Texto: Jaimerson Fernandes
Fotos: Jaimerson Fernandes
A comunicação interna dentro do Exército Brasileiro, apesar de sua importância estratégica, ainda enfrenta desafios estruturais que comprometem desde o planejamento até a resposta em situações de emergência. Um estudo do Instituto Meira Mattos revelou que 64% dos militares identificam falhas de comunicação como obstáculos em cenários críticos, como desastres naturais e operações simuladas. Além disso, cerca de 80% afirmam que informações importantes chegam com atraso ou sequer chegam aos setores responsáveis — um gargalo que afeta diretamente a eficiência das ações.
Essas falhas não são isoladas. Um levantamento do Repositório Institucional da UFMS, que analisou o Comando Militar do Planalto, aponta entraves como a estrutura hierárquica rígida, o excesso de informações desconectadas e a ausência de canais participativos, o que reforça a necessidade de tornar a comunicação mais interativa e bidirecional. Em resposta a esse cenário, o Exército aprovou, em 12 de março de 2024, a Portaria C Ex nº 2.201, que institui a Política de Comunicação Estratégica, definindo esse campo como um processo contínuo para garantir legitimidade, alinhamento e credibilidade entre públicos internos e externos.
Mas, na prática, é preciso entender como essas diretrizes se aplicam ao cotidiano de batalhões locais, como o de Imperatriz (MA. E de que forma a comunicação entre os setores operacionais influencia a tomada de decisões e o preparo das tropas.
Compreender essa dinâmica é importante, com isso, o comandante do 50º Batalhão de Infantaria de Selva (50 BIS), Carlos Henrique Leite (Tenente-Coronel Leite) da unidade do Exército em Imperatriz, detalhou como a hierarquia e os fluxos de informação se articulam no ambiente militar. Entre obstáculos e adaptações, ele compartilha os caminhos percorridos para tornar a comunicação mais eficiente dentro das Forças Armadas locais.

A hierarquia não atrapalha de forma nenhuma, porque são coisas distintas. Na verdade, a gente trata como uma base. São os pilares que a gente fala do Exército, a hierarquia e a disciplina.
Imperatriz Notícias: Em 2024 foi aprovada uma portaria do comando do Exército, número 2.201, que institui a política de comunicação estratégica do Exército. Qual o maior desafio para manter essa comunicação estratégica dentro de um batalhão como 50 bis?
Comandante Leite —Na verdade, o Exército tem realmente cada vez mais priorizado essa ala da comunicação. E a gente, com base na portaria, pegamos aquilo que está diretamente ligado com a nossa missão.
Então, com base nessas diretrizes, nessas determinações, a gente verifica aquelas que são alinhadas com a região amazônica, com a missão do batalhão. E aí a gente traça objetivos intermediários, principalmente na parte de comunicação e de preparo e emprego, para a gente poder alcançar tudo aquilo que está previsto na portaria.
A gente tem um comando militar de área, que também determina as suas diretrizes, que no nosso caso é o Comando Militar do Norte, que fica sediado em Belém. Depois do Comando Militar de Área, nós temos a Brigada, que é a 23ª Brigada de Fortaleza de Selva, que fica em Marabá, que também determina as suas diretrizes até chegar ao nível batalhão.
I.N: Essa portaria visa legitimidade, alinhamento e credibilidade ao público. Como o senhor busca alinhar a comunicação dentro dos setores do 50º BIS?
C.L — Isso é importante. Dentro dessas ações de preparo, de emprego, as ações cívicos sociais, a gente classifica isso aí no braço forte e na mão amiga. Então, o braço forte são essas ações relacionadas ao preparo e emprego, e a mão amiga relacionada a essas ações sociais. Isso é bem caracterizado pelo nosso dia a dia. Então, nas ações que nós vamos realizando, a gente envolve o nosso público. Então, a gente teve recentemente, por exemplo, uma ação cívico-social no município de Grajaú.
Então, lá a gente teve uma série de instituições presentes, e consequentemente, dentro de cada ação dessa, nós temos o nosso efetivo que é empregado. Isso sempre fica muito caracterizado para eles, essa parte da ação propriamente dita. E a veiculação passa por um crivo da organização militar, passa por um crivo desses escalões superiores que eu citei anteriormente. E isso depois é veiculado, seja pelo Instagram do batalhão, por informativos ou seja por formaturas que a gente cita.
I.N: Um estudo acadêmico de 2024 destaca problemas como estrutura hierárquica rígida, excesso de informações e ausência de canais participativos no Comando Militar.. O trabalho aponta a necessidade de tornar a comunicação mais bidirecional e interativa. Diante disso, a hierarquia ajuda ou dificulta a comunicação interna?
C.L — A hierarquia não atrapalha de forma nenhuma, porque são coisas distintas. Na verdade, a gente trata como uma base. São os pilares que a gente fala do Exército, a hierarquia e a disciplina. A questão da comunicação é prevista, inclusive, a questão da comunicação, mesmo na forma hierárquica, ela é prevista nos nossos regulamentos. Então, a gente faz formaturas onde a gente informa, onde a gente dá avisos.
A gente tem a oportunidade de realizar reuniões. Nessas reuniões, o próprio subordinado interage com o superior. Então, a questão da informação não é abalada pela hierarquia, mas é fundamental para o funcionamento da nossa instituição.
