“Não foi sonho e nem pesadelo, foi um desafio”, comenta jornalista Mônica Brandão, um ano após ter deixado a TV Mirante

 

“’Não há nada que eu queria que acontecesse e não aconteceu’’

 

Texto de Gabriella Alves e Hugo Oliveira

Fotos Hugo Oliveira e arquivo pessoal

A jornalista e agora professora universitária Mônica Brandão conta em uma entrevista exclusiva ao Imperatriz Notícias o que motivou a sua saída, após sete anos dedicados a TV Mirante em Imperatriz para assumir integralmente a carreira de docente. Ela que antes trabalhou durante 14 anos na área de telejornalismo, passou por três principais veículos de comunicação imperatrizense, como nas afiliadas da Rede Vida, SBT e Rede Globo e decidiu sair das telinhas em novembro de 2017.

Mônica Barbosa Brandão, conhecida como apenas Mônica Brandão tem 28 anos, nasceu em Imperatriz no Maranhão, é casada há nove anos com o locutor de rádio Jan Ricardo. O seu último trabalho foi na TV Mirante afiliada à Globo, onde atuou como apresentadora, repórter e editora chefe nos principais telejornais da casa como ‘’Bom Dia Mirante’’ e ‘’JMTV 1° edição’’ além disso, foi chefe de reportagem.

Formada em Comunicação Social – Jornalismo na Universidade Federal do Maranhão – UFMA, campus Imperatriz em 2013. Mônica sempre sonhou em ser jornalista e professora. “Nunca tive outra opção nem quando eu era criança, não sei explicar como veio esse desejo”, relembra a jornalista. No seu momento atual, é mestranda em Gestão e Desenvolvimento Regional na Universidade de Taubaté em São Paulo.

Para Mônica Brandão “o jornalismo é uma carreira para vida toda”, declara a professora. Inclusive conta que pretende continuar com a carreira jornalística em sala de aula e que deseja ser professora de jornalismo, ela confessa que apesar de estar apenas no começo sabe a noção do que precisa construir esse caminho para chegar lá, inclusive ressalva que não descarta voltar para TV, mas não quer dizer que vá voltar.

Atualmente, Mônica trabalha como professora em uma universidade privada, é palestrante e instrutora de cursos nas áreas de Gestão de Pessoas e Comunicação no Instituto Euvaldo Lodi – IEL, em Imperatriz e região. Em uma conversa descontraída, ela conta sobre os últimos anos na televisão, como está sendo o primeiro ano fora do telejornalismo, quais os passos percorridos e como foi a experiência em trabalhar em uma afiliada Globo. Confira!

 

Imperatriz Notícias – Em janeiro de 2017, os funcionários da TV Mirante Imperatriz fizeram uma paralisação por diversos motivos, na época você chegou a ficar na apresentação dos três telejornais locais como: Bom dia Mirante, JMTV 1° e 2° edição. Por que você não aderiu a greve na época?

Mônica Brandão – Antes da greve começar já tinha decidido sair da TV em 2013 para 2014, então já tinha um tempo que tinha decidido sair, mas precisava organizar algumas coisas, a greve foi um dos fatos que me fizeram pensar assim: “pronto, agora eu posso ir em paz”. Na TV tinha um cargo de liderança como chefe de reportagem, um cargo numa empresa de comunicação que o seu trabalho não é só produzir noticia, você acaba se envolvendo em questões que não são apenas jornalísticas, mas administrativas também. Eu não aderi a greve por esse motivo, pois, tinha compromisso com a empresa. A greve era justa e legitima, mas o meu posicionamento e decidi que o melhor não era ficar do lado da empresa, mas manter a empresa funcionando, porque tinha compromisso com isso e havia um acordo contratual que precisava cumprir.

I.N – Como foi essa experiência pra você ficar à frente dos três telejornais durante a greve? 

M.B – Para mim, foi uma época da minha vida que precisava viver aquilo. Não foi sacrifício fazer os três telejornais muito pelo contrário foi uma maravilha, foi um período que eu entrava na TV de madrugada e saía de madrugada, achava o máximo, porque sai completamente da zona de conforto e adoro isso. Com toda tensão do movimento grevista era legitimo e tinha que acontecer, tinha que estar na posição que estava e adorei o desafio.

I.N – Para alguns trabalhar na Globo é um sonho e outros é um pesadelo, por conta da linha editorial do veículo. Como você lidou com isso?

M.B – Nunca foi um sonho e nem pesadelo, aconteceu. Logo que entrei na universidade pouco tempo depois veio o convite para trabalhar na TV Mirante, não foi algo que pudesse ter alimentado como por exemplo ‘’agora tenho que ir pra Mirante’’ ou ‘’ agora tenho que ir trabalhar lá’’, não deu tempo de isso acontecer, simplesmente me veio o convite e tudo aconteceu, não teve planejamento que isso fosse acontecer, mas como eu adoro esse tipo de desafio foi muito bom, vivi na TV Mirante tudo aquilo que queria viver, não há nada que queria que acontecesse e não aconteceu, tudo que aconteceu foi maravilhoso difícil muita coisa, outras coisas foram mais fáceis. Então, não foi nenhum sonho e nem pesadelo, mas foi um desafio.

I.N – Como aconteceu de você trabalhar na TV Mirante? 

