Celebração iniciada por Chico Capela une fé, tradição e desenvolvimento
Betânia Silva
O Festejo de São José é uma tradicional celebração cristã que acontece do dia 10 a 19 de março, em homenagem ao padroeiro do povoado São José dos Pereiras, situado no município de Carolina (MA). A tradição teve início em 1954, com a chegada de Francisco Gomes Araújo, conhecido como Chico Capela, considerado o grande incentivador da devoção ao santo na região.
De acordo com Maria Diana Leite de Sousa, de 67 anos, filha de Chico Capela, seu pai chegou à localidade como integrante de um batalhão encarregado da construção de estradas. Encantado com a paisagem e com uma mulher com quem viria a se casar, decidiu fixar moradia no lugar. “Ele chegou no mês de março, mês dedicado ao padroeiro da comunidade, e achou por bem organizar uma homenagem ao Santo”, relata Diana.
Antes da presença de Chico, os momentos de oração aconteciam nas residências e as festividades eram realizadas apenas nos finais de semana, de forma simples e improvisada. Diante disso, ele resolveu construir uma pequena capela de palha para reunir os fiéis em um espaço exclusivo de veneração.

Primeiras Barracas
João da Cruz Alves de Sousa, de 73 anos, foi o pioneiro entre os barraqueiros da festa. Ele relembra que, no início, as barracas eram montadas com palha de buriti, cobertas por folhas de piaçava e iluminadas com lamparinas a querosene ou lampiões. “Quando chovia, molhava tudo e as lamparinas se apagavam. Ficava um breu total”, conta.
Naquele tempo, não se vendia cerveja. A única bebida comercializada era a cachaça pura, o que fazia com que os frequentadores se embriagassem com facilidade. João também relembra que moradores de povoados vizinhos vinham a pé, trazendo cera de abelha e sebo de gado para acender velas e iluminar o caminho durante a noite.

Diversão
Próximo à igreja havia um campo onde, após as missas de fim de semana, moradores se reuniam, muitas vezes até altas horas, transformando os encontros religiosos em animadas confraternizações.
A igreja também promovia uma brincadeira chamada “Sentinela”. Ao final das rezas, era montada uma espécie de “roça” com frutas, onde um participante ficava como guardião, munido de um chicote. Os demais tentavam pegar o máximo de itens possíveis sem serem atingidos.
Outra brincadeira que marcou época durante o Festejo de São José foi o “Grilo”, composta por cinco a sete participantes. Na dinâmica, os jogadores formavam uma fila, enquanto outro permanecia do lado de fora, segurando um cipó. Essa pessoa se aproximava da fila e perguntava ao primeiro integrante onde estava o grilo. A resposta era sempre a mesma, “Ele tá lá atrás”. Assim, o condutor da brincadeira seguia até o último da fila, que precisava correr rapidamente para alcançar a frente antes de ser tocado com o cipó. Essas atividades fizeram parte das memórias mais antigas dos moradores.

Economia
Durante o período do festejo, é comum a prefeitura enviar equipes para realizar a limpeza das vias e trocar a iluminação pública, contribuindo para a organização e o brilho da celebração. O atual proprietário do terreno onde ocorrem os eventos aluga os espaços para quem deseja instalar barracas. O ambiente abriga uma variedade de comércios, com venda de bebidas, comidas típicas, brinquedos, além de estandes de tiro ao alvo e parque para o entretenimento das crianças.
Todos os anos, duas festas são realizadas: a primeira sob responsabilidade dos moradores da comunidade e a segunda, organizada pelos comerciantes. Toda a renda arrecadada é destinada aos respectivos coordenadores de cada celebração.

Fé
“É um momento de muita fé e gratidão”, destaca Darlan Sousa, secretário da Igreja e coordenador geral do grupo de Louvor e Adoração. Segundo ele, o novenário representa um ato de devoção, no qual os fiéis cumprem promessas em agradecimento às graças alcançadas por intercessão de São José. Durante a programação religiosa, acontecem leilões de comidas oferecidas pelos responsáveis de cada noite.
Quando necessário, a igreja também organiza bingos beneficentes para ajudar famílias de comunidades vizinhas que estejam passando por momentos de necessidade. A programação se encerra com uma procissão pelas ruas do povoado. A imagem de São José é carregada nos ombros pelos devotos até o retorno à igreja, onde é celebrada a missa de encerramento, seguida por batizados.

Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, desenvolvido em parceria com a disciplina Laboratório de Produção de Texto I (LPT), chamado “Meu canto tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.