“Não prometemos milagres”, diz instrutora do programa Aprendiz Legal em Imperatriz

"Entre as gerações, hoje a busca é maior, mais intensa. Temos mais vagas que antes, mas em compensação temos muito mais procura de adolescentes, de jovens de 14 anos querendo ingressar no mercado de trabalho"
“Entre as gerações, hoje a busca é maior, mais intensa. Temos mais vagas que antes, mas em compensação temos muito mais procura de adolescentes, de jovens de 14 anos querendo ingressar no mercado de trabalho”

Texto e fotos de Matheus Lopes dos Santos

Instrutora há 13 anos, Elvira de Nazaré Ribeiro de Oliveira, começou como estagiária do Centro de Integração Empresa-Escola por um ano e três meses desde 2002. Após o término de seu contrato logo em seguida foi efetivada como funcionária do CIEE. Na época, a vaga divulgada nas universidades UEMA e UFMA, disponibilizava uma chance única para ser a primeira funcionária a administrar o posto CIEE de Imperatriz, um desafio que exigiu atitude, proatividade e trouxe muitos aprendizados. “É algo muito prazeroso porque você passa a ser testemunha de histórias de vida de pessoas que sonhavam e que realizaram os seus sonhos”, diz Elvira rememorando os momentos que presenciou em seus quatorze anos de história como funcionária da empresa.

Antes de 2007 o CIEE oferecia apenas vagas de estágio, com o surgimento do programa Aprendiz Legal em parceria com a Fundação Roberto Marinho o foco passou a ser o público jovem que pretende ingressar no mercado de trabalho e ter a sua primeira experiência de emprego. “Na primeira turma do CIEE nós tínhamos poucos aprendizes, eram 13 e ao longo dos meses foi para 35, mas nós iniciamos com poucos aprendizes”, conta Elvira quando o programa de aprendizagem chegou em Imperatriz.

Para a instrutora, os jovens amadurecem quando lhes é concedido uma oportunidade e passam a mudar suas expectativas em relação a carreira profissional. “Os jovens são muito penalizados de que não quer nada com a vida, e quando consegue uma vaga no mercado de trabalho, a gente vê que é totalmente diferente”, diz Elvira emocionada ao avaliar a perspectiva que se tem dos jovens atualmente.

 

IN: Na época em que o programa veio para Imperatriz, em 2012, como foi a receptividade do programa pelas empresas?

EN: Foi muito difícil, porque trabalhávamos com estágio e o estágio não tem vínculo empregatício. Com o programa de aprendizagem, o aprendiz tem que ter a carteira assinada. E as empresas não nos procuravam para contratar, tanto é que nossos primeiros aprendizes foram devido a convênio nacional, como a TAM, agora Latam, o Banco do Brasil e a Gol. O CIEE trouxe o programa pela necessidade que essas empresas com convênio nacional tiveram.

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IN: Comparando aquela época aos dias atuais, você percebeu alguma diferença entre as gerações?

EN: Naquela época os jovens não nos procuravam para cadastrar, porque o programa era muito restrito, pois não tinha tanta divulgação. Então, quando surgia uma vaga do Banco do Brasil, por exemplo, íamos até as escolas e divulgávamos essa vaga. Entre as gerações, hoje a busca é maior, mais intensa. Temos mais vagas que antes, mas em compensação temos muito mais procura de adolescentes, de jovens de 14 anos querendo ingressar no mercado de trabalho, mas infelizmente são poucas as empresas que aderiram ao programa aprendiz. Até mesmo por estarmos passando por um momento de crise atualmente. Quando se diminui a quantidade de funcionários, diminui-se também a quantidade de aprendiz. Tem uma cota e quem faz o cálculo é o Ministério do Trabalho.

 

IN: De acordo com o Manual de Aprendizagem, para haver a contratação de aprendizes uma empresa precisa de uma quantidade mínima de sete funcionários. Com o mercado diversificado em Imperatriz, há dúvidas de empresas em relação ao contrato?

