Arte, educação e pandemia: a professora e bailarina Bruna Viveiros conta como foi se reinventar dentro de casa

Texto: Jonas Lima

Fotos: Wescley Aquino

Estamos enfrentando um dos maiores desafios da humanidade atualmente, a pandemia do novo coronavírus. Nesse cenário, a economia brasileira se viu em uma grande crise e diversos setores foram negativamente impactados pelas consequências da pandemia. Uma das classes que mais sofre com a situação atual é a classe artística, que teve que se reinventar para conseguir sobreviver com a arte.

Uma das artistas que viu a necessidade de adaptação foi a imperatrizense Bruna Viveiros, bailarina e coreógrafa que sentiu na pele a crise brasileira.  Tendo apenas 27 anos, ela começou a estudar balé aos 14 anos na Escola de Danças Flávia Homobono, tradicional na época na cidade, e em pouco tempo já estava ensinando as alunas mais jovens.

Bruna começou a dar aulas em 2008 para crianças no pré-ballet e hoje em dia ensina alunos das mais diversas idades, desde crianças com seus seis anos