“Vivi na TV Mirante tudo aquilo que queria viver”

M.B – Foi um dia que estava fazendo prova do professor Marcos Fábio e meu celular não parava de tocar, quando terminou de tocar era um número que eu não conhecia, lembro que fui no orelhão para retornar, quando atenderam era da TV Mirante, me identifiquei e veio o convite para conversar. Lembro que nesse mesmo dia sai da UFMA e fui direto para lá, tinha 21 anos na época e da conversa me sugeriram alguns testes, fiz e passei. Quando entrei na Mirante comecei como repórter, com dois meses assumi o ‘’Bom Dia Mirante’’, com quatro meses assumi a editoria geral e virei editora chefe do ‘’Bom Dia’’ além de apresentadora e no primeiro ano de TV me tornei chefe de reportagem, então foi muito rápido, não deu tempo de planejar que isso fosse acontecer, foi um período muito desafiador e muito bom.

I.N – Você trabalhou durante sete anos numa afiliada Globo, por ser uma afiliada Globo sempre ouvimos falar sobre várias coisas como linhas editoriais etc., nesta parte você se sentia tolhida como jornalista?

M.B –Não, de jeito nenhum. Existe uma linha editorial obviamente, mas como trabalhava lá diretamente com a produção da notícia, nesse processo eu nunca achei que algo que a gente planejasse tivesse sido cortado, talvez a minha cabeça já funcionava de acordo com a linha editorial, mas sinceramente nunca fui impedida de fazer algo, tínhamos reuniões de pautas diariamente três vezes por dia e as pautas discutidas sempre eram feitas.

I.N – Quais motivos levou você a deixar a TV Mirante em novembro de 2017?

M.B – Quando terminei a graduação já tinha uns 10 anos de TV, olhei pro meu marido e disse “está na hora de começar a construir outro caminho”, foi exatamente assim. Foi um dia que a gente estava voltando de férias e no meio da estrada paramos o carro e eu falei pra ele “a gente está voltando e eu vou começar a construir o caminho de saída da TV ”, depois desse dia, comecei fazer especializações lato sensu, pois, não tinha como fazer mestrado aqui e não tinha como fazer um particular, a TV não me deu essa possibilidade de estudar, foi por isso um dos motivos do pedido de demissão, eles não me deram a possibilidade de estudar e nada ia me fazer esquecer disso.

I.N – Como você sentiu essa necessidade de trocar o telejornalismo pela área de docência? 

“Na verdade sempre soube que ia ser professora, sempre quis ser professora desde a minha vida toda”

M.B – Na verdade sempre soube que ia ser professora, sempre quis ser professora desde a minha vida toda. Quando era criança se você me perguntasse o que queria ser, eu queria ser jornalista e professora. Na época não tinha curso de jornalismo em Imperatriz e não tinha como ir embora, mas já dizia isso, sempre dei aula de reforço a vida inteira, então sempre acreditei muito na educação. Na verdade, só acredito na educação, não acredito em outra coisa na minha vida, ou você vai pela educação ou você não vai. Então, é o que acredito. Acredito na educação e a vida da minha família mudou pela educação.

I.N – Por ser uma profissão que exige uma proximidade com as fontes, o fato de ser mulher já dificultou em algum momento?

M.B – Sim, em alguns momentos, principalmente quando era mais nova, na Mirante nunca tive problemas porque quando cheguei lá, porque de certa forma as fontes oficiais pelo menos já me conheciam da TV Anajás – Rede Vida, na época tinha 14 anos, aos 17 fui trabalhar na TV Difusora – SBT e tempos depois TV Mirante – Globo , assim não tive interrupções. Quando sai de uma emissora pra outra as fontes já me conheciam como os delegados, promotores e o público de certa forma me conheciam um pouco, então na TV Mirante não tive muitos problemas.

I.N – Já teve alguma situação constrangedora/engraçada que passou durante as gravações?

M.B – Tive muitos fatos, desde estar ao vivo e alguém chegar abraçando, isso já aconteceu muito, tipo, estar ao vivo em um posto de saúde e vem alguém e abraça no meio do vivo, isso aconteceu muito, achava divertidíssimo nunca interrompi um vivo por causa disso, muito pelo contrário. Tem uma outra situação que virou meme até hoje, foi uma vez na época dos problemas do transporte público, acho que foi em 2012. Estava na praça Brasil, tinha saído do estúdio do ‘’Bom Dia Mirante’’, fui para a praça Brasil fazer o vivo. Quando cheguei lá, tinha um senhor que estava esperando o ônibus, conversei com ele e aceitou dar entrevista sobre a demora dos ônibus, entrei ao vivo e o senhor ficou um pouco distante porque eu ia andar até ele pra entrevista-lo, quando olhei e pensei: ‘’cadê o homem?!’’, o ônibus dele tinha passado e ele tinha corrido atrás, (risos). Essa foi uma situação que até hoje rola na internet, as pessoas ainda riem da minha cara por causa disso.

I.N – Qual foi a reportagem mais desafiadora de fazer?

M.B – A mais desafiadora eu registro muito dos últimos anos na TV, as coberturas sobre o incêndio na terra indígena Araribóia, foram grandes incêndios nos últimos três anos, que ganharam projeção nacional e até internacional. Eles foram muito desafiadores não por serem coberturas nacionais, mas pelos locais. A gente tinha que ir de helicóptero para locais que não tinha como descer, a gente descia em cordas, por exemplo, pra ficar no meio da floresta até terminar de fazer tudo e dar um sinal pro helicóptero descer e a gente subir de novo. Então, tive que passar por isso ficando no meio do mato durante dois dias com a comida que tinha na bolsa pra poder conseguir fazer essas coberturas. A gente saía daqui sem saber o que ia acontecer e sempre voltávamos com muito material, era um prazer que eu dizia que dinheiro no mundo nunca ia pagar o prazer de conseguir colocar aquilo no ar, então era maravilhoso e eu adorava, era uns momentos de maior realização no jornalismo.