“Não existia sandália bonita e barata”: Entrevista com a proprietária da Loja Rasteiríssima

                                                          Texto: Alayres Souza

                                                           Fotos: Alayres Souza e Renatta Fabricante

 

A Rasteiríssima é temática e genuinamente Imperatrizense. O negócio foi se desenvolvendo e hoje já são três lojas aqui em Imperatriz, uma em Açailândia, Castanhal, Parauapebas e recentemente em São Luís. “Um grande presente de Deus”, comenta a empresária sobre o sucesso do negócio.  A Rasteiríssima teve a marca Havaianas como grande fonte de inspiração no seu processo de desenvolvimento. Mais tarde com a empresa a todo vapor surgiram as campanhas e, uma das que mais se destacaram foi a “você é linda sim”, fez bastante sucesso. Ela fala o quanto se sente grata por ter contribuído de alguma forma na vida de muitas mulheres. A campanha destaca a beleza, que toda mulher é linda.

Em relação a planos para um futuro próximo, conta que pretende em breve, ainda sem data definida, tornar as Rasteiríssimas em franquias. O projeto inicial é abranger todas as capitais do Nordeste. Por ter um clima favorável, bem cara de verão mesmo. “As pessoas sempre optam por um calçado mais básico e confortável”, declara. Raab garante que oferece essa opção para seus clientes “Trouxemos um produto muito bom, com designer moderno e por um preço acessível”, nosso custo benefício é o melhor do mercado”.  Enfatizou ainda, que houve um período em que as Havaianas tinha uma imagem ligada à classe trabalhadora de baixa renda e assim, passou a ser um item em que usá-lo era bem vergonhoso. No entanto, a marca conseguiu se reinventar de uma maneira que ninguém mais tinha esse preconceito, do mais pobre ao mais rico, todos passaram usar. E o que alavancou o sucesso desse novo modo de ver as havaianas, foi o preço, considerado um “Plus”, que não a vinculava com nenhuma classe.

Formada em Direito na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), chegou a trabalhar três anos como advogada. Conta que quando foi pra entrar na Universidade foi tipo, segue o fluxo.  Entrou na vibe dos jovens que saem do Ensino Médio e anseiam em ir direto para o Ensino Superior. Tanto por ansiedade como culturalmente imposto pelos pais. Confessa que não quis abrir mão de ter conseguido uma vaga na Federal, “Foi uma conquista passar na Universidade, mas se tivesse mais maturidade na época teria acertado mais”. Nessa entrevista Raab Brilhante fala sobre sua vida, negócio e projetos futuros.  No meio do caos e da correria que é transformar ideia de um negócio em realidade, a empreendedora dar dicas para os que desejam alcançar o sonho de empreender.

 

Imperatriz Notícias:  De quem foi a ideia de abrir a loja com esse tipo de produto? Teve influência de alguém ou partiu apenas de você?

Raab Brilhante:  Empreender no ramo de sandálias, foi uma carta jogada por meu irmão. Estávamos conversando em família e ele lançou a ideia crua. – Ah porque você não abre uma loja de rasteiras? Achei legal. E com o passar do tempo desenvolvi o projeto e coloquei em prática. Toda a ideia do nome da loja, slogan,preço, como ficaria exposição, foi eu quem elaborei para virar o que a loja é hoje.

IN: Em Que momento o projeto de criar esse negócio saiu do papel?

RB: Na verdade, foi um conjunto de fatores. Eu sempre tive uma mente bem empreendedora, todo dia sonhava em empreender algo, mas não tinha capital. Foi aí que decidi alugar minha casa pra Suzano, e durante um tempo guardei o dinheiro para abrir um negócio. Depois, meus pais estavam passando por uma crise financeira e minha mãe passou a sofrer muito com isso, porque ela ajudava meu pai e ele não tinha mais uma renda fixa. Meu marido passou em um concurso e eu estava indo embora, mas não podia deixar minha mãe desassistida. Daí disse que ia abrir um negócio para ela ir tocando, e quando eu voltasse virava sócia dela. E assim foi.

IN: Em 2017, você fez uma postagem de como a Havaianas se reergueu. Então, podemos   considerar que de fato as havaianas foi um referencial para você?

RB: Com certeza. A havaianas teve um posicionamento de marca incrível. Chegou um momento em que a marca se reinventou de forma que ninguém mais sentia vergonha ou até mesmo preconceito com a sandália. Todos passaram a usar sem receio. E isso não a vinculava com uma classe específica.

IN: Mas você fez um processo diferente, usou a loja temática, pegou um produto que de certa forma foi ficando caro e tornou popular. Não é isso?

RB: Mais ou menos. O que aconteceu foi que sempre existiu sandálias baratas e feias assim como, sandálias caras e bonitas. O que não existia era uma sandália que fosse bonita e barata, pelo menos não era fácil de achar por um preço bom. Então eu trouxe, um produto muito bom, e não posso ser modesta nisso (risos), com um designer moderno, de bom gosto, por um preço acessível. Posso sim afirmar, que o nosso custo benefício é o melhor do mercado.

