Dos projetos sociais ao cargo de presidente da Câmara: entrevista com a vereadora Alcione, de Campestre (MA)

                                                                             Repórteres: Enia Ocean e Giulliane Andrade

                                                                               Fotos: Alcione Resende

 

 

Alcione de Araújo Cunha Resende, natural da cidade de Porto Franco – MA, tem 33 anos, é casada e tem um filho. Engenheira de alimentos formada pela Universidade Federal do Tocantins, Alcione foi eleita vereadora pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) com 201 votos – 2,64 %, pela cidade de Campestre – MA. A cidade que fica localizada no interior do estado Maranhão tem 26 anos de idade e tem uma população estimada em 14,453 mil habitantes [2020]. A cidade conta com 9 vereadores, entre eles Alcione, que é a primeira presidente da Câmara de vereadores da cidade.

Alcione é uma mulher que desde sempre gostou de trabalhar com projetos sociais e desenvolve um papel bastante importante na Câmara, e como em todas as funções na política, enfrenta algumas dificuldades. Sendo o primeiro mandato de Alcione e logo de cara ser eleita a presidente da Câmara de vereadores da cidade de Campestre fez com que ela enfrentasse algumas dificuldades a mais em relação aos seus outros colegas, Alcione diz “tive algumas dificuldades a mais pelo fato de ser mulher, e de ser o meu primeiro mandato e ficar meio perdida inicialmente em algumas funções.”

Como primeira presidenta da Câmara ela não pensou nas dificuldades ou em toda a politicagem, pensou apenas nas pessoas que precisam de ajuda. Seu objetivo é dar uma voz para aqueles não tem, algo que não se vê em candidatos na política de hoje.

É importante retratar os objetivos e dificuldades enfrentados por mulheres em posição de poder, pois, em pleno o século 21 é difícil encontrar políticos que de fato queiram usar o seu cargo para o bem do povo. Ainda mais mulheres que entram de cara em um cargo importante sem total conhecimento de suas funções.

Nesta entrevista concedida por Alcione, ela retrata algumas dificuldades enfrentadas até agora em seu mandato como vereadora e presidente da Câmara.

 

Imperatriz Notícias – O presidente municipal da Câmara de vereadores além e integrar a mesa diretora também preside e é o representante legal da Câmara, tanto nas relações externas como nos trabalhos internos, no seu cargo nos trabalhos internos você desempenha as funções legislativa de direção e de administração, quais as maiores dificuldades até agora enfrentadas ao desempenhar essas funções?

Alcione de Araújo Cunha Resende – Eu tive muita dificuldade nas primeiras sessões, em organizar, de entender como funcionava as sessões, então eu tive que ir atrás de assessoria legislativa pra eu estar sendo orientada, porque eu nunca tinha participado de uma sessão, então eu tive muita dificuldade nessa organização, de como funcionava a sessão, qual hora falar, de como proceder, todo esse funcionamento.

I.N – Sobre o cargo de representação que o presidente da Câmara exerce principalmente nas relações externas, você encontra mais facilidade ou dificuldade em exercer essa função em relação as outras internas?

A.A.C.R – Na verdade no momento eu ainda estou me adaptando a esses encontros externos, então eu creio que nem facilidade e nem dificuldade em relação as funções internas, creio que as duas partes têm suas iguais responsabilidades e dificuldades, esses encontros externos são estar com prefeito, deputado, e no início eu ficava meio “aérea” não sabia o que falar, e aí a gente tem que estar se atualizando e buscando conhecimento, e é isso que eu estou fazendo, porque existem muitos encontros, participações, o Ministério Público mandando convites e tudo eu tenho que participar, tudo que acontece de órgãos públicos eles me mandam convite para eu estar representando a Câmara e eu tenho que estar com esse conhecimento da minha função, tanto de vereadora, como de presidente da câmara.

“no mês de fevereiro eu tive atrito com alguns colegas vereadores, por não concordar por posições colocadas por eles, mas com algumas conversas conseguimos resolver, e pensar no bem coletivo da população. Existe algumas divergências de opiniões, mas quando se trata de melhorias para a população, todos estão na mesma direção”

I.N – Na vida política existem muitos atritos com outras pessoas do meio, você já teve atrito com algum colega da Câmara por não estar sempre de acordo com as propostas feitas por eles?

