Reportagem e images: Evellyn C.S. Lima.
Pauta: Kaline Sousa dos Santos
Conforme dados do Hospital Regional Materno Infantil de Imperatriz, o número de partos de mães adolescentes praticamente dobrou em um ano na cidade. Em 2015 foram feitos 572 procedimentos, já em 2016, o número saltou para 1033. O número de partos de mães adolescentes cresceu não apenas porque as jovens tiveram mais de um filho, mas também por outras adolescentes engravidarem pela primeira vez. Dos 572 partos de 2015, 222 foram de mães do primeiro filho. Em 2016, o número foi de 385 dos 1033.
Embora a o hospital não tenha dados sobre os motivos dessa mudança, quem lida diretamente com os jovens arrisca algumas possibilidades. É o caso da gestora adjunta do Centro de Ensino Dorgival Pinheiro de Sousa, Dogivani Madeira. Ela comenta que s na sua escola menos de 20% usa camisinha embora tenham acesso às informações e preservativos. “Na adolescência, naquele fogo da paixão, elas acabam tendo relações sem preservativo, achando que ‘nunca pode acontecer comigo’’. Eles não estão preocupados com a saúde do corpo, DST, etc., eles usam a pílula do dia seguinte ’’, explica.
E a gestora adjunta aponta ainda para um problema mais sério e preocupante, que é o aborto. Ela diz que muitas estudantes da escola já cometeram aborto. “Muitas abortam, já fiquei estarrecida porque nunca vi isso antes, mas aqui já passaram mal por causa do remédio”, diz.
Com o passar dos anos e as mudanças graduais na sociedade, contar aos responsáveis sobre a gravidez também mudou. Dogivani já trabalha na área da educação há muitos anos e destaca essa diferença. “Antigamente elas sentiam vergonha de contar sobre a gravidez, hoje elas exibem como troféu. No terceiro ano elas já têm mais informações”, diz.
Gravidez e estudo
A coordenadora da Escola Graça Aranha, Karla Ribeiro Duarte, também percebeu o aumento de casos de adolescentes mães. Segundo ela, foram dois anos sem alunas grávidas, entre 2013 e 2014, mas que após esse período os casos de alunas grávidas voltaram a aparecer. Em 2016 foram duas alunas, e já no primeiro semestre de 2017 uma aluna engravidou. Embora a escola faça parte importante da vida de adolescentes, ela comenta que não há projeto sistemático para tratar sobre sexualidade; mas que em geral, a escola trata do assunto a partir de algumas disciplinas.
Segundo Karla, as moças que engravidam geralmente continuam os estudos, mas depois que os bebês nascem, algumas deixam de estudar. Ela destaca as dificuldades existentes em prosseguir nos estudos, pois é difícil conciliar os horários e atividades escolares com a maternidade. “Por exemplo, elas não chegam no horário, saem antes, é complicado. É difícil conciliar, especialmente no horário diurno. Ou a mãe da adolescente assume o menino, e se a mãe da adolescente trabalha e não pode assumir, ela acaba desistindo. À noite é melhor, mas pra adolescente entrar à noite é mais difícil”, diz ela.
Já Dogivani conta que depois de julho a incidência de meninas grávidas foi maior. “Tinham duas grávidas, uma desistiu e a outra teve o bebê e só volta em agosto. Tem uma que perdeu o bimestre e voltou agora, o bebê dela tem três meses, voltou após o resguardo. E tem duas à tarde que estão estudando, uma delas deve estar entre 6 e 7 meses de gestação, a outra não lembro”, contabiliza.
As dificuldades de conciliar estudos e maternidade na adolescência são muitas, mas existem garotas que seguem nos estudos. “Tem uma moça que engravidou que a aconselhei a continuar o Ensino Médio. Hoje ela faz Serviço Social na Pitágoras. Quando engravida que a gente conversa com elas aqui, a gente aconselha a continuar os estudos”, conta Dogivani, para mostrar a importância de apoiar uma adolescente que engravida.
Famílias construídas desde cedo
Grávida da primeira filha e com apenas 15 anos de idade, Maria da Conceição diz estar feliz com a gravidez. “Eu fiquei feliz e triste, né, apesar de ser nova demais. E eu queria tirar, mas só que ao mesmo tempo fiquei feliz porque é a primeira filha. Minha família aceitou. E o pai da bebê…nós estamos juntos. Estamos morando na nossa casa. A família dele também aceitou bem.”, diz. Sobre os estudos, Maria diz que não pretende deixar a escola. “Vou continuar, posso parar não, eu estudo em uma escola estadual”, comenta. Disse ainda que suas notas não foram prejudicadas por causa da gravidez, mas assim que a bebê nascer será preciso dar uma pausa nos estudos para continuar depois.
Aos 16 anos, Maria Nathalia Nascimento engravidou enquanto cursava o segundo ano do Ensino Médio. Ela conta com tranquilidade como foi sua reação ao descobrir que estava grávida. “Eu tinha segurança de que tudo iria correr normal porque já tinha planos para casar mesmo nova. Meu namorado e eu nos preparávamos para ficarmos noivos. Ele já era louco para ser pai.”, diz.
Sobre a reação de sua família, Nathalia conta que sua mãe ficou desesperada por não querer que sua adolescência fosse interrompida com tanta responsabilidade, mas que com o tempo ela entendeu e foi melhor. No ano seguinte, aos 17 anos, Nathalia engravidou novamente. “Hoje eu tenho três filhos com o mesmo homem, somos casados há quase oito anos e eu revezo com ele. Ele trabalha noturno dia sim dois não e eu trabalho diurno por meio período. Ele fica com nossos filhos. São duas meninas e um menino.”, conta ela.