“Nua como a Lua”: entrevista com a escritora de poemas sensuais Adriana Moulin

Foto e texto: Gabriela Almeida

 

“Tem muito de como sentimos,vemos o mundo e as pessoas. Eu sou muito de sentir então, acabo escrevendo dessa forma.”

 

As palavras já tocavam Adriana Moulin, 55 anos, desde pequena quando começou a escrever. Foi assim que iniciou a trilha para o caminho daliteratura. Escolheu medicina como curso, chegou até a se pós-graduar na área, mas teve que abandonar a profissão. Hoje administradora, mas principalmente escritora, com dois livros publicados, viu em  “Nua como a lua” seu trabalho de maior destaque. Foi a obra que lhe garantiu uma cadeira na AcademiaImperatrizense de Letras. Um livro de poemas sensuais, onde a autora se despiu e permitiu a alma estar nua. Acabou por ousar na escrita e criou um próprio estilo “o da Lua”, como os confrades gostam de brincar.

Nasceu em Colatina, Espirito Santo, mudou-se há 25 anos para Imperatriz, época em que a família do marido comprou a empresa de viação Aparecida, então teve que abandonar tudo e acompanha-lo. Foi quando começou a exercer a área de administração e assim os plantões foram trocados por uma sala fechada, várias folhas de cálculo e o cuidado com os filhos.Exatamente nesse cenário que começou a ter tempo para desenvolver projetos antigos como os poemas que tanto gosta de escrever.

Já publicou dois livros, o primeiro “Para sempre o nosso Sol”, um livro de historias sobre seu pai. O segundo, “Nua como a Lua”.E logo irá publicar o novo livro, “Palavras e Hiatos”, onde pretende se despir mais, não apenas como mulher, mas em todos os aspectos de sua vida. “Encontrei uma nova forma de me despir, como disse. Também gosta de tocar piano, ama muito a música e estuda bastante sobre isso.

Na Academia de Letras é bastante respeitada pelos confrades, que gostam da forma como escreve. “Eles gostaram da minha forma de escrever, talvez da minha sinceridade na escrita, meu poema é leve, ele não é complicado, eu sinto assim”, Adriana conta. Durante as reuniões sempre esta envolvida, é possível ouvir as gargalhadas entre uma conversa e outra com os amigos.

Moulin ocupa a cadeira 18°, cuja patrona é Luzia Ayres de Carvalho Maranhão,. A seguir a entrevista com esta escritora, poeta, mãe, avó, esposa, mulher. :

 

Imperatriz Noticias – Por que escrever poemas tão sensuais?

Adriana Moulin de Alencar Pinto –Eu não sei te explicar,acho que isso é da natureza da pessoa, de como me vejo, de como sinto a vida. Acabamosnão colocando a gente no poema apesar de ter muito de nós. Tem muito de como sentimos,vemos o mundo e as pessoas. Eu sou muito de sentir então, acabo escrevendo dessa forma.

I.N- Você sofre algum preconceito por ser mulher e escrever poemas?

A.M.A.P- Preconceito não, mas acho curioso que as pessoas acreditam que sou muito ousada quando eu escrevo poemas daquele jeito. Já escutei varias vezes algo como“Nossa mais você teve muita coragem”, quer dizer que se eu fosse um homem eu não ouviria isso, mas por ser mulher eu já ouvi. Só que não me importo, pois eu escreveria até se eu fosse homem. Eles falam “Você tem muitos poemas femininos”, sim eu sou mulher, escrevo da minha ótica, aquilo que eu sinto aquilo, que vem. Não é uma coisa determinada e sendo mulher, vendo a vida, sentindo como mulher, acredito que é comum que alguns poemas sejam bastante femininos.

I.N – No livro, “Nua como a Lua”, o eu lírico fala de uma paixão avassaladora. Trata-se de um amor um pouco de usar e deixar ser usada, tal inspiração provêm do seu marido, com quem é casada a mais de 33 anos?

A.M.A.P – Eu sempre falo para ele“Olha eu sempre penso em você quando escrevo”, o curioso é que ele não gosta de poesia mas ele gosta das minhas, lê e acha legal mas não é o que o move. No entanto não deixa de ser minha inspiração

I.N- Por que escrever um livro como “Nua como a lua”?

