Dupla por trás do quiosque “Plataforma 16” conta detalhes sobre os drinks inspirados na cultura pop

Repórteres: Mariana Oliveira Albuquerque e Naum Santos Gomes

Fotos: Naum Santos Gomes

Laad Chaves e Lívia Ferraz, os nomes por trás do quiosque de drinks temáticos “Plataforma 16”, abriram mão do trabalho e da universidade para se dedicarem ao sonho do próprio negócio. Todas as bebidas são de receita própria e tem uma proposta diferenciada: carregam o nome de algum seriado, música ou artista do mundo pop. Além disso, integram a parte estrutural que compõe o ambiente, com mesas e dois barris que dão suporte ao bar, referência a plataformas de petróleo, razão do nome.

Lívia trabalhava como servidora pública e Laad em um escritório de advocacia. Insatisfeitas com o rumo de suas carreiras profissionais e acadêmicas, deixaram o emprego junto ao curso de Direito na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), já no nono período, para se dedicarem ao que realmente gostariam de fazer: ter um bar.

O Plataforma 16 surge de um estudo empírico feito pela dupla em Imperatriz. “Quem mexe com drink aqui? Tem o beto e alguns bares que vendem drinks, mas nada realmente nessa temática. Para a gente era uma coisa que estava faltando. Uma lacuna, entre várias coisas que faltam aqui. Então foi mais olhar e ver o que não tinha”, conta Lívia.

A decoração irreverente em volta do quiosque dispõe de um conceito underground – fora dos padrões – com mantas e cadeiras de praias para a acomodação dos clientes. Além de acessíveis e temáticos, com valores entre R$ 8 A R$ 14, os drinks buscam inspirações nos modelos da companhia de café Starbucks e evocam a energia de personalidades icônicas como David Bowie, até seriados, como Breaking Bad. “A construção de cores e sabores sempre tem a ver com banda/série/personalidade que escolhemos. O MolokoVellocet, por exemplo, em homenagem ao filme Laranja Mecânica, busca atender as mesmas características da bebida citada no filme, a coloração, o nível alcoólico, tudo é pensado”, esclarece Laad.

Nesta entrevista, Lívia e Laad respondem ao Imperatriz Notícias sobre a idealização e público do quiosque, e como é realizado o processo de produção dos drinks. Além de contarem sobre os planos futuros para o Plataforma 16.

Imperatriz Notícias: De onde surgiu a ideia de montar um quiosque de drinks alternativos e por quê na Av. 15 de Novembro?

Laad Chaves: A gente sempre pensou em fazer algo diferente. Que viesse com inovação, que viesse… ser diferente mesmo. Então unimos o que as pessoas gostam aos drinks. A pessoa não vai ali só tomar um drink, ela vai tomar um drink que tem a banda preferida ou a série preferida dela. Então é mais um atrativo, entendeu? E qual era o resto da pergunta mesmo?

I.N: Por quê na Av. 15 de Novembro?

L.C: Porque lá é onde acontece tudo. É a rua dos bares, e seria perfeito se ela entrasse no ritmo da augusta. Se tivesse mais quiosques, mais coisas… porque a gente não enxerga nada disso como concorrência. Tudo é para acrescentar. A nossa cidade é muito carente disso.

I.N: Muito do público LGBTQ+ da cidade frequenta o Plataforma. Quando vocês começaram, vocês tinham ideia do público que iriam atender? 

Lívia Ferraz: O público alvo sempre foi as pessoas que não tinham para onde ir, que já estavam cansadas do meeting, do bar da esquina, o de sempre. Então a gente sabia que a gente poderia pegar uma fatia dessas pessoas que queriam uma coisa diferente. E acabou que o público LGBTQ+ abraçou a gente e a gente eles, como consequência já que a gente faz parte dele. Então todo mundo que chega lá “ai meu deus aqui é muito bom, a gente se sente à vontade” e dança e.… tem toda aquela liberdade.

