Entrevista com Hipnoterapeuta: Ansiedade e Depressão nos Discentes em Universidades

Gustavo Batista Arruda, 22, é acadêmico do 9º período de psicologia da Faculdade de Educação Santa Teresinha – FEST, também é hipnoterapeuta e está se especializando em neuropsicologia e terapia cognitivo comportamental. Nesta entrevista abordamos o tema depressão e ansiedade nas universidades. Sabemos que ao redor do mundo, silenciosamente, em muitos casos, estudantes estão com a saúde mental afetada.  Embora a busca pelo conhecimento e a vivência acadêmica sejam consideradas como períodos emocionantes e transformadores, a pressão acadêmica, a competição acirrada e as expectativas sociais podem desencadear uma série de desafios psicológicos.

Enquanto a ansiedade é caracterizada por um estado persistente de preocupação e tensão, a depressão se manifesta como uma sensação de tristeza profunda e perda de interesse pelas atividades diárias. Ambas as condições podem ter um impacto debilitante na vida dos estudantes, interferindo em seu desempenho acadêmico, relacionamentos interpessoais e bem-estar geral.

O tema da saúde mental nas universidades está ganhando cada vez mais destaque, à medida que estatísticas alarmantes emergem. Segundo pesquisas recentes, taxas crescentes de depressão e ansiedade são observadas entre os estudantes universitários em todo o mundo. Fatores como a transição para uma nova fase da vida, o aumento das responsabilidades acadêmicas e a pressão para obter sucesso em um ambiente competitivo podem contribuir para esse cenário preocupante. 

No decorrer da entrevista Gustavo Batista diz  que existem diversos desafios enfrentados pelos universitários no decorrer da  graduação que podem gerar  transtornos ansiosos e depressivos, ele cita que a frustração com o curso é um dos contribuintes para acarretar em transtornos de ansiedade e depressão, isso quer dizer que muitos estudantes após adentrar a universidade acabam não se identificando com a área escolhida. Além disso, o hipnoterapeuta diz que  existe também a dificuldade de estabelecer relações sociais dentro da instituição, por questões financeiras ou afins. Outro exemplo que  ele destaca, é que existem estudantes que precisam conciliar os estudos com o trabalho o que potencialmente influencia no desencadeamento de sintomas ansiosos e até mesmo depressivos, com pensamentos disfuncionais de desânimo e desesperança.

Foto: Arquivo pessoal
Gustavo Batista estudante de psicologia e hipnoterapeuta.

Imperatriz Notícias: Como você descreveria a prevalência da ansiedade e da depressão entre os estudantes universitários nos dias de hoje?

Gustavo Batista: Atualmente por ter se voltado um olhar mais aprofundado para as questões psicológicas é constatado que a ansiedade se faz presente em todos os indivíduos, podendo ser enquadrada como transtorno a partir da análise de alguns critérios. Portanto o público universitário por encontrar-se exposto aos mais diversos estressores tanto externos como internos da instituição de ensino, infelizmente encontram-se vulneráveis ao desenvolvimento de uma ansiedade patológica, tendo em vista que passam repetidamente por eventos e situações estressores e possíveis desencadeadores de crises tanto ansiosas como também depressivas. 

É perceptível nas pesquisas recentes que o índice de transtornos tanto de ansiedade como depressão vêm aumentando significativamente no público jovem, e questões relacionadas ao meio universitário são sim fortes eliciadores.

Imperatriz Notícias: Quais fatores específicos das universidades contribuem para o aumento da ansiedade e da depressão entre os discentes?

Gustavo Batista: O ato de ingressar em uma universidade já vem carregado de grandes estressores na vida do indivíduo, tendo em vista que já existe previamente uma pressão social e familiar em relação a necessidade de escolher um curso e uma profissão, pressão essa que é somada  a desigualdade social enfrentada em nosso país onde as oportunidades não chegam a todos de maneira igual, trazendo ainda mais aflição aos jovens que saem do ensino médio  com foco no ensino superior. 

E ainda, após conseguir perpassar a fase de escolha da profissão  e finalmente entrar em uma universidade, vem uma nova fase de estressores, composta por questionamentos e dúvidas sobre o curso escolhido e área em que deseja atuar, que são acompanhadas também de grande  insegurança sobre o mercado de trabalho.

E outro fator a ser citado são as pressões causadas pelo modelo de ensino adotado por algumas instituições e profissionais de ensino, que são gatilhos desencadeadores de inúmeras crises ansiosas, seja em apresentações de seminários como também na realização de atividades avaliativas.

Em suma o que se percebe é que os jovens em uma quantidade significativa já adentram o ensino superior com cobranças e inseguranças que são potencializadas dentro das instituições.

Imperatriz Notícias:  Quais são os principais desafios enfrentados pelos estudantes universitários que podem levar ao desenvolvimento de ansiedade e depressão?

Gustavo Batista: Como citado anteriormente o modelo de ensino de algumas instituições e profissionais acaba gerando grande  estresse e ansiedade nos jovens que de certa forma já encontram-se fragilizados, isso já é um grande desafio a ser enfrentado e que pode se estender durante todo o curso.

Além disso existem diversos outros desafios enfrentados pelos universitários no decorrer de uma graduação que podem acarretar sim transtornos ansiosos e depressivos, como por exemplo a frustração com o curso, ou seja a não identificação com a área escolhida, isso já após adentrar na universidade, existe também a dificuldade de estabelecer relações sociais dentro da instituição, por questões financeiras ou afins.E existem ainda jovens  que precisam conciliar os estudos com o trabalho o que potencialmente influência no desencadeamento de sintomas ansiosos e até mesmo depressivos, com pensamentos disfuncionais, de desânimo e desesperança.

