Em ano marcado pela pandemia, vendas de livros sobem 48,5% no Brasil

Repórteres: Isabelle Gesualdo, Juliana Fernandes e Pedro Lucas

Diante de um cenário pandêmico, em que hábitos tiveram de ser reformulados, alguns brasileiros redescobriram o gosto pela leitura. Houve uma alta de 48,5% nas vendas de livros no Brasil, de acordo com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel).

No primeiro semestre de 2020, 18,9 milhões de livros foram vendidos e, de janeiro a julho deste ano, as vendas alavancaram, somando um total de 28 milhões de exemplares comercializados.

 

Gráfico elucida e compara o número de vendas nos primeiros semestres de 2020 e 2021

Os dados refletem dois momentos distintos: o início da pandemia, com as restrições e fechamentos temporários das empresas e um setor livreiro mais consolidado, em 2021, com o afrouxamento das medidas sanitárias e a reabertura das livrarias.

O pesquisador de livro-reportagem, Alexandre Maciel, comenta que os dados são uma surpresa, porque antes da pandemia, o mercado editorial passava por dificuldades, sobretudo financeiras. As livrarias físicas foram abaladas pelo fenômeno de promoções na Amazon que, por oferecer um preço abaixo do mercado, prejudicam as editoras.

As pesquisas de 2019 da Snel demonstram a crise pela qual o mercado livreiro passava, com uma queda acentuada entre os primeiros semestres de 2018 e 2019. Em 2018, 24 milhões de exemplares foram vendidos; já em 2019, os dados contabilizaram 21 milhões.

A explicação para a alta significativa no número de vendas durante a pandemia é que “as pessoas tiveram, em primeiro lugar, mais tempo para pensar em si mesmas. Mais tempo para pensar em sua formação, nas experiências de conhecimento e apreensão do mundo, que é isso que a leitura nos traz”, comenta o professor doutor Alexandre Maciel.

Apesar do progresso do setor livreiro no último semestre, publicar um livro durante a pandemia foi um desafio para alguns escritores. Lídia Taquary, autora do livro “Corpo, coração e cicatrizes”, comenta que, antes da publicação, pensou que os livros fossem vender de maneira rápida e fácil, mas tem sido um desafio desde a primeira tiragem, que aconteceu em março de 2021.

 

Crédito: Arquivo pessoal de Lídia Taquary

Escritora Lídia Taquary publica seu primeiro livro durante a pandemia

A escritora pensou em uma maneira lúdica de atrair leitores: “Tive que colocar a cabeça para funcionar. Dar acesso ao leitor a uma parte minha, não só com as palavras digitais, mas também por meio da carta. Acho que quem compra um livro quer sempre saber como é a letra do autor. Então, passei a mandar uma carta com cada livro que postava”, conta Lídia.

As inovações não partiram apenas dos escritores, as livrarias também tiveram que pensar em maneiras de não serem submersas pela crise financeira. Foi o caso da livraria Interativa, em Imperatriz, que passou a fazer drive-thru na entrada do shopping para vender os livros, quando o estabelecimento foi fechado, em março de 2020.

A atendente da livraria Interativa Nájila Daiane, 24 anos, conta que a procura por livros aumentou com o afrouxamento das medidas sanitárias e, além disso, novas oportunidades foram dadas aos motoboys “tem uns quatro meses que nós começamos a fazer entrega. Nós contratamos o moto-taxista e a taxa de entrega a gente dá para ele”.

O hábito da leitura sempre foi uma forma de bem-estar mental e, na pandemia, isso ficou ainda mais comprovado. A leitura é tão essencial que existe uma terapia à base de livros. O fenômeno da biblioterapia existe desde a Antiguidade, era utilizado na Grécia e Roma antiga.

No início do século 20, a biblioterapia foi comprovada cientificamente e hoje é utilizada em diversas partes do mundo, geralmente é aplicada em escolas, presídios, orfanatos e hospitais. O terapeuta é o próprio livro, por ser capaz de possibilitar o desenvolvimento pessoal do leitor e liberar emoções positivas.

A estudante de Engenharia Civil, Giuliana Santos, de 21 anos, comenta que, durante a pandemia, encontrou tempo para a leitura. Antes, o tempo era gasto com as disciplinas da faculdade e, com isso, teve contato apenas com os livros acadêmicos e deixou os demais de lado.

 

Não ficção foi o gênero mais comprado em 2021, de acordo com os dados do Snel

De agosto a dezembro de 2020, a universitária leu 50 livros e mesmo com a volta às aulas, o hábito permaneceu “foi uma forma de ir a outros mundos, outros lugares, tirar o foco de todo esse caos. Então, os livros me ajudaram bastante”, conta.