A.M.A.P- Eu não sei. Naquela época que eu só escrevi, foram poemas de 2013 a 2015, selecionei muita coisa. Foi muito difícil escolher, é mais fácil escrever. Eu estava muito encantada com aquele tipo de assunto e como falei, não escrevo por encomenda, eu escrevo pela inspiração. E quando percebi não tinha titulo, não me dei conta que aquele livro tinha bastante sobre a lua e que me desnudava tanto. E o meu editor me ajudou a descobrir isso, “Olha você está desnuda”, então é nua como a Lua. Aí que vem o titulo.

“a palavra poetisa é mais bonita do que poeta, no entanto, parece que de certa forma é menos que um poeta. E o poeta não é homem nem mulher, ele é poeta”

I.N- Você pretende se despir mais nos próximos livros?

A.M.A.P- Eu só sei escrever assim, não tem outro jeito, se não for falando da minha verdade interior. Se eu quiser fazer um poema, dizer que vou fazer assim, não adianta. O poema ele vem e geralmente assim me desnudando, mostrando esse lado meu. Nesse novo livro tem esse lado mulher, mas tem o lado mãe, todos os lados, poemas de todas as formas.

I.N- Comparando o seu estilo de escrita com o da Academia de Letras, você sentiu deslocada a partir do momento que você ingressou, pelo estilo diferente dos seus poemas?

A.M.A.P-Não, porque eu nunca me baseei, sempre li muitos poetas. Eu nunca quis e nem consegui copiar nenhum. Sempre tive minha forma de escrever e procurei achar a minha veia, o meu rio. Nunca quis ser igual Clarice, Cora, Neruda, não. Eu admiro, mas eu tenho a minha forma. Penso que quando você lê um poema de uma pessoa, com o tempo você fala “Quem escreveu isso foi a Adriana”, um exemplo. É por aí, quanto mais você é fiel a sua escrita, a sua veia, é melhor. Cria um próprio estilo.

I.N-De onde veio esse desejo de ingressar para Academia de Letras?

A.M.A.P-É ate engraçado te falar, eu passava na frente da Academia de Letras , olhava e pensava “Nossa! Ali é para quem escreve bem, então esquece, nunca vai ser para mim”. Eu não terminava essa frase, mas claro que estava implícita no meu pensamento. Eu não vigiava isso, não ficava pensando que eu queria entrar para Academia de Letras, todo mundo que convive próximo a mimsabe disso. E naquele ano a eleição aconteceu para duas vagas, porque infelizmente foram dois confrades que se despediram da academia, próximo um do outro, que foi o João Rennôr a Neneca Mota. Não passou pela minha cabeça, só que uma pessoa da Academia, que viu o meu livro publicado em março e perguntou “Por que não se candidata?”.Nunca tive pretensão de entrar, vontade eu tinha, mas não pretensão, é diferente. Eu convidei os participantes da Academia ao lançamento do meu livro, e eu tinha dois medos: que eles não fossem e morria de medo que eles fossem. Quando eles chegaram, todos, eu falei “Meu Deus, o que é que eu faço?”,os conheci e alguns gostaram do meu livro. Foi assim que eu recebi o convite para me candidatar. Não queria, mas pensei a gente não pode perder o que e nunca tivemos, não tem como. Levei um dos meus livros, o de poemas. Queria mais saber se o que eu escrevia tinha algum valor. Muitas pessoas falavam “Amei o seu livro” “Adorei”, mas eu queria a opinião de quem considero ter condições de avaliar. E levei para me candidatar e estou aqui há dois anos.

I.N- Poeta ou poetisa?

A.M.A.P-Prefiro poeta, acho que não tem essa diferença. Eu sinto, posso estar até errada, porém a palavra poetisa é mais bonita do que poeta, no entanto, parece que de certa forma é menos que um poeta. E o poeta não é homem nem mulher, ele é poeta.

I.N- Como a relação dos seus filhos com o que você escreve? Eles gostam?

A.M.A.P-É para dizer a verdade. Então, não. Eles não gostam muito de ter uma mãe escritora. Não que não gostem do que escrevo, até gostam, porém eles não têm muita paciência para ler. Acham que o tempo que estou lendo e escrevendo, não estou com eles. Ainda hoje, na idade que estão ainda me cobram a presença. No meu caso, ficaria tão feliz se a minha mãe fosse uma escritora, uma poeta, tivesse livros publicados, no entanto falam a “Gente não”, quase em coro. “Você fica muito envolvida, com isso”, reclamam, principalmente com o novo livro quase pronto. A dedicação com ele foi muito grande, então quando você trabalha e tem outros afazeres, outros interesses, especialmente se possui interesse de publicar e escrever. O tempo que estava em casa ficavaenvolvida com isso. Eles cobravam minha presença e pediam que deixasse o livro.