Imperatriz Notícias: Que estratégias de enfrentamento você recomenda para os estudantes lidarem com a pressão acadêmica e as expectativas sociais?

Gustavo Batista:  Primeiramente façam terapia!

É revigorante e super fortalecedor! Dentro da terapia são identificadas questões que podem estar facilitando o desenvolvimento de algum adoecimento psíquico, e também são trabalhadas técnicas para a superação das demandas e fragilidades identificadas, como também ferramentas para o fortalecimento de demais pontos positivos anteriormente não explorados. 

Trabalhar o autoconhecimento e autocuidado são pontos importantes para desenvolver autonomia e empoderamento pessoal e social, ao se conhecer e se aceitar você consegue apresentar ao outro de maneira eficaz quem você é ou irá ser, e como quer ou não ser tratado. 

Além disso, pôde-se procurar estabelecer vínculos dentro da faculdade com uma rede de apoio que pudesse agregar conhecimento e fortalecimento para conseguir se manter firme durante todo o decorrer do curso.

Imperatriz Notícias:  Como as universidades podem melhorar o suporte à saúde mental dos estudantes? Quais programas ou serviços são mais eficazes nesse sentido?

Gustavo Batista: Avaliando os seus aspectos institucionais, como por exemplo o modelo de ensino adotado, e o primordial que é buscar facilitar ao máximo a comunicação com o meio acadêmico, isso por que a sensação de poder influenciar promove maior engajamento dos estudantes, então promover uma comunicação ampla e envolvimento dos alunos no funcionamento institucional pode sim ser uma ferramenta que venha trazer benefícios significativos tanto para os alunos como também para a instituição. 

O segredo pode estar justamente em promover esse  engajamento da comunidade acadêmica no funcionamento institucional, visto que essa técnica remete ao pensamento de  não só frequentar mas fazer parte do local, o que pode ser um suporte aos universitários para aliviar pensamentos ou sintomas estressores que venham acometê-los, seja em frustrações e inseguranças no decorrer do curso.

Além disso, ofertar ou facilitar acompanhamento psicológico é um ponto essencial a ser inserido em todas as instituições, como algumas que possuem clínicas escolas de psicologia já ofertam a comunidade acadêmica e social. É preciso alimentar a importância desses órgãos institucionais.

Imperatriz Notícias: Quais sinais e sintomas os estudantes devem estar atentos para identificar se estão enfrentando ansiedade ou depressão? E como eles podem procurar ajuda?

Gustavo Batista: Sintomas de ansiedade e depressão  podem aparecer inicialmente de maneira bem discreta e se não identificados precocemente podem evoluir e começar a prejudicar o funcionamento e a qualidade de vida dos estudantes. Aqui alguns pontos a serem observados que podem ser indicadores para o possível desenvolvimento de um transtorno de ansiedade ou depressão em universitários.

1- nervosismo incontrolável, de maneira que compromete a qualidade de concentração, ou seja, não consegue estudar nem realizar outras atividades.

2- sensação de desesperança em relação ao futuro, ou seja pensamentos negativos e catastróficos sobre  como vai ser após receber o diploma. 

3- irritação, falta de motivação e dificuldade para realizar trabalhos em equipe ( exclusão) 

4- humor deprimido, desânimo para ir às aulas 

Esses são apenas alguns dos inúmeros sintomas que podem ser apresentados, então ao perceber que está passando por algum destes citados, ou sentindo algum outro que venha comprometer sua qualidade de ensino aprendizagem, ou seu desempenho social e acadêmico, o ideal é procurar acompanhamento psicológico. Acompanhamento que pode ser procurado na própria clínica escola da universidade ( se houver) ou das faculdades próximas, em algum consultório particular, e também nas unidades básicas de saúde dos bairros UBS através do seu agente de saúde, além disso nos CRAS também é possível ser orientado para o início de um acompanhamento psicológico, e também no CAPS onde é realizada uma triagem e você é encaminhado ao atendimento mas adequado ao seu caso.

Existe ainda o CVV ( centro de valorização da vida) acolhimento realizado gratuitamente via telefônica através do número 188  qualificados para atendimentos  em crise. 

Imperatriz Notícias: Como a família e os amigos podem apoiar um estudante universitário que está lidando com ansiedade ou depressão?

Gustavo Batista: A família e os amigos podem auxiliar o indivíduo que está enfrentando problemas de ansiedade ou depressão, se fazendo presentes de maneira acolhedora e sem julgamentos, ouvindo e levando em consideração o que se é falado e sentido. Demonstrando carinho e empatia, sem fazer perguntas desconfortáveis sobre os motivos do adoecimento. 

Deve-se  ainda levar e motivar o jovem a procurar acompanhamento psicológico, mostrando apoio e força para superar quaisquer crenças que possam atrapalhar a adesão ao tratamento psicoterápico.

Imperatriz Notícias:  Quais são as expectativas realistas em termos de recuperação e gerenciamento da ansiedade e da depressão durante os anos universitários?

Gustavo Batista: No que se refere a transtornos psicológicos, em especial transtornos como os de ansiedade e depressão, não se trabalha ainda embasado em uma cura propriamente dita, o que se alcança de fato é uma estabilidade emocional, envolvida de autoconhecimento, autocuidado e autorregulação, onde o indivíduo é capaz de conhecer e lidar com seus problemas e obter autonomia para superar as crises quando elas surgirem. 

Ou seja, é possível alcançar uma estabilidade e viver plenamente bem realizando todas as suas atividades acadêmicas, laborais e sociais mesmo sendo diagnosticado com algum desses transtornos.