Entrevista: Gerente do Cine Star detalha a luta para manter o cinema em tempos de pandemia

Repórteres: Jainara Oliveira e Marcos Feitosa

Fotos: Ronny Rodrigues

 

Em 2020, a pandemia do novo coronavírus afetou diversos setores da sociedade, economia, saúde, em especial a cultura. Em Imperatriz não foi diferente! A cidade conta com dois cinemas que sofreram diversos impactos nesse período. Um desses é o Cine Star, localizado no Tocantins Shopping Center. Há 7 anos na cidade, o Cine Star vem  teve que fechar suas portas, em 19 de março de 2020, pela primeira vez. Desde o ano passado, entre aberturas e fechamentos, o cinema já contabilizou 4 meses de portas fechadas.

Com o decreto de N°77,  de reabertura dos cinemas, o Cine Star reabriu suas portas  dia 16 de julho de 2020, com  três filmes em cartaz. Além de um novo horário de funcionamento, seguindo todas recomendações  impostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como o uso de máscaras, distanciamento nas filas e poltronas, o cinema passou a ser higienizado antes e depois das sessões. O cinema passou 7 meses funcionando, mas novamente com os novos números de casos fechou outra vez. O último filme exibido foi Monster Hunter de Paul W.S Anderson. E apesar dos prejuízos que a pandemia acarretou no cinema, não foi necessário despedir nenhum funcionários. O cinema conta com 15 funcionários, para atender e auxiliar seu público.

Ronny Cícero B. Rodrigues, 35 anos, é gerente do Cine Star desde a inauguração em 2014. Formado em Administração de empresas, possui pós-graduação em marketing e atualmente estuda liderança inovadora. Ronny já atuou como encarregado operacional, professor de informática, designer e social media antes de ser o gerente geral do Cine Star. O amor pela sétima arte começou a 10 anos atrás. O que influenciou  sua jornada no cinema, Ronny foi o criador e realizador do primeiro cinema Drive-in do Maranhão. Um cinema ao ar livre, onde os espectadores podem assistir a sessões cinematográficas em um estacionamento dentro dos seus automóveis, com uma sincronia sonora banda larga de uma frequência de rádio.

Nesta entrevista concedida ao Imperatriz Notícias, Ronny conta quais foram os efeitos da pandemia e quais as estratégias serão necessárias para manter o cinema em dias turbulentos.

 

Imperatriz Notícias: Quais foram os impactos gerados pela pandemia no cinema?

Ronny Rodrigues: São incalculáveis para este momento, tendo em vista que os cinemas foram um dos primeiros a pararem durante a pandemia. Os cinemas dependem das grandes produções, com o lockdown em outros países e os grandes lançamentos sendo adiados, já começamos a sentir o impacto mesmo antes do Brasil começar a parar tudo. O fluxo de pessoas diminuiu muito, tanto pelo próprio medo do vírus, quanto pelos filmes disponíveis na programação que não eram atrativos. Na segunda onda nossa queda no faturamento tem sido de 75%.

IN: Em julho de 2020, o cinema começou a exibir filmes que já tinham sido lançados em anos anteriores. Como Liga da Justiça, John Wick – Parabellum, Um Lugar Silencioso entre outros. Houve uma boa aceitação do público ao rever estes filmes?

RR: Não muito, o que trouxe o público no primeiro retorno ao cinema, foi o fato de já estarem cansados de ficar em casa, aí assim que algumas atividades como lazer foram liberadas, independente da programação, percebemos que o intuito dos clientes era sair de casa para se distraírem.

IN: Quais foram as reações do público diante do fechamento do cinema?

RR: Muito tristes. Mesmo com a preocupação com o vírus, muitos dos clientes mais assíduos pediam nosso retorno.

IN: Consegue definir quais foram os prejuízos financeiros que o cinema teve neste período?

RR: Ainda não foi feito um cálculo exato, mas estamos em um momento atual de grandes prejuízos financeiros, tanto com aluguel de loja, energia, financiamentos e etc.

IN: Há algum ponto positivo neste cenário Epidemiológico? 

RR: Atualmente para a empresa não. Mas o que podemos levar em consideração é que o cinema fechado, pode ter evitado um maior contágio da população e sendo assim, podemos considerar que este seria um ponto positivo.

IN: Diante do novo decreto estabelecido pelo governo, qual seu ponto de vista em relação a que, bares podem continuar abertos e o cinema não, já que o cinema  segue todos os protocolos de segurança estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

RR: Entendemos que o governo quer reduzir a circulação de pessoas para evitar o contágio do vírus, mas diante dos últimos decretos, avaliando o que temos vivido atualmente nas salas de cinema e considerando o grande fluxo que tem nos bares, achamos totalmente errado. Os cinemas têm tido todo o cuidado necessário, o fluxo de pessoas não é alto como nos bares. Acreditamos que o governador possa rever nos próximos decretos.

IN: Como está lidando com todas as decisões estabelecidas pelos decretos?

RR: Estou atento a tudo que tem acontecido e tomando as decisões baseadas no que estamos passando atualmente. Quando o decreto do governo saiu, o município não aderiu e concordamos por continuar aberto. Mas com a decisão do Ministério Público, fechamos imediatamente, mesmo sem a prefeitura emitir um novo decreto. Após a prorrogação do decreto estadual, mesmo com o município liberando, decidimos continuar fechados, pois o momento pede isso. Os casos estão muito em alta, o público em geral já está mais preocupado e o fluxo de pessoas na cidade tem caído em todos os segmentos. Esta foi a maneira de lidar com o cenário das últimas semanas.

“Inclusive caso retornemos nas próximas semanas, o filme mais aguardado é “Godzilla vs Kong” que está previsto para ser lançado dia 8 de abril.”

IN: Quais serão as estratégias usadas para atrair o público neste período de pandemia, em que as pessoas estão preferindo ficar em casa para evitar aglomerações?

RR: Nosso maior atrativo tem sido os filmes lançados que as distribuidoras já tinham voltado a liberar. Inclusive caso retornemos nas próximas semanas, o filme mais aguardado é “Godzilla vs Kong” que está previsto para ser lançado dia 8 de abril.

IN: Qual o maior desafio de gerenciar um cinema em períodos tão difíceis?

RR: Muitos! Este cenário jamais foi imaginado. Lidar com a pandemia e com o cinema fechado tem sido surreal. Esse novo normal que estamos seguindo foi muito complicado. Eu tento sempre administrar o cinema como as grandes redes, sempre busco estudar o que eles estão fazendo e trago para nosso cenário local. Tem dado certo até aqui.

IN: Atualmente observa-se que os serviços de streamings vêm crescendo a cada dia. Como o senhor analisa este crescimento, quais consequências isso pode causar no cinema tradicional?

RR: Realmente o streaming tem sido tema de muito debate ultimamente, pois é um modo seguro de entreter quem está em casa, mas também algo que deixa o mundo dos exibidores bastante preocupados. O crescimento é natural diante do que estamos passando, já as consequências para cinema podem ser só temporárias. No meu ponto de vista o cinema nunca vai acabar. Os cinemas já passaram por muitas coisas desde o seu surgimento, a experiência na telona e a interação social que o cinema traz sempre será única.