EN: Quando a empresa nos busca para contratar o aprendiz, ela já está certa do que quer. Se a empresa nos busca é porque já foi notificada através do Ministério do Trabalho quando tem uma cota que precisa ser cumprida. As dúvidas que tiramos é em relação se a empresa quer o jovem de quatro horas ou de seis horas. E então explicamos a diferença que o jovem de seis horas é porque concluiu o ensino médio, e o jovem de quatro horas é porque ainda estuda e não pode ficar as seis horas. Também achamos interessante que tem empresas pequenas com poucos funcionários que nunca foram notificadas pelo Ministério do Trabalho, ou seja, não é obrigada a cumprir e quer dar oportunidade ao jovem, e isso nos surpreende mais. Porque ela não está vendo o custo, mas que está beneficiando, ajudando o jovem, e isso acontece em Imperatriz.

 

IN: Vezes aqui e ali nos deparamos com anúncios e panfletos pelas ruas, que prometem oportunidades de trabalho após o término de algum curso ou fazendo um cadastro. E para isso é preciso ter certo cuidado, porque pode ocorrer de cair em fraudes. Que dicas você daria aos jovens para evitar esse tipo de golpe?

EN: Até os nossos aprendizes comentam que têm empresas se aproveitando, que vão às escolas e fazem essas divulgações. Primeiro, é verificar onde está localizado o prédio dessa empresa. Procurar na internet onde surgiu essa empresa, para ver se é uma empresa séria, e saber do proprietário. E pelo momento que estamos passando tem muita gente se aproveitando também. Então é pesquisar, porque hoje as redes sociais e a internet estão acessíveis a todos, então é pesquisar o nome da empresa, do proprietário para ver se de fato é uma empresa séria. Até porque não prometemos milagres. Quando os jovens vêm aqui somos realistas: você vai ficar no banco de dados do CIEE e vai concorrer com vários candidatos. Claro que o CIEE queria poder inserir todos no mercado de trabalho, mas a gente sabe da atual realidade que estamos vivendo.

 

IN: E depois que ocorre a contratação, existe algum tipo de preconceito entre funcionário e aprendiz por causa da hierarquia?

EN: Eu creio que quando a empresa contrata, esse aprendiz vai oxigenar aquela empresa. E isso desperta ciúmes naquele funcionário que já está desmotivado, e esse aprendiz vai querendo aprender, até porque passamos essa informação deles buscarem melhorar enquanto profissional e valorizar a oportunidade. Eu creio que isso às vezes incomoda aquele funcionário que está acomodado, incomoda porque o aprendiz leva um ar novo. Temos aprendizes sendo efetivados em empresas locais, como o Hospital das Clínicas e o Grupo Jorge e Batista. O que quer dizer que o programa foi tão bom que deu resultado.

 

IN: Nas situações em que ocorre esse problema entre funcionário e aprendiz, que atitude o aprendiz pode tomar?

EN: Acompanhamos os aprendizes orientando para que não entrem em panelinhas, que não participem de grupos de fofocas até porque estão começando a carreira profissional. E aqui dentro do CIEE damos muitas dicas de como saber lidar com as provocações e ter equilíbrio emocional. Mas os nossos aprendizes são muito bem acolhidos dentro das empresas. A nossa maior preocupação está em fazer o acompanhamento de saber como estão dentro da empresa, principalmente com os menores de idade, seja por supervisão imediata deles e às vezes chamando o aprendiz para saber como está o ambiente. Quase não temos esse tipo de problema, e quando tem passamos as orientações para não bater de frente e tentar conquistar o respeito daquele profissional, mostrar que não está ali para tomar vaga mas para adquirir conhecimento, de que aquela oportunidade é única na vida dele e dali vai ver o funcionário como exemplo em que vai se espelhar enquanto pessoa e profissional também.

 

IN: Aos jovens interessados em ingressar no mercado de trabalho e ter a sua primeira experiência, qual o primeiro passo deve ser tomado nessa jornada?

EN: O primeiro passo é ter seus documentos em mãos. Identidade, CPF e carteira de trabalho, são obrigatórios. Tem empresas, como as públicas que dão oportunidade para os melhores alunos. E outro passo é procurar buscar, pois hoje estamos em uma geração que tem acesso às redes sociais, mas que não está usando essas redes a seu benefício. Hoje passamos a dizer que não tem mais desculpas. Muitos estudantes fazem seu cadastro no site do CIEE. Então é ter seus documentos em mãos e preparar o currículo com os dados atualizados. O jovem pode vir também ao CIEE se cadastrar.

