“Sou um operário das palavras”, diz jornalista Zema Ribeiro

Jornalista é autor de um livro-reportagem que trata sobre o ritmo musical choro no Maranhão

Jornalista mergulhou no universo dos músicos tradicionais de choro no Maranhão

Texto: Andréia Liarte

Fotos: Divulgação

O jornalista maranhense, Zema Ribeiro, 39 anos, formado pela faculdade Estácio de São Luís, é fã de cultura, área  que o levou à paixão pelo jornalismo cultural. Zema é coautor do livro Chorografia do Maranhão, que é resultado de uma série de 52 entrevistas com 54 instrumentistas do estilo musical conhecido como choro, produzidas para o jornal maranhense O Imparcial. O livro foi elaborado em conjunto com o sociólogo e radialista Ricarte Almeida Santos e o fotógrafo Rivanio Almeida. “Íamos colocar os instrumentistas de choro para contar as suas histórias, e tal. A preocupação que a gente tinha era que esses mestres eram senhores de idade, que vão morrer sem deixar uma gravação de uma música, de uma composição, de uma execução”, explica Zema Ribeiro.

O jornalista diz que o nome do livro surgiu da necessidade de mostrar a profundidade do ritmo musical. “Eu fiquei matutando e me veio da ideia de Chorografia do Maranhão, que brinca com a geografia, delimitada no Maranhão, na própria palavra, e inventa uma palavra nova. Chorografia quer dizer a ‘escrita do choro’, ‘a grafia do choro’, os próprios chorões escrevendo suas histórias”.

Para Zema Ribeiro, é importante que haja respeito entre o entrevistador e o entrevistado. “A entrevista dura de uma a uma hora e meia, você vai ficar sem fumar esse momento, independente do seu vício. Por mais que o entrevistado diga que não se incomode, você não vai beber, você tem que estabelecer uma relação de igualdade com o seu entrevistado. Em sentido nenhum você é maior que ele e nem ele de você”, detalha.

Paixão

O escritor relembra um fato inusitado que aconteceu durante uma de suas entrevistas. “Teve um músico que era evangélico e cego e disse: ‘Eu peço uma gentileza para vocês, é que não me levem para um bar, pois se passar um irmão da igreja vai pagar mal.’ Tudo bem, a gente fez a entrevista em uma praça, mas atendemos o seu desejo”, conta Zema.

O jornalista diz que se dedica à elaboração de livros-reportagem por prazer e amor, tanto ao assunto, como à profissão. “Se eu fosse cobrar e monetizar o trabalho de transcrição, ia dar muita grana, mas eu fiz tudo por amor. Grana não é o mais importante. A chorografia me deu uma projeção de jornalista especializado de choro, eu nem me considero”. Zema Ribeiro prefere, na verdade, ser definido como “pedreiro do jornalismo”, um “operário da palavra”.  “Eu tenho uma espécie de doença pelo jornalismo, um vírus, algo que me contaminou e que não consigo me livrar isso”.

A entrevista original com o jornalista foi feita no contexto da pesquisa Jornalistas escritores de livros-reportagem no Nordeste, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Jornalismo de Fôlego, do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, pelo estudante e pesquisador João Marcos dos Santos Silva.