Entrevista com coordenadora do PET: Grupos de pesquisa e extensão proporcionam uma formação diferenciada aos estudantes de Ensino Superior

Texto e fotos de Regilson Borges

O Programa de Educação Tutorial (PET) – Conexões de Saberes é um grupo que reúne estudantes de graduação e tem a supervisão de um docente, chamado de Tutor. Os estudantes, designados de “Petianos”, desenvolvem atividades de pesquisa e extensão de acordo com a sua área do conhecimento. É assim que o grupo reafirma a consolidação do tripé acadêmico do Ensino, Pesquisa e Extensão. O PET é destinado aos alunos de origem popular e tem como objetivo a permanência dos estudantes no ambiente acadêmico. Na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) existem 11 grupos assim na capital São Luís, e divididos entre Balsas, Bacabal e Imperatriz. No Brasil são 842 grupos espalhados em 121 Instituições de Ensino Superior (IES).

Em Imperatriz, quem é responsável pelo grupo PET é a professora do curso de Engenharia de Alimentos, doutora em Engenharia Química, Adriana Crispim. Ela coordena um grupo de 22 acadêmicos de vários cursos da UFMA: Engenharia de Alimentos, Jornalismo, Direito, Enfermagem, Medicina e Ciências Contábeis. Na entrevista, a educadora esclarece do diferencial que cada acadêmico adquire ao participar de grupos como o PET, tanto na vida universitária como profissional.

Oriunda do interior do Ceará, Adriana Crispim cursou a graduação, mestrado e doutorado na Universidade Federal do Ceará (UFCE). Até chegar ao elevado grau acadêmico, com o título de Doutora, Adriana teve que deixar o conforto da família, no interior do Ceará, para continuar os estudos em Fortaleza. A professora ressalta sobre a importância de uma boa formação acadêmica, principalmente quando fortalecida no engajamento nos grupos de pesquisa e extensão.

Na entrevista, a educadora que tem outros dois projetos aprovados com um recurso de R$ 120 mil reais pela Programa de Extensão Universitária (ProExt), e outro pela Fundação de Amparo a Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), garante que para cada um chegar aonde pretende na vida profissional: “Tem que estudar e arregaçar as mangas”.

 

"Já para 2016 vamos fazer parceria com o Consultório de Rua para realizar atividades e ver as necessidades dos moradores de rua. "
“Já para 2016 vamos fazer parceria com o Consultório de Rua para realizar atividades e ver as necessidades dos moradores de rua. “

Imperatriz Notícias (IN): Como surgiu o interesse em participar do PET, que é um grupo que abriga acadêmicos das diferentes áreas do saber?

Adriana Crispim (AC): Eu já conhecia o estilo de PET como acadêmica da graduação. Quando cheguei aqui na cidade, em 2011, logo despertei o interesse porque conheci o professor Tutor na época e a dinâmica do grupo. E quando soube que era um grupo multicurso, partiu um interesse maior. E olha, no final acaba não sendo tão distinto assim. Por exemplo, na área da Saúde, que são os alunos de Enfermagem e Medicina, podem trabalhar com os cuidados da saúde em restaurantes populares. Aí, no grupo, temos os alunos da Comunicação, que vai procurar entender do que se trata este assunto para publicar nos meios de comunicação. E dessa forma todas as áreas que participam do grupo se envolvem. Ninguém fica preso apenas a sua área do conhecimento. Agora, é sim um grande desafio trabalhar com diferentes áreas ao mesmo tempo. Mas a gente vai desenvolvendo o conhecimento de cada um e levando para a comunidade.

(IN): Quais os anseios dos alunos que procuram um grupo como o PET para participar?

(AC): Eles têm uma primeira expectativa ao ver o edital e essas expectativas podem ser realizadas ou não. Mas o que eu observo é que muitos vêm abertos para aprender. Quando vem um aluno de quarto semestre, período limite para entrar no nosso grupo, ele já tem um tempo de vivência na universidade e chega com o objetivo de quem quer fazer parte do grupo, como cursar uma pós-graduação. Já quando o aluno vem ainda no primeiro semestre ele ainda está se inteirando de como funciona a universidade.

(IN): E como é que o grupo contribui com a vida acadêmica de cada estudante?

(AC): Um bom exemplo é o professor Wherveson (Araújo). Ele é ex-petiano e agora é professor do curso de Enfermagem aqui na UFMA. Então isso mostra que o Pet está realmente cumprindo com os seus objetivos, que é fazer com que esses futuros profissionais possam sair da graduação mais preparados, ter senso crítico com o viés mais da pesquisa e da extensão. Além de fazer com que eles pensem além dos muros da universidade.

(IN): O grupo tem um foco muito grande na extensão e na pesquisa. Como os alunos que participam do grupo vão estar preparados para ao mercado de trabalho ao sair da universidade?

(AC): Hoje os empresários que irão absorver essas mãos de obras que saem das universidades, procuram os que apresentam algum diferencial. E esse diferencial ele é vivido aqui dentro do grupo. A gente vê uma problemática na sociedade por diferentes ângulos, por diferentes áreas. Assim ajudamos a ter pensamento crítico e diferenciado. Isso dá um destaque para o futuro profissional de cada um deles.

(IN): Quais são os benefícios que o PET como grupo de extensão tem proporcionado para Imperatriz?