IN: E usar rasteira, já fazia parte da sua vida?

RB: Então, já. Desde a gravidez já era assim.  Me identifiquei muito na época quando surgiu a ideia da loja, porque tinha acabado de me tornar mãe. E eu saia com bebê no colo, bolsa e na correria o salto não funcionava mais. Então acabei me acostumando com essa praticidade e com o conforto que temos com relação aos pés. A gente deixa de se sacrificar para priorizar o conforto. Isso acabou sendo uma coisa que bateu em cheio com a realidade que eu estava vivendo.

IN: Então, sabemos que você fez um curso em designer de calçados, fora do Brasil. Como foi a experiência e de que forma tem contribuído na sua marca?

RB: Bom, o curso de designer me tirou do nível de amadora para um nível profissional. Antes eu fazia todo o processo de forma amadora mesmo, essa é a palavra. Não que faltasse qualidade. Mas, hoje tenho uma visão mais segura do que estou fazendo, me sinto mais confiante e pronta, bem mais.

“Eu sempre tive uma mente bem empreendedora, todo dia sonhava em empreender algo, mas não tinha capital”

IN: A Rasteiríssima é sucesso de vendas pelo preço que os produtos são oferecidos e pelas campanhas que tem tomado grandes dimensões. O que te inspira pra fazer essas campanhas? Como é esse processo?

RB: É um processo que surge muito da observação. Até gostaria de ser mais técnica nisso, mas não sou. É muito sentimental tudo isso que vamos vivendo. O que a gente repassa de campanha são valores que de fato me tocaram. A campanha “você é linda sim” surgiu de forma muito natural e por coincidência era dia da mulher. Foi impressionante o impacto que a gente causou, recebemos muitos depoimentos. Me senti muito grata por ter contribuído na vida de muitas mulheres. A outra procuramos trazer o valor do natal, não como um natal consumista. Mas em que as pessoas fossem chamadas a reflexão do que de fato é o natal. Muitas vezes falamos tanto do sentido do natal, porém somos muito comercial e isso acaba sendo hipocrisia. Não que eu não queira vender, quero vender comercialmente falando. Mas existe algo muito precioso que não podemos perder, que é o sentimento de que existem valores na vida, no natal, nas relações.

IN: Quanto ao crescimento da empresa, como se deu? E qual pretensão para tornar as lojas rasteiríssimas em franquias?

RB: Foi acontecendo, a gente foi abrindo. São lojas próprias. Mês passado iniciamos com o processo de franquiar a marca, é algo que sonhávamos e as pessoas perguntavam muito. É um processo que leva de 6 a 8 meses. Queremos ter várias rasteiríssimas pelo país, de uma maneira mais rápida. Mas, nossa pretensão inicial é ter franquias nas capitais do Nordeste. Começar pelas capitais.

IN:  Você não tem fábrica própria. Tem desejo de abrir?

RB: Não. Eu pensava antes. Hoje o caminho é bem inverso, tem marcas que têm fábricas próprias, estão deixando de ter. Pois são duas coisas para se preocupar. O que a gente tem hoje é todo o designer e o processo de produção na nossa mão. Então temos desde o designer, até a participação na compra do solado, na compra dos outros materiais e enfeites. Para mim isso é a parte mais importante de tudo. O curso de designer desmistificou muitas coisas, na minha viagem para Itália visitei muitas fábricas das maiores marcas do mundo e são fábricas em que na mesma esteira passava produtos da Luis Vitton, Gucci, Chanel e tem vários designers que ficam um do lado outro, de marcas diferentes. Aqui no Brasil o processo é bem parecido também.

IN: Você acha que controla a qualidade do teu produto, mesmo sem ter a produção nas mãos?

RB:O que é que tudo que é feito por pessoas, existe uma margem de erro. Eu estando diretamente envolvida ou não nesse processo a margem de erro é a mesma. O que a gente tenta e faz é estar acompanhando para garantir qualidade. Não muda muita coisa se a fábrica for minha ou não. Mas é um processo complexo e que muita gente não entende, por muitas vezes prefiro nem abrir sobre isso. As pessoas têm muito isso mistificado, acham que se o produto for de fábrica própria será mais barato. Ou que o controle seria maior.  A questão é, quando acontece de um produto dar problema, já é condenado tudo. Já volta logo. Somos parceiros. Na verdade pra mim a grande diferença é não ter tudo, todas as questões de uma fábrica para me preocupar.

IN: Qual o conselho às pessoas que desejam se tornar empreendedores? Tem algum?

RB: Tenho. Faça o que você ama, use o seu melhor talento. Pois você deve contribuir com a sociedade com o que você faz de melhor. E entenda que mais do que ganhar dinheiro, que é maravilhoso e muito bom, existe uma parte que é o serviço às pessoas. Esteja atento, não queira arrumar cliente para seu produto, e sim, arrumar o seu produto para o cliente. Você não precisa inventar coisas para enfiar nas pessoas, só estar atento às necessidades. O empreendedor precisa resolver o problema das pessoas e assim,  surgem muitas oportunidades que podem ser rentáveis.

 

 

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