I.N: Cerca de 65% dos militares entrevistados afirmam que há pouca comunicação entre setores distintos, de acordo com o repositório da UFMS. Que ferramentas o batalhão utiliza para manter todos os militares bem informados?
C.L — Então, nós temos nessas mídias sociais, e aí é basicamente a questão das atividades que a gente realiza. A gente realiza também as reuniões. Então, nós temos reuniões de oficiais, com oficiais e sargentos e reunião com escravos e soldados. Nós temos as nossas formaturas internas.
Nas próprias atividades, a gente procura realizar essas interações. E, a partir daí, as notícias são disseminadas, as ordens são disseminadas. Até porque, para o cumprimento, para a execução das ações, essas informações têm que estar bem claras para os níveis subordinados.
I.N: A Portaria de Comunicação Estratégica do Exército, busca legitimidade e credibilidade. Então, como o Exército se comunica com a população de Imperatriz e região para manter essa credibilidade?
C.L — O que eu percebi aqui, desde o momento que… Na verdade, antes mesmo de eu assumir o comando, é que a cidade interage com o batalhão. E o batalhão, uma via de mão dupla, também contribui bastante. Então, nós realizamos campanhas de doação de sangue, doação de alimentos, doação de brinquedos, doações a diversas instituições.
Então, essa interação é sempre bem presente. Ela é fundamental para os 50° bis, e eu tenho certeza que para a sociedade também. E é uma coisa que a gente tem procurado manter, esse contato com a população local. Isso é bem presente, e para mim, como comandante, e eu acredito para todos os integrantes do batalhão, isso é muito positivo. Nossos portões estão sempre abertos para a sociedade da região Tocantina e para quem quer que seja, para visitar a nossa organização militar e conhecer um pouco da nossa vida militar.
I.N: A gente vê uma presença muito forte, tanto do Exército Nacional, como do 50º bis, nas redes sociais. A presença do 50º BIS nas redes sociais é estratégica?
C.L — Sim, com base nessa própria portaria. Hoje, o Exército possui, isso já faz algum tempo, mas hoje, até fruto do advento das mídias sociais, da questão da comunicação, o Exército tem um órgão, que é o Centro de Comunicação Social do Exército, que, junto ao comando do Exército, determina todas as diretrizes, que ele regula e assessora o comandante do Exército justamente nessa parte de comunicação.
Assim como existem as mídias sociais do Exército, existem as mídias sociais dos comandos militares de área. Então, nós temos aí, comando militar do Nordeste, comando militar do Sudeste, comando militar do Sul, do Planalto, do Leste, do Oeste, da Amazônia e o do Norte, que é o que a gente está inserido. Então, dentro dessa hierarquia, por isso que eu falei que ela não atrapalha, dentro dessa hierarquia, há um alinhamento.

I.N: 64% dos militares identificaram falhas de comunicação interna como fatores que dificultam a resposta em situações de emergência real, como desastres naturais e atentados simulados. Como o batalhão se prepara para ações de comunicação em casos de emergência?
C.L — A gente verifica muito a questão do histórico. Então, vou te dar um exemplo. A gente tem no começo do ano as enchentes. Então, no começo de janeiro ali, a gente já deixa pronto um módulo, que a gente chama módulo enchente, justamente para que, se for acionado, a gente já ganhe tempo no sentido de dar uma assistência efetiva o quanto antes para a população ou para quem quer que seja abalado por esse tipo de desastre.
Então, agora, daqui a pouco, teremos a questão das queimadas. Já começou um foco ou outro. Então, a gente já, desde março, abriu, na verdade, nós realizamos instruções com os nossos militares, junto ao Corpo de Bombeiros, e daí a importância da parceria entre as instituições.
I.N: Em 2020, circulou nas redes sociais a informação de que o Exército estava se preparando para tomar o poder em caso de instabilidade política. Então, como o Exército lida com essas possíveis fake news e a desinformação?
C.L — Fake news, a gente tem, como eu te falei, todas as determinações vêm da nossa cadeia hierárquica. Então, a gente tem uma cadeia hierárquica que repassa para os escalões subordinados todas essas informações ou todas as diretrizes.
I.N: Qual deve ser o papel da comunicação em qualquer instituição militar?
C.L — A comunicação hoje é fundamental. Na verdade, ela sempre foi, mas hoje eu acredito que, devido ao advento das mídias sociais, da informação, do acesso a essa informação, da facilidade que as pessoas estão tendo à informação, isso ganhou ainda mais importância. Então, dentro aqui, por exemplo, da nossa organização militar, diante de todas aquelas atividades que eu te falei, das formaturas, das reuniões e tudo, é fundamental porque a gente consegue passar para o subordinado de uma forma mais palpável qual que realmente é a ação que ele tem que desencadear. Então, a comunicação é muito de quem também transmite.
Então, essa transmissão de ordens é fundamental para que o que seja executado realmente seja aquilo que foi planejado. E aí, tanto em ações mais simples quanto em ações como a do preparo e emprego, nas operações que a gente realiza
I.N: O senhor acredita que a comunicação fortalece a imagem do exército?
C.L — Claro que fortalece, até pela disseminação do trabalho que nós realizamos. E eu acredito que não só para o exército, mas é importante todas as instituições estarem voltadas para essa parte informacional, para essa parte da comunicação, das relações públicas, das relações institucionais, porque o mundo hoje conectado exige isso. Tem que ter uma conexão entre as instituições.