Entre dúvidas e descobertas: O dia em que decidi ser jornalista

Por: Bruno Guilherme

Crianças participam de uma atividade recreativa, mostrando criatividade e energia em forma descontraída. Foto: Bruno Guilherme.

Era 13 de junho de 2023, uma tarde de sábado ensolarada. Aquele dia, que poderia ter sido apenas mais um no calendário, acabou se tornando um marco na minha vida. Com a mochila nas costas e o coração acelerado, eu estava prestes a realizar meu primeiro trabalho na faculdade de Jornalismo. O professor de Redação Jornalística, com sua voz serena e gestos firmes, havia nos desafiado a produzir uma reportagem sobre algo relevante que estivesse acontecendo em nosso bairro. A tarefa parecia simples: escolher uma pauta que nos chamasse a atenção e mergulhar fundo na investigação. No entanto, por mais que as aulas anteriores tivessem sido ricas em teoria, a ansiedade me consumia. Afinal, esse não era apenas um trabalho qualquer, era o meu primeiro trabalho jornalístico, que seria publicado no site da faculdade.

Decidi fazer minha reportagem sobre um projeto social chamado “Clubinho”, que acontecia em uma igreja central no meu bairro. Era um espaço dedicado às crianças, onde elas podiam brincar, aprender e crescer em um ambiente saudável. A proposta me cativou imediatamente, talvez por sua simplicidade ou pela nobreza da causa. Eu sabia que ali, naquele pequeno projeto, havia histórias poderosas na espera para serem contadas. No momento em que cheguei ao local para começar a observar e entrevistar as pessoas, senti o peso da responsabilidade. Nunca havia passado por essa experiência antes. Não era apenas sobre escrever; era sobre capturar a essência de algo maior, sobre dar voz a pessoas que talvez nunca tivessem sido ouvidas.

As dificuldades começaram logo de cara. Crianças corriam e gritavam ao redor, enquanto algumas pessoas envolvidas no projeto evitavam qualquer tipo de interação. A sensação de vergonha era inevitável, mas tentei ao máximo não demonstrar minhas emoções naquela tarde de sábado. Enfrentar aquela situação foi como ser jogado em uma piscina sem saber nadar. Eu estava ali, na tentativa de equilibrar a teoria que havia aprendido com a prática que, até então, era totalmente nova para mim.

Entrevistar os colaboradores do Clubinho, líderes, participantes e até mesmo as crianças foi um desafio em vários níveis. Lembro-me de um garoto em particular, com apenas cinco anos de idade, que se tornou uma espécie de enigma para mim. Como conseguiria extrair palavras daquele pequeno, tão cheio de energia e, ao mesmo tempo, tão tímido? Eu ainda não havia estudado técnicas de entrevista e reportagem no curso, mas sabia que precisava de um personagem infantil para o meu texto. Foi nesse momento que descobri a paciência necessária para o jornalismo. Aprendi a esperar, a escutar, a buscar as palavras certas, mesmo que elas viessem em forma de sussurros.

Entrevistar os adultos foi complicado e, ao mesmo tempo, mais tranquilo. Quando eu me apresentava como estudante do primeiro período de jornalismo da UFMA, alguns se mostravam relutantes, que não queriam ser expostos. Eu precisava convencê-los de que era apenas uma conversa sobre como o projeto afetava suas vidas e, principalmente, a vida de seus filhos. Alguns aceitaram de imediato, enquanto outros me fizeram esperar longamente. Essas esperas, às vezes, eram recheadas de pequenos silêncios constrangedores, outras vezes, de diálogos cheios de desconfiança. Mas cada resposta obtida, cada olhar que conseguia capturar, era uma vitória.

Depois de todas as entrevistas, enfrentei um novo desafio: fotografar. Imagine só: tirar fotos de crianças correndo, pulando e brincando, e conseguir congelar esses momentos em uma única imagem, sem ainda ter estudado a disciplina de fotojornalismo. A câmera, antes vista como um simples equipamento, se tornou uma extensão dos meus olhos. Tentei capturar a essência daquele lugar, a alegria das crianças, a dedicação dos voluntários. Cada clique era um passo a mais na construção da minha reportagem. Mesmo com todas as dificuldades, consegui boas fotos, o que me encheu de empolgação.

Na entrega do texto e das fotos para o professor corrigir, ele se deparou com um material bem construído. Mal sabia ele o quanto me esforcei para reunir todas aquelas informações. O tempo passou, finalizei a disciplina e, no final do ano, durante o Simpósio de Comunicação (SIMCOM), fui convidado a apresentar minha reportagem sobre o Clubinho. O tema do simpósio era comunicação e moda e, a princípio, achei que meu trabalho não se encaixava. Porém, o professor me encorajou, dizendo que, independentemente do tema central, eu poderia apresentar qualquer assunto. Mesmo receoso e à beira da desistência, decidi aceitar o desafio.

No dia 8 de dezembro, com os nervos à flor da pele, entrei na sala para apresentar meu trabalho. A orientadora responsável por avaliar minha apresentação informou que eu teria apenas 15 minutos para expor todo o conteúdo. Imagine resumir um trabalho que levei um mês para concluir em apenas 15 minutos! Apresentei tudo, mas quando faltava um minuto, tive que encerrar rapidamente, sem nenhum fôlego.

Enquanto aguardava o resultado, uma enxurrada de pensamentos inundava minha mente. Será que fui claro o suficiente? Será que consegui transmitir a importância daquele projeto? Será que meu esforço seria reconhecido? Eu sabia que havia dado o meu melhor, mas a dúvida é uma companheira constante nas aventuras por caminhos desconhecidos. Mesmo assim, algo dentro de mim dizia que aquele trabalho tinha algo especial.

Ao final do dia, no aguardo dos resultados, eu já estava satisfeito só por ter participado. A experiência de defender algo que criei com tanto esforço foi gratificante. No momento em que os resultados começaram a ser anunciados, fiquei surpreso ao ouvir meu nome. Minha reportagem havia conquistado o segundo lugar na categoria “Reportagem Online” do SIMCOM. Eu, um aluno do primeiro período, havia conseguido algo que jamais imaginei.

Correr para o palco ao ouvir meu nome foi um momento único. Naquele instante, todas as dúvidas que eu tinha sobre o curso se dissiparam. Sempre tive dificuldade em acreditar no meu potencial, mas aquela atividade do primeiro período teve um propósito maior: mostrar que eu estava no caminho certo. Hoje, estou no meio do curso e feliz a cada momento. Antes, acreditava que as artes cênicas poderiam me realizar, mas foi naquele trabalho, naquela disciplina e através das dificuldades que enfrentei, que descobri e nasci para ser jornalista. O que antes parecia um desvio no meu caminho, uma limonada feita com os limões que a vida me deu, tornou-se o meu destino. E hoje, cada pauta que surge, cada história que conto, é um passo a mais na construção de quem eu sou.