Influenciadora digital de Imperatriz conta como é andar na moda e estar de acordo com doutrina evangélica

Texto: Lícia Gomes e Rafaela Pinheiro

Fotos: Rafaela Pinheiro

A digital influencer de moda cristã,  Raimara Feitosa Pedrosa, 23 anos de idade, natural de Imperatriz, é formada em Marketing pela instituição de ensino Facimp desde 2017. Possui atualmente 70 mil seguidores no Instagram. Seu conteúdo é voltado marjoritariamente para pessoas cristãs, no entanto, possui seguidores que não compartilham de sua mesma religião, mas que se inspiram e se espelham em seu estilo de roupa e em suas dicas de decoração para quartos.

Iniciou sua carreia em março de 2018 com sua primeira parceria com a loja San Jeans, em junho, atuou com dicas de roupas para a Expoimp. De acordo com seu crescimento, surgiram novas parcerias com algumas grandes lojas da cidade, por exemplo, lojas Economia e Destak Modas. E isso a ajudou no seu crescimento como digital influencer.

No início, Raimara Feitosa não tinha nenhum pensamento de ingressar nessa carreira, foi algo que aconteceu por acaso. Começou quando ela comprou uma saia midi (modelo de cumprimento até pouco abaixo do joelho), pois até então só usava saia jeans, tradicional do estilo assembleiano.  Na época estava em alta o uso de saia com tênis. “Quando começou a moda do midi e da saia com tênis, eu não usava”, comenta ela. A partir de então, se identificou com uma nova forma de se vestir, e passou a publicar fotos montando roupas estilosas, conciliando com o seu estilo evangélico. Foi então que sua rede social Instagram começou a ser encontrada e seu número de seguidores aumentou.

Por ser formada em marketing, ela trabalhava como mídia social e tinha o desejo de abrir uma agência em sua área de formação. Mas quando percebeu que o seu Instagram estava ganhando muitos seguidores, deixou de lado seu trabalho e passou a investir tempo e conteúdo para o seu perfil. “Aproveitei meu tempo e minhas ideias e peguei o conhecimento que já tinha em marketing para me ajudar”, diz Raimara.

Ela nasceu em berço evangélico e congrega na Assembleia de Deus do Ministério da Missão. A população atual de Imperatriz é estimada em 258.016 pessoas, segundo o IBGE. Desse total, cerca de 35% são pessoas evangélicas de variadas denominações. Por este motivo, seu segmento de roupa é voltado para o público cristão. Por preferência em montar looks, decidiu inovar a forma de como a mulher cristã se veste, adaptando as roupas que estão na moda. Em Imperatriz, na área de digital influencer de moda cristã, ela é uma de duas que atuam nesse segmento.

 

Imperatriz Notícias Em seu feed você não tem foto usando calça, e hoje em dia, já é algo normal entre os cristãos evangélicos. Por que você não posta?

Raimara Feitosa: Eu não considero pecado, nem a igreja. As pessoas tem mania de ficar falando que é pecado e que as pessoas vão para o inferno. Não é bem assim. Simplesmente é uma doutrina da Assembleia de Deus, é uma regra. Acho que isso tem a ver com o machismo, de as irmãs não poderem tirar a sobrancelha, depilar as pernas, usar maquiagem, ou cortar o cabelo. Hoje em dia é diferente. Acredito também que depende de cada pastor, alguns não abrem mão da tradição, digamos assim. Eu já usei calça, usei até março do ano passado, depois que eu comecei como digital influencer, não usei mais. Pra não correr o risco, dei todas as minhas calças, comprei outras saias e fui usando. Então eu não uso em respeito a minha doutrina, a religião, a minha igreja e meu pastor.

I.N – Com relação a deixar de usar calça, você não sente mais falta?

R.F – Qualquer lugar eu vou de saia ou vestido. Mas para a academia não é conveniente que eu vá de saia, ou para um passeio, que precisa subir uma serra, vou usar uma legue, ou uma calça que é apropriado para estes momentos.

I.N – Você já recebeu alguma proposta pra divulgar algo que não condiz com o seu perfil de trabalho? 

R.F – Já recebi e recusei todos os convites. Teve várias lojas que ficavam insistindo, “ah mais é só uma blusa, por que isso?”. Então, me senti desrespeitada, um preconceito digamos assim. Eu não me senti bem, isso é muito ruim.

I.N-Vi que no seu Instagram você indica cor de esmalte, por mais que não seja cores fortes, você pinta unha. Como você se vê sendo influenciadora da moda cristã e pintar unhas, já que para algumas denominações isso não é indicado?

R.F- Antes eu mostrava cores bem clarinhas, pois eu tinha um pouco de receio. Por exemplo, eu usava um marrom quase preto e algumas pessoas começaram a falar: “nossa esse esmalte tá muito escuro”. Aí eu mudei, comecei a usar uns claros. Mas acho que tenho quer ser eu mesma, ser verdadeira, se gosto de uma cor mais forte por que não vou falar que gosto? Se o pecado é pintar unha, pois pronto, não existe essa questão de não poder pintar de preto ou marrom, mas de branco e rosinha pode, não tem isso. Se é errado, pois que não pinte, deixe ela do jeito que é. E por causa da minha igreja, do tipo de doutrina que sigo, opto pelas cores claras, até porque eu gosto, não vejo isso como pecado. Mas na minha igreja, por exemplo, pode cor clara, só não escura.

I.N-Você recebeu críticas ao se tornar blogueira? Já que a doutrina da assembleia é muito tradicional e conservadora. 

