um caminho acadêmico, você precisa de inglês.

IN: Em um vídeo postado na página do Facebook do curso, o senhor diz que trancou o curso de direito no 10º período. Isso tem alguma ligação com a diferença que há entre saber inglês e ter um curso superior?

GCP: Sim. Claro que muito da minha não identificação com o curso de Direito influencia, óbvio. Eu não sinto aquela vontade de voltar, só falta para mim a monografia. Poderia terminar, mas para eu ter parado aquele curso, apesar de ter feito quase 5 anos, e começado a trabalhar todo dia, manhã, tarde e noite, com o que eu amo, é como se tivesse quebrado uma algema da minha vida. Eu não me vejo retornando.

Eu vi no ambiente universitário, naquela efervescência universitária uma necessidade no que eu tinha para oferecer. Eu vi um público que estava faminto para aprender, que talvez se eu estivesse fora da universidade eu não tinha pensado nisso.

IN: O senhor se arrepende de ter trancado o curso depois de ter passado tanto tempo cursando Direito?

GCP: De forma alguma. Eu acredito muito que tudo que você faz na vida acaba tendo a sua influência, por mais que você não veja, há coisas que acontecem nessa trajetória que vem para o bem. Então durante minha vivência na universidade, eu conheci as pessoas certas. Eu conheci pessoas que acreditaram na minha ideia, que me incentivaram, que sonharam junto comigo. Eu vi no ambiente universitário, naquela efervescência universitária uma necessidade no que eu tinha para oferecer. Eu vi um público que estava faminto para aprender, que talvez se eu estivesse fora da universidade eu não tinha pensado nisso. O meu proveito não foi o que eu aprendi no curso, mas a minha vivência na universidade, o que eu aprendi com a universidade e não com o curso.

IN: Nas redes sociais, o senhor diz que o CIA tem a melhor estrutura da cidade, pelo melhor preço do mercado. Em sua opinião, o que diferencia o CIA das outras escolas de idiomas para ser considerada a melhor estrutura pelo melhor preço?

GCP: Quando a gente foi construir a segunda sede, a primeira também, mas tínhamos um orçamento limitado, eu pensei: se a ideia do meu formato de negócio é oferecer muita qualidade por um preço muito baixo, eu tinha que investir muito na estrutura. Durante o espaço de tempo entre a primeira sede e a segunda, foram 6 meses, praticamente tudo que ganhei eu investi tudo de novo. Tudo que um aluno precisa a gente tem aqui, todo o aparato tecnológico, as salas são muito bem equipadas, temos internet, espaço para descanso, nós investimos muito alto para que as pessoas se sintam confortáveis.  Esse espaço não é só para os alunos de inglês do CIA, quem não faz parte do CIA pode vir para cá, estudar, ler… Sem exagero e demagogia, eu já estive dentro de todas as escolas da cidade, tanto trabalhando, quanto visitando, e eu sei como é.

IN: Que imagem o senhor quer passar com a identidade visual que o CIA adotou?

GCP: A gente quer passar a ideia de que o barato não precisa ser chinfrim. Você pode pagar barato e ter um produto de muita qualidade. Eu quero que a pessoa entre aqui e sinta que não está mais em Imperatriz, ela está em um espaço internacional. Muita gente entra aqui desavisada, sem saber o que é o CIA, ver a placa e entra aqui, pede informações, e quando falamos o valor ela fica assim, não é possível. Porque ela olha e pensa que é o olho da cara. As pessoas olham e pensam que é uma coisa elitizada, mas não é.

IN: O Slogan do CIA diz que a metodologia é dinâmica e eficaz, que são dois adjetivos que não nos dão efetivamente uma noção de como é o ensino. O senhor poderia explicar como é essa metodologia?

GCP: Em nenhum momento durante a sua aprendizagem de português, seus pais se sentaram com você e te ensinaram a conjugar. Você ouviu, ouviu e ouviu, e veio naturalmente. Você teve uma imersão total e não teve outro idioma para traduzir e comparar. Dando um exemplo mais claro de como funciona: se você tem uma aula sobre alimentos em inglês, nós trazemos o banquete para a sala de aula, os alunos preparam a comida. Nós pegamos uma lista de supermercado e levamos os alunos para fazerem as compras tudo em inglês. O professor não fala em português e os alunos nem precisam ser advertidos no sentido de não falar português. Porque o ambiente é tão imersivo que ele se sente estranho em falar português dentro da sala de aula.  Então por mais limitado que aquele aluno seja porque sabe pouco, ele usa tudo o que está aprendendo e começa a se comunicar. Aqui a gente não oferece conteúdo, oferece linguagem.Nós simulamos o mesmo ambiente em que ela aprendeu o português lá atrás.

IN: Já que a metodologia de ensino é diferenciada, qual a quantidade de professores e como se dá o processo de seleção para escolhê-los?

GCP: Somos 11 professores. Da minha trajetória como professor, em uma dessas escolas em que eu dei aula, eu conheci uma pessoa que me ensinou dar aula de inglês, é o Junior Guerreiro. Em relação a conhecimento pedagógico e experiência em ensino de inglês, eu acredito que não tenha ninguém no Maranhão no nível dele, ele é realmente muito bom, muito preparado. Ele me ensinou a dar aula, tudo que eu sei de didática de ensino, claro que fui aprimorando, mas foi ele que me ensinou. Ele me treinou durante minha adolescência. Daí quando abri a escola eu lembrei dele, claro. A verdade é a seguinte: ninguém cresce sozinho, você precisa de pessoas boas para trabalhar com você, e precisa não só dividir o fardo, mas também dividir os ganhos.Então é ele quem treina todos os professores junto comigo.

IN: Em média, com quanto tempo uma pessoa que não tem nenhum conhecimento do inglês, pode falar de forma fluente?Em sua opinião, tem uma idade máxima para que a pessoa consiga aprender inglês?

GCP: Isso depende muito do que se entende como fluente. Para uma pessoa estar em um nível em que ela conversa tranquilamente e consegue falar sobre si, sobre seus hobbies, o que faz,  o que pensa sobre algo, ou seja, falar o básico e poder fazer uma viajem pra fora e não passar nenhum problema, essa pessoa precisa de 6 meses a 1 ano de contato, nesse ritmo de duas horas semanais que é o padrão de qualquer escola de idiomas. Eu tenho alunos aqui de mais de 70 anos de idade que acompanham turma com jovens de 40,30 e 20 anos. Claro que isso tem muito a ver com a forma que ensinamos aqui, porque se fosse ensinado de forma tradicional, com certeza eles teriam mais dificuldade. Mas com a forma que ensinamos aqui fica fácil, não há limites.

IN: Como diretor e criador do CIA, o que precisa e o que o senhor recomenda para alguém que quer aprender uma nova língua?

GCP: Primeiro você precisa mudar sua postura em relação à aprendizagem. Existe uma coisa que a gente chama de síndrome de academia. A pessoa começa um projeto com tudo, e quando chega no meio do caminho, ela desanima, porque faz uma coisa chamada auto sabotagem. Sempre há uma falta de tempo. A pessoa que quer aprender idioma tem que ser organizada, disciplinada e focada. Eu recomendo começar a pesquisar na internet, esse é o primeiro passo, e se você achar que não consegue sozinho procure uma escola de idiomas.