Em Imperatriz, um sebo desafia o mercado digital e reafirma o valor da leitura presencial
Por Sofia Alves
Há três décadas, o sebo São Dimas vive a tradição do livro físico. À frente dele está Elizabeth Miranda, que transformou o legado da mãe em um espaço de resistência cultural. “O sebo foi criado em 1995 pela minha mãe. Ela viajava muito, morava no Rio de Janeiro e percebeu que Imperatriz precisava de um lugar assim. Depois que faleceu, eu assumi”, relembra.
O funcionamento do sebo sempre foi baseado em compra, troca e venda de livros. Durante muitos anos, essa dinâmica garantiu que o espaço fosse um ponto de encontro para leitores de diferentes perfis. No entanto, as mudanças no mercado obrigaram adaptações. “Hoje, devido à situação atual, as compras e trocas estão suspensas. Estamos apenas vendendo”, explica.
A procura por livros também passou por transformações ao longo das décadas. Se nos anos 2000 o digital parecia dominar, atualmente o livro físico volta a ganhar espaço. Elizabeth observa que os leitores perceberam que o digital não compensa. “É cansativo, não traz a mesma experiência. O livro físico jamais será substituído”, afirma.
Foto: Sofia Alves
Entre os títulos mais procurados, destacam-se a literatura clássica brasileira. Há também interesse em edições raras e livros que não são facilmente encontrados em livrarias convencionais. O público é variado, mas existe um perfil recorrente: pessoas que valorizam o livro.
Histórias curiosas fazem parte da trajetória do espaço. Uma das mais marcantes foi a de um senhor do interior que, apesar da aparência simples, surpreendeu pela bagagem cultural. “Ele estava mal vestido, com barba longa e roupas de andarilho. Mas comprava muitos livros de direito e clássicos. Era uma enciclopédia ambulante”, conta Elizabeth. O cliente se tornou presença constante, até desaparecer após a pandemia.
Manter o sebo físico hoje é um desafio. A concorrência digital é apontada como o maior obstáculo. Plataformas online oferecem praticidade e preços competitivos, mas não conseguem reproduzir a experiência de folhear um livro, sentir seu cheiro e descobrir obras inesperadas em prateleiras cheias de histórias.
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Mais que comércio, o sebo é encontro de gerações em busca de conhecimento.
A precificação dos livros usados também segue uma lógica própria. O valor depende da edição, do estado de conservação e da procura. Há obras que, pela raridade ou importância cultural, acabam sendo mais valorizadas. “Não é apenas sobre preço, é sobre valor. Cada livro carrega uma história, e isso influencia diretamente na forma como é visto pelos leitores”, explica.
Os desafios enfrentados pelos sebos hoje vão além da concorrência digital. Há também questões ligadas à manutenção de espaços físicos, custos de aluguel e a necessidade de atrair novos públicos em uma era marcada pela velocidade da informação. Elizabeth segue firme, acreditando no papel do sebo como espaço de encontro e de preservação da leitura.