Cartazes de cinema são inspiração para artista por trás dos muros da Funac

Repórteres: Cyarla Barbosa e Ester Feitosa

 Fotos: Cyarla Barbosa/ Acervo pessoal do artista

 

O artista plástico e professor de arte da Funac (Fundação da Criança e do Adolescente),Edney Areia Santos, de 38 anos de idade, viu na pintura da figura humana e nas artes de cartazes de cinema, feitas à mão, as inspirações para a profissão que hoje é seu sustento. Desde os 15 anos de idade é apaixonado por obras em cartoon e histórias em quadrinhos. Aprendeu com seu pai e com o amigo da família Tom Neves, a técnica de capturar os traços e a essência do rosto humano por meio da pintura.

Com as lembranças de sua mãe, Maria Dora Areia Santos, ele conta que aos três anos de idade  queria riscar ou pintar alguma coisa, e aos sete anos de idade lembra que sentava de frente para a televisão, olhava os desenhos e personagens de filmes e ia copiando os traços no papel. Recorda-se com nitidez do dia em que seu pai pintou um quadro do Rambo, filme interpretado pelo ator Sylvester Stallone, “até hoje não sai da minha cabeça aquela pintura que ele fez de tão perfeita que ficou, e quando eu vi aquilo eu disse, eu quero isso para minha vida”.

Sua arte está espalhada em paredes e muros da cidade, como a que se encontra na Funac, do bairro Três Poderes, onde há ilustrações da turma do Chaves e do piloto brasileiro de Fórmula 1, Ayrton Senna. A obra chama atenção de quem passa pelo local, e o número de pessoas atrás do seu serviço foi expressivo após este registro.

O pintor não é formado em nenhum curso, tudo o que faz aprendeu na prática. Membro da igreja Adventista do Sétimo Dia, o artista não pinta imagens de nudez, ou coisas que façam apologia ao crime e também não gosta de retratar paisagens. A arte de Santos já é conhecida nos estados do Pará e Tocantins. Na capital, São Luís,participou de uma exposição.

Para se manter no ofício, o investimento em materiais é de R$300 por mês, é adepto da técnica em pincel e prefere utilizar tinta acrílica a base d’água. Os contratos com clientes possuem como menor preço R$100, para retratos e R$1500 chegando a R$2000 para pinturas maiores em paredes de estabelecimentos como escolas, lojas, residências, ou em qualquer lugar que o cliente pedir.

Em entrevista ao Imperatriz Notícias o artista fala da escolha da arte em figura humana ao invés do grafite, e do seu amor por aquilo que faz.

 

Imperatriz Notícias (IN): Nas redes sociais você utiliza o termo “pintor artístico” e não grafiteiro, isso seria por conta da associação negativa ao termo? 

Edney Areia (EA):Não, pelo contrário, é porque eu gosto desse termo. Agora grafiteiro engloba muitas coisas da pintura em si, a parte artística, inclusive a arte do grafite, mas eu não penso por esse lado, de algo negativo. As pessoas também tem aquela ideia do grafiteiro como o pichador, mas há uma diferença. Pichador não tem aquela coisa artística. Já o grafiteiro não, ele tem todo um cuidado, todo um planejamento naquela arte.

 IN: Por que ilustrar apenas artistas ou ícones relacionados à cultura de massa? Isso tem a ver com o pedido do cliente ou é algo que você decide? 

“eu sonhava em um dia trabalhar em uma editora de quadrinhos”

 EA: É algo do meu gosto mesmo, pois desde criança eu sempre fui apaixonado por aquelas artes de cartazes que eram feitas de cinema antes, feito à mão, aquilo sempre me chamou muito atenção. Ai a questão do Chaves, e esses outros, também fizeram parte da minha infância. Às vezes eu faço o que os clientes determinam e muitas vezes eles me dão a liberdade para escolher o que quero fazer.

IN: Isso tem a ver com o cartoon, as revistas em quadrinhos que lhe inspiraram?