R.F- Eu não recebi críticas, “Deus me livrou dessas pessoas”.  Mas eu mesma já pensei: meu Deus vou começar isso, e as pessoas irão falar mal, já que a assembleia é muito criticada, sabe. Usar saia, para algumas pessoas, é considerado como uma moda brega. Por este motivo, pensei em trazer isso de uma forma diferente, com a intenção de mudar a mente das pessoas. Eu não usava muita saia, achava feio. Não tinha aberto minha mente para outras opções de looks. Por isso, comecei a colocar a moda evangélica como uma coisa interessante, em que as pessoas pudessem ver e quisessem usar e não criticar.

I.N- Percebi que de acordo com seu feed, você usa vários estilos de roupa, e algumas roupas tem detalhes, como fenda, ombro a ombro, saia acima do joelho e roupas de alça. Detalhes esses, que não são comuns na orientações, digamos, assim, da moda evangélica. Como acontece essa seleção?

“Usar saia, para algumas pessoas, é considerado como uma moda brega. Por este motivo, pensei em trazer isso de uma forma diferente, com a intenção de mudar a mente das pessoas”

R.F– Já rendeu muito comentário. As pessoas falavam, “a fenda tá muito grande”, “isso não representa a moda evangélica”. Eu não vou em uma loja de moda evangélica, vou em uma loja normal, e lá dentro eu tento montar o look no meu segmento. Em relação a fenda e ombro a ombro, é algo que está muito em alta, e é um tabu para alguns cristãos. Depois dos comentários, comecei a perceber e, realmente, no meu perfil está como moda evangélica e eu estou postado algo que não tem muito a ver.  Mas acontece que às vezes uso apenas por proposta de trabalho, por isso acabo postando. Porém, hoje faço de tudo pra não acontecer mais isso, de postar uma roupa muito vulgar.

I.N – Seu Instagram tem mais de 70 mil seguidores e não são apenas pessoas evangélicas, como você faz para atender essa diversidade de seguidores? 

R.F – Eu não consigo atender essa diversidade, porque só uso saia e vestido, e muitas pessoas não têm inspiração de looks com calça.  Só que muitas que não são evangélicas começaram a usar o que eu uso. Inúmeras vezes já me falaram que mudaram sua forma de vestir, de tanto me virem mostrando. Por mais que eu não consiga alcançar pessoas que só usem um tipo de roupa e não conseguem usar o meu, tem várias outras que conseguem se adaptar ao meu estilo. Porque eu não vou mudar para agradar os outros. Vou continuar no meu segmento, pois consigo alcançar outras pessoas, por exemplo, tem gente que não frequenta a igreja e fala que gosta de ver minhas fotos e meus stories, pois não é um look assembleiano raiz, é algo que dá pra todo mundo usar.

I.NComo você faz para estar no seu segmento, moda, e ao mesmo tempo se vestir decentemente, de acordo com o padrão evangélico?

R.F – Eu pego o que está na moda e tento trazer para o estilo cristão. A igreja não é de usar o que está na moda, algumas pessoas falam que é cosia do “diabo”, e isso não tem nada a ver. É a moda, é a roupa! É roupa bonita, entendeu?! Então, saia com estampa de poá, aquelas blusas de manga bufante, néon, sabe. Eu tento adaptar tudo o que lança pro meu estilo, para eu ficar estilosa naquele padrão. Porque ninguém é obrigado a se vestir de uma forma mais antiga, brega.

I.N – Você considera braga o estilo de roupa evangélico?

Assim, aquelas roupas, aqueles jeans feio. A moda evangélica raiz é um pouco antiquada para mim. Tem umas coisas muito feias, e por isso gosto do estilo mais atual, né. Mas assim, a “moda evangélica” não acompanha a moda atual. Eu não consigo me adaptar naquelas looks, não consigo.Por que acho brega e está na hora de mudar. É por esse motivo que uso looks mais atuais, para justamente mostrar para as meninas que não precisam vestir aquelas combinações estranhas, entendeu. Que elas podem vestir uma roupa mais atual e ainda assim se vestir com modéstia.

I.N – Antes de começar na carreira de digital influencer, você viajou para a praia e postou foto de shorts. Por mais que essas fotos sejam bem antigas, você não acha que isso atrapalha seu trabalho por estar ligada a moda cristã?

R.F – Eu não vou fingir que não vou para a praia, não vou fingir.  Então eu deixei lá. As pessoas também irão ver a data e vão saber que é antiga. Mas se eu fosse novamente e tivesse que postar, postaria do jeito que eu estava lá, sabe. Porque não adianta eu ir para a praia e pensar: eu não vou postar nenhuma foto, entendeu. Acho que isso não é legal. É bom você mostrar o que veste mesmo, o que você usa. E se eu fizer isso, vou mostrar e falar que estou usando aquilo, e vou dá a minha opinião sobre.

I.N – Hoje em dia algumas Assembleias de Deus já liberam acessórios que “pessoas do mundo” usam, digamos assim. Por exemplo, brinco, cordão, short e  roupas sem manga. Percebi que você não usa alguns desses assessórios. Por que?

R.F – Eu não tenho a orelha furada, né. E minha mãe me mataria (risos). Nunca usei colar, nem brinco. Não me sinto a vontade, pra mim é normal não querer. É como a calça, a minha igreja não permite. A minha doutrina não permite usar brinco, nem colar. Então não vou usar, sabe. Já me questionei, “ah porque não pode usar brinco?”, “porque não pode usar colar pra foto? essas coisas. Mas eu sou da Assembleia de Deus, então eu vou dar testemunho cristão. Eu não vou usar, porque quero ficar conhecida para quem me ver saber que sou da assembleia e saber que sou crente. Então eu não me importo se não uso brinco, se eu não uso colar. Nas fotos eu nem sinto falta, pra mim não faz falta, então eu não uso.