(AC): Um exemplo prático é que na primeira semana de junho vamos participar de um evento com a Secretaria de Educação Municipal sobre a merenda escolar. Em 2015 houve um projeto, aqui no grupo, que trabalhou a avaliação higiênica sanitária das escolas municipais em Imperatriz, dos alunos de Engenharia de Alimentos. Os alunos pesquisadores observaram que a água estava contaminada. A problemática foi passada para a Secretaria de Educação e eles vão realizar a qualificação das merendeiras. O PET vai agir como parceiro no evento agora em junho. Então é o momento que o grupo dá um sinal para a sociedade que existe um problema e ele pode ser resolvido. Já para 2016 vamos fazer parceria com o Consultório de Rua para realizar atividades e ver as necessidades dos moradores de rua. É um projeto vai render bons frutos não apenas com publicações, pois o grupo não visa apenas publicações, mas é claro que é uma meta para melhorar o currículo dos alunos. O que a gente leva como principal objetivo é a contribuição para melhorar as deficiências da sociedade.

(IN): Como é que as atividades estão sendo desenvolvidas em um momento de crise financeira que o país enfrenta?

(AC): Primeiramente eu gostaria de ressaltar que o grupo Pet, apesar de ser um grupo que está na área da educação, ele é um grupo forte. Tem uma base sólida. Mesmo com opiniões contrárias. É um grupo que já vem desde 1970, e vem se reformulando como em 2010, quando houve a unificação do grupo e novas legislações a partir de 2013. O grupo vem se mostrando unido com os trabalhos, para mostrar para o Ministério da Educação (MEC), que ele tem sua importância. Estamos nos antecipando com o desenvolvimento dos nossos trabalhos. Pois com esses cortes de verbas talvez não sejam criados novos grupos pelos próximos anos, mas vamos manter os que já existem.

"A gente vê uma problemática na sociedade por diferentes ângulos, por diferentes áreas. Assim ajudamos a ter pensamento crítico e diferenciado. "
“A gente vê uma problemática na sociedade por diferentes ângulos, por diferentes áreas. Assim ajudamos a ter pensamento crítico e diferenciado. “

(IN): Qual o diferencial do Pet para os outros grupos da universidade?

(AC): Não é um grupo só de pesquisa e muitos menos de extensão. Ele é um grupo que trabalha com os alunos de origem popular, com o intuito de tornarem futuro pesquisadores, seres pensantes, seres críticos e prepará-los para o mercado de trabalho. O objetivo principal é esse. Ainda levando em consideração todas as dificuldades do aluno que vem de escola pública e com baixo poder aquisitivo, além das dificuldades de se manter na universidade. Fazer com que saiam com um diferencial da universidade, não apenas com um diploma.

(IN): Você tem uma origem de quem já vem de escola pública, no interior do Ceará. Como incentivar os estudantes que às vezes se acham vítimas da sua condição social e deixam de lutar por um futuro melhor?

(AC): Bom, eu venho de um momento em que o Ensino Superior ele não tinha todos esses editais, para bolsas permanência, auxílio moradia ou alimentação. Não existia nada disso. O vestibular era tradicional, onde você pagava a inscrição e concorria em ampla concorrência. Não tinha cotas. E nem por isso eu deixei de entrar na universidade. Lógico que fiz minhas escolhas. Estudei sempre em instituições públicas, no fundamental, médio e depois graduação, mestrado e doutorado. Fiz pré-vestibular no cursinho dentro da Universidade Federal e nenhum momento me senti vítima do sistema. Esse diferencial me mostrava que eu conseguiria chegar onde eu quisesse se eu me dedicasse. Mas hoje as coisas estão bem mais favoráveis. Isso dá um espaço para que as diferentes classes possam conquistar o seu espaço. Então acho que hoje os estudantes de escola pública têm mais facilidades, mas continuam tendo que estudar muito para ter seu espaço e ter o seu diploma. Tem as facilidades? Tem sim! Mas tem que estudar e arregaçar as mangas.

(IN): Nos últimos 10 anos as universidades públicas tem se ampliado, tanto em estrutura física como em números de vagas. Só na UFMA em Imperatriz são abertas 600 vagas por ano nos cursos de graduação. Em contrapartida, as bolsas de auxílio permanência não suprem a necessidade de todos os alunos de origem popular. Qual a alternativa para amenizar essa situação?

(AC): Bom, nesse cenário econômico possivelmente não tenha grandes editais e grandes números de bolsas. Mas o objetivo do Governo Federal é fazer com que os alunos de escola pública, que tem baixo poder aquisitivo, continuem trilhando dentro da universidade. Há sim uma necessidade maior de editais, pelo número de alunos que estão vindos de origem pobre, de baixa renda. Nos últimos anos os alunos de escola pública aumentaram com as cotas. E o PET é uma alternativa desses grupos que tenta selecionar esses alunos que tem uma necessidade de se manter na universidade.

(IN): Você também é revisora de projetos de fomentos da Fundação de Amparo a Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema). Muitas pessoas encontram dificuldades em elaborar um bom projeto para ser aprovado. Qual sua dica?

(AC): Inicialmente observar em qual lugar o projeto se encaixa. Olhar as agências de fomento nacionais ou regionais, e observar alguns editais que tem certa periodicidade. Ver se é um edital para cultura ou mais para pesquisa. Ver aonde o seu projeto realmente se encaixa. Se é uma ação extensionista. Decidindo isso, é só questão de você fazer uma história da arte e focar nos objetivos. Não adianta também ter um grande número de objetivos e ter apenas um ano e dois anos para desenvolver esse projeto, ele tem que atender a realidade. Qual é a estrutura física que você tem? Quem vai te apoiar, quem são seus parceiros? Você consegue desenvolver seu projeto dentro do ambiente de trabalho com aquela verba. Ou não? Você tem que buscar parceiros e delimitar a sua área. Ver os editais publicados nacionais ou regionais, como a Fapema, que é o nosso caso. O restante é uma receita de bolo. Mas a dica é: delimitar a área, a formação de parceiras e ver se aquela verba vai dá para tratar todos os objetivos que você tá se propondo.