 EA: Sim, eu tinha muito disso. Aos 15 anos de idade ainda cheguei a fazer revistas em quadrinhos, eu mesmo tentando fazer ali, pegando referência de outras revistas. Sempre fui muito apaixonado por isso. Tanto que eu sonhava em um dia trabalhar em uma editora de quadrinhos, na época tinha isso na cabeça, só que com o tempo foi passando e sumindo esse desejo. Eu achei que era muito inviável, segui mais na prática de quadros, por influência também do meu pai que pintava, e também tinha um amigo, o Tom Neves. Nessa convivência eu comecei a me apaixonar muito por quadros. Foi fugindo mais a ideia de histórias em quadrinhos.

 IN: Ainda bem que você se inspirou e resolveu continuar nos quadros, mas isso é algo que lhe destaca?

 EA: Sim, eu amo muito fazer isso. Às vezes, de madrugada, me dar aquele desejo de fazer, aí eu vou lá e faço alguma coisinha. Eu tenho muito serviço inacabado, mas pretendo terminar todos. Quando a inspiração vem, tenho que fazer.

IN: Então isso não prejudica nas tuas criações, essa questão emretratar mais a cultura de massa?

EA: Não, o que as pessoas pedem eu faço. Mas, particularmente, quando eu vejo alguma coisa assim, por exemplo, algum filme que está saindo agora, eu pego aquele personagem e quero reproduzir. É uma coisa que tenho desde a infância. Quando passava os Cavaleiros do Zodíaco, eu tentava fazer, ai vou só continuando a pintura.

IN: Você é Adventista do Sétimo Dia, isso interfere na sua criatividade? Em fazer uma pintura diferente, ou algo que você não concorde?

 EA: Sim, tem algumas coisas que eu não posso fazer. Como nudez, essas coisas assim eu tento fugir um pouco. Até procuro evitar pinturas que fazem apologia ao crime. Eu procuro fugir disso. Eu não gosto muito de pintar em bares também.

 IN: O que você gosta e não gosta de pintar?

 EA: Olha, eu não gosto de pintar paisagem. Quando um cliente pede, eu pego e faço, mas eu não gosto. O que eu gosto mesmo é figura humana.

 IN: Porque essa afeição por pintura humana?

EA: Porque eu acho um desafio, assim como o paisagismo, que também é um desafio pra mim, mas eu não tenho aquela afinidade. E já a questão da figura humana, é você pegar a essência da pessoa, fazer com que pareça com ela. Nós somos indivíduos totalmente particulares, todos nós temos uma diferenciação. Se eu for te retratar, tu tem os teus traços, todos nós somos particulares. Eu gosto disso, me apaixono muito por isso. Porque eu gosto de fazer realmente a feição da pessoa, puxar a aparência da pessoa.

IN: Com quantos anos você começou a pintar?

 EA: O primeiro serviço que fiz sozinho eu tinha 15 anos de idade. Só que antes o meu pai já me levava para ajudar no trabalho, preenchendo alguma letra, ele desenhava e eu preenchia. Então, aos 15 anos de idade, eu fiz um serviço sozinho, foi em um salão de videogame no ano de 1996. Fiquei muito nervoso quando foi para fazer a primeira vez, nunca tinha feito em parede grande, mas em coisa pequena, agora em parede grande não. Porém, deu tudo certo, o pessoal gostou, na época retratei o Mário Bros, personagens do Street Figther, Mortal Kombat e Sonic.

IN: O que você busca expressar na sua arte?

EA: Eu gosto de expressar a nostalgia, as coisas boas da infância, até mesmo a fase adulta, remeter a lembrança de alguma coisa. No caso do Ayrton Sena, eu gosto muito dele, na época eu era muito novo, mas ele era uma referência nacional, então procuro fazer justamente por conta dessa nostalgia que ele nos traz. Na verdade é a essência, puxar realmente a aparência da pessoa, buscar o lado bom às lembranças.

IN: Como você lida com as críticas?

 EA: Já recebi uma crítica, e foi horrível. Mas, na verdade todo mundo tem sua opinião, a gente tem que respeitar independente de qualquer coisa. Eu vi que aquilo era opinião dela, enquanto a maioria é a teu favor, isso memotiva. Enquanto aquela uma pessoa me detonou, isso não vai me deixar para baixo e acontece raramente.