O programa Jovem Aprendiz é de 14 até 24 anos para quem nunca trabalhou de carteira assinada e não está cursando o nível superior. A prioridade é para quem está estudando ou para quem já concluiu o ensino médio, mas que ainda não ingressou na faculdade, até porque são pessoas com maior dificuldade para ingressar no mercado.

Nós temos atualmente em torno de 197 aprendizes, contando com os EaD’s, porque o CIEE também trabalha com programa aprendiz de Educação à Distância, que em vez do aprendiz vir fazer a capacitação no estabelecimento, fazem através da plataforma do CIEE. As instituições de ensino como são escolas públicas abraçam essa causa, e a própria escola libera o computador para que tenham acesso a plataforma e fazer o curso online à distância.

 

IN: As empresas buscam algum perfil de aprendiz?

EN: Não, elas não traçam um perfil. Geralmente a empresa quer jovens comunicativos, a comunicação é tudo no mercado de trabalho. Então algumas nos pedem que o jovem tenha uma boa comunicação, outras, como órgãos públicos, preferem dar oportunidade para jovens oriundos de baixa renda ou que tenham boas notas.

 

IN: Quais são as atividades que o jovem desenvolve no CIEE?

EN: Os jovens vêm participar das capacitações teóricas, onde tem a oportunidade de participar do que se entende por oficinas. Desenvolvendo o protagonismo juvenil, que o jovem pode estar à frente e não precisa esperar pelos órgãos públicos, que tem que participar da sociedade, a autoestima, porquê quando vemos que um jovem não tem autoestima ele não consegue desenvolver um bom trabalho na empresa. Também o jovem se fazer presente, participando e falando o que pensa.

 

IN: Que contribuições o programa Aprendiz Legal, e esses jovens que estão no mercado, trouxeram para a cidade, mercado de trabalho e sociedade?

EN: A nossa maior felicidade é chegar em uma empresa e ver pessoas que estão no RH que já foram nossos aprendizes um dia, é chegar em uma empresa multinacional e saber que aquela pessoa em determinado setor, um dia foi um sonhador, que não tinha expectativa nenhuma de entrar no mercado de trabalho e conseguiu uma oportunidade como jovem aprendiz, mas que também se tornou um profissional e seguiu carreira dentro daquela empresa. Os jovens são muito penalizados de que não quer nada com a vida, e quando consegue uma vaga no mercado de trabalho, a gente vê que é totalmente diferente. O programa beneficiou nesses âmbitos. Em Imperatriz há vários jovens que não tinham sonhos, que não tinham foco e hoje estão seguindo carreira, outros estão fazendo faculdade e chegavam me dizendo que sonhar em fazer faculdade é só para filho de rico. São pessoas que passaram a acreditar em seus sonhos e a seguir os seus sonhos depois que entraram no CIEE.

É claro também que também iremos elaborar mais ações com esses jovens, como o mês do outubro rosa, onde eles foram para as ruas e abordaram mulheres, homens e falando da importância de se cuidar de sua saúde e de se prevenir. Queremos usar mais ações em Imperatriz, como um projeto previsto para janeiro ou fevereiro de 2017, que é cada jovem adotar uma árvore, porque não podemos esperar só do órgão público e o jovem precisa ter atitude. Temos que amar nossa cidade, e amar é cuidar, é zelar, para isso temos que arregaçar as mangas e ir mesmo. Agora em dezembro estamos arrecadando roupas, brinquedos e alimentos para doarmos a pessoas de baixa renda.

O Centro de Integração Empresa-Escola fica localizado entre as ruas Godofredo Viana e Coronel Manoel Bandeira na Avenida Dorgival Pinheiro de Sousa, 376 – Centro. De segunda a sexta é aberto a partir das 8 horas da manhã e encerra às 17 horas da tarde.
Telefone para contato: (99) 3524-3064
Site: www.ciee.org.br