A.A.C.R- Já sim, no mês de fevereiro eu tive atrito com alguns colegas vereadores, por não concordar por posições colocadas por eles, mas com algumas conversas conseguimos resolver, e pensar no bem coletivo da população. Existe algumas divergências de opiniões, mas quando se trata de melhorias para a população, todos estão na mesma direção.

I.N – Já recebeu pedidos inconvenientes de apoiadores ou da população em geral que acreditam que você deve algo a mais do que lhe compete o cargo de vereadora por eles terem votado em você?

A.A.C.R – Até agora ainda não, não recebi nenhum pedido que eu considerei inconveniente. As pessoas chegam até mim para pedir emprego, em relação a isso já recebi inúmeros pedidos.

I.N – Você já teve algum projeto rejeitado por falta de verba?

A.A.C.R – Não algo que eu indiquei direto, quando eu assumi como vereadora e presidente da Câmara, já estávamos em pandemia da covid-19, e diante de toda a situação estamos trabalhando com recursos reduzidos. Então estamos priorizando projetos na área da saúde que são facilmente aprovados por todos os vereadores.

I.N – O cenário político atual é muito estereotipado pelo fato de existir muitos políticos corruptos, na sua opinião esse estereótipo se torna uma barreira ou dificuldade na hora de exercer sua função e mostrar trabalho para a população?

A.A.C.R – Realmente, é um dos pontos que eu sinto mais dificuldade na política, porque acaba generalizando e assim as vezes a gente quer trazer projetos bons para a comunidade, inserir políticas públicas e aí acaba generalizando essa questão da corrupção, e esse era um dos fatores pelo qual eu nunca tinha ingressado nessa área política, por conta desse estereótipo que todo político é corrupto, então tirar isso da cabeça das pessoas é muito difícil, então eu acho que é um dos pontos que eu acho que tem mais dificuldade e acaba também as vezes desmotivando, tem dias que eu fico desmotivada em relação a isso , de querer mostrar serviço de querer trazer benefícios de inserir programas, e aí ser também generalizada e comparada à outros políticos.

I.N – Além dos desafios normais na vida política, teve algum desafio a mais ou chegou a ser subestimada por ser mulher?

A.A.C.R – Sim, cheguei sim a ser subestimada por ser mulher, principalmente por aqueles mais experientes, em que via eu ali totalmente inexperiente na área assumindo um cargo de presidência, e o preconceito maior né, por ser mulher, então existe muito preconceito dentro da Câmara e surgiu até por parte das mulheres também, porque as vezes as mulheres não se sentem capazes de assumir um cargo com tanta responsabilidade, um cargo tão grande e acabam tendo preconceito com outras mulheres e algumas pessoas da própria comunidade também tiveram preconceito, no início eu senti muita dificuldade em relação a este ponto, mas aí a partir do momento que eu comecei a exercer a função e mostrar serviço eles tiveram outra visão de que eu realmente sou capaz de assumir e de estar nesse cargo.

I.N – Como divide seu tempo entre sua vida política e a vida pessoal?

A.A.C.R – Geralmente a minha rotina é bem planejada para que saia tudo certinho. Eu trabalho na Câmara pela manhã, tiro um período de tarde para ficar em casa e cuidar do meu filho, e a noite eu estudo. Final de semana gosto de ficar em casa, saio com a família e também faço um trabalho social aqui em Campestre no sábado.

I.N – Mesmo com algumas dificuldades, pensa em se candidatar novamente, fazer tudo outra vez?

A.A.C.R – Nos primeiros dois meses eu queria até desistir sabe?! E aí, como eu falei a gente acaba se adaptando e agora eu consigo ver por outra visão, outro ângulo, que eu consigo fazer a diferença, então eu faria totalmente tudo novamente, a campanha de novo, a barreira que nós enfrentamos porque eu estou vendo uma luz no fim do túnel, que eu vou conseguir ajudar as pessoas e implantar os projetos que eu entrei pra fazer, apesar de qualquer dificuldade.