“Eu não faço uma distinção entre a jornalista e a escritora’’, diz Fabiana Moraes

Professora, repórter e escritora pernambucana destaca o valor da subjetividade no processo jornalístico

Texto: Andréia Liarte

Fotos: Divulgação

Jornalista Fabiana Moraes também reflete sobre a subjetividade em seus trabalhos acadêmicos

Professora no Núcleo de Design e Comunicação da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), a jornalista Fabiana Moraes acredita que o jornalismo vai muito além do que costumamos convencionar. “O jornalismo não é um lugar onde eu escrevo o que eu vi no mundo e coloco ali como se fosse um espelho. O jornalismo é um lugar de narrativa. Então o jornalismo é um lugar de escrita, de escritores e escritoras. Eu não faço uma distinção entre a jornalista e a escritora’’.

Com mestrado em Comunicação e doutorado em Sociologia, além de ter trabalhado em jornais do Recife, Fabiana Moraes lançou o seu primeiro livro, Os Sertões-um livro-reportagem, em 2010. Ela também é autora de Nabuco em pretos e brancos (2012), que analisa como o status “embranquece os negros ricos e, quando ausente, escurece os pobres de pele alva”. Já O Nascimento de Joicy (2015) relata a saga de uma pessoa trans, ex-agricultor, que buscou o atendimento na saúde pública para adequar seu corpo masculino ao feminino. E o mais recente, Jomard Muniz de Britto – Professor em Transe, de 2017, conta a trajetória do cineasta, professor, filósofo e poeta pernambucano. A jornalista foi três vezes finalista do prêmio Jabuti e ganhou diversos outros, dentre eles três Esso, um Petrobras de Jornalismo, um Embratel de Cultura e dois prêmios Cristina Tavares.

Livro-reportagem Os Sertões é uma tentativa da jornalista de desmistificar o sertão nordestino

Seu primeiro livro-reportagem, Os Sertões, é derivado de uma reportagem publicada no Jornal do Commércio, de Recife, em 2009, vencedora do prêmio Esso nacional de jornalismo. Diante da repercussão, ela foi procurada por representantes da editora Cepe, de Pernambuco. “Eles perguntaram se eu não queria lançar um livro ampliando a reportagem. Fiz uma viagem para cinco ou seis estados nordestinos, com ênfase numa ideia de explorar um pouco do repertório do Euclides da Cunha. O livro-reportagem tinha a ver com os cem anos da morte de Euclides e a minha ideia era desmistificar um pouco sobre o sertão’’.

A jornalista relembra que em vez de procurar especialistas de outras regiões, preferiu os do Nordeste. “Para fazer Os Sertões eu escutei especialistas do Ceará, da Bahia. Misturei pesquisas de especialistas em literatura, geografia, em história dos escravos, porque tinha uma relação do sertão e a abolição da escravatura que me interessava”, detalha.

Subjetividade

Fabiana Moraes reflete, inclusive em seus trabalhos acadêmicos, sobre a necessidade de o jornalista escutar com atenção e respeito as suas fontes. “Pra mim ficou muito claro que havia, de modo geral, uma leitura muito superficial a respeito de vários grupos sociais a respeito do jornalismo e do jornalista. Uma leitura apressada e uma prática muito calcada no ‘eu não tenho tempo pra isso, não tenho tempo para pensar, porque eu estou correndo muito’. Isso começou a me incomodar cada vez mais”. Diante dessa constatação, a jornalista diz que passou a fazer algumas ponderações a respeito do seu trabalho, principalmente quanto à subjetividade: “Eu pensava: como é que a gente vai falar da vida das pessoas se a gente não tem tempo de refletir sobre o que a gente está escrevendo? Parecia um enorme contrapeso’’.

Para a escritora, cometer erros em livros-reportagens faz parte do aprendizado. “Eu acho que a gente, principalmente quem é pesquisador, quem é jornalista, precisa encarar o erro como algo que faz parte de todo o processo. Eu não encaro como uma coisa vergonhosa. Todo bom trabalho vai incorrer em um e outro erro sim, eu acho que é uma coisa que faz parte da carne, da pesquisa, do trabalho’’.

A entrevista original com a jornalista foi feita no contexto da pesquisa Jornalistas escritores de livros-reportagem no Nordeste, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Jornalismo de Fôlego, do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, pelo estudante e pesquisador João Marcos dos Santos Silva.