L.C: Os bares frequentados por héteros sempre te olham torto e você não se sente tão à vontade, então realmente falta um ambiente que acolha, um ambiente nosso. E a gente tem que unir essas forças, sabe. Essas ideias criativas… A gente tem que se unir. Não é uma coisa que é para dividir, mas para somar mesmo. Vamos crescer junto, entendeu? É mais ou menos essa mentalidade.

I.N: Essa questão de unir… O que vocês acham sobre concorrência? Já que são pioneiras na cidade nesse negócio de bebidas temáticas. Caso surja algum quiosque, como vocês acham que vocês vão lidar?

” pessoa não vai ali só tomar um drink, ela vai tomar um drink que tem a banda preferida ou a série preferida dela”

L.C: Essa pergunta é nova e muito boa inclusive. A gente já conversou sobre isso. Inclusive um cliente já falou que queria abrir um quiosque também. A gente super incentivou e tudo, só falou das dificuldades também, mas no sentindo de “se é isso que você quer vai lá, faz, caminha por aqui, a gente fez por aqui”. A gente acredita que tem espaço para todo mundo. Não é porque surge algo novo que o meu negócio vai por água a baixo. Você tem que acreditar no que você está fazendo e inovar.

L.F: E a rotatividade do Plataforma é muito isso. A pessoa sai do bar da esquina, vai no Plataforma, depois vai no meeting. Porque você não é obrigado a ficar num lugar só, você não é obrigado a gostar de uma coisa só, e na verdade, quanto mais coisa tiver melhor vai ser para a gente.

I.N: Ambas cursavam direito. O curso influenciou no rumo que vocês queriam seguir com o negócio?

L.C:  A gente viu o que a gente não queria. É porque tem muito essa pressão por formação e tudo né. Tanto dos pais quanto da sociedade, enfim. E a gente acaba não indo atrás do que a gente realmente gosta. Isso é um problema porque acaba que surgem profissionais frustrados. E a questão do Plataforma, a gente pode expressar tudo o que a gente é sabe? A gente pode criar, enfim. Deixar a gente muito livre para ser aquilo que a gente é. Então por isso que eu digo que não tem nada a ver.

I.N: Foi dificultoso deixar a vida acadêmica e o trabalho para partir para a vida de administradoras?

L.C: Eu vejo muito mais com alívio do que com pesar.  Porque foi onde a gente se encontrou. Então é muito melhor você estar com o peso do que você gosta do que com o peso que você não gosta. Então, claro que a gente teve que abrir mão de uma segurança, para muitos é difícil e realmente é, mas a gente acreditou.

I.N:Na concepção de alguns drinks tem vodca, tem sidra, rum, licor, whisky, que são bebidas caras. Como vocês estudam o preço dos drinks?

L.F: No caso a gente tem que buscar uma média. Não tem como vender um drink a R$ 8 com vodca Absolut. Não tem como. A gente busca marcas de qualidade e testa. Tipo, se eu vou testar uma vodca nova, a primeira coisa que eu faço é botar num copinho e tomar e ver “ah isso aqui dá certo. A vodca é até boazinha”. E a gente vai testando. Agora já tem as marcas certas para fazer os drinks e fazer, é claro, essa precificação. Tudo o que a gente gasta e coloca nossa margem de lucro, porque se não, não tinha como a gente continuar.

I.N: Os drinks, assim como o “Lana del Rey” e “Arctic Monkeys”, carregam características das bandas tanto na estética quanto nas cores. Como é feita essa associação do sabor da bebida às diferentes bandas ou personalidades que os intitulam?

“Los Hermanos, tinha que ser um drink mais docinho ou um drink mais “depressão” mesmo. Queen, a gente pensou na explosão da banda, então vamos colocar um drink com whisky. A gente sempre pensava numa característica principal ou algo que estivesse pelo menos no rumo daquela banda ou daquela série”

 L.F: A intenção é buscar uma identificação. Por exemplo, Los Hermanos, tinha que ser um drink mais docinho ou um drink mais “depressão” mesmo. Queen, a gente pensou na explosão da banda, então vamos colocar um drink com whisky. A gente sempre pensava numa característica principal ou algo que estivesse pelo menos no rumo daquela banda ou daquela série. Por exemplo, o Baby Blue é o mais óbvio. Porque é azul por causa da série (Breaking Bad), tem bastante vodca. Então foi mais ou menos nesse caminho. A gente sempre buscou uma característica principal e tentou desenvolver o drink ao redor disso.

I.N: Os drinks disponíveis sempre fazem referências a uma banda ou artista famoso. Qual a referência do nome “Plataforma 16”?

L.C: Faz referência a nossa estrutura. Têm dois barris lá. Então os barris nos remeteram às plataformas de petróleo,e a gente pensou “vamos colocar “Plataforma” por causa dos barris”. E depois, plataforma, mar.A nossa logo também é uma ondinha e aí foi mais ou menos isso. O 16 é a data que a gente começou a namorar.

I.N: Vocês têm esse espaço que é móvel. Quais são as vantagens e as desvantagens de ter um espaço móvel aqui em Imperatriz? O que vocês perceberam nesses três meses de funcionamento?

L.F: A parte mais difícil é o desgaste de transportar as coisas. Os buracos na cidade atrapalham muito, fica quase impossível. Outra questão é a segurança, como vamos embora de madrugada, há sempre um risco. A vantagem com certeza é a economia com gastos de estrutura, fica bem mais barato do que um ponto físico. E as desvantagens são a falta de um lugar com energia, que possa contar com um freezer para gelar nossas coisas, falta de um local mais confortável para os nossos clientes. O que não deu certo foi abrir muitos dias na semana, começamos com 4 dias por semana, e depois fomos diminuindo porque o pico de pessoas é mais sexta e sábado.

I.N: Qual o diferencial do Plataforma em relação aos outros lugares com proposta semelhante na cidade?

L.C: Eu acho que tudo tem que ter uma história antes, a gente tenta fazer tudo com a alma, é tudo muito verdadeiro. Eu acredito que, querendo ou não, transmite para as pessoas, eu acho que isso tem esse retorno. É tudo muito pensado, é tudo com muito carinho. Enfim, acho que essa energia que a gente transmite, volta. Público é consequência, dinheiro é consequência, tudo é consequência daquilo que você faz, então, acaba que o que a gente transmite, volta de alguma forma.

L.F: A intenção nunca foi abrir o Plataforma para a gente ganhar dinheiro em cima dos outros. A gente tem muito essa política, várias pessoas já foram lá e a fila estava grande, esperou muito pelo drink, “cara, pega essa bebida de graça, não precisa nem pagar; desculpa pela demora”. Entendeu? A gente tem muito disso. Muito de dá bebida de graça, shot de graça[…] Claro que a gente precisa de dinheiro. Até porque agora a gente bem lascada. Ou isso dá certo ou então…a gente vai para fila do SINE. Mas é.…a gente tem muita essa intenção de… não é só querer dinheiro, a gente tem que dar alguma coisa em troca, tem que dá um bom serviço, tem que dá alguma coisa que tenha valor para as pessoas. O foco de tudo são as pessoas. Tocar as pessoas primeiro.

I.N: Vocês deixaram o curso e o emprego para se dedicarem ao que gostavam. Que conselho vocês dariam para quem pensa em fazer o mesmo?

L.F: O conselho é que tem que ter coragem. Não adianta. Ou você cria aquela coragem e vai atrás do que você quer ou então você tem que se conformar com o que você tem. É um passo muito grande, a gente saiu do emprego que a gente tava e juntou um dinheiro pra ficar vivendo enquanto fazia o Plataforma acontecer. Então não é todo mundo que tem essa coragem. Eu era servidora pública, todo mundo hoje quer um concurso e não sabe o quanto ficar todo dia lá é estressante, suga tua vida.

L.C: Então você tem que tomar uma decisão, “é isso que eu quero?”, então continua. Não é? Então nem fica reclamando que é só mais desgaste. Você tem que acreditar muito no que  está fazendo, se não nem vai. Essa coisa de acreditar, querendo ou não, cria uma estrutura mental e um caminho para você seguir que vai dar certo, você vai fazer acontecer. Você tem um objetivo, você trava um caminho e você segue o caminho até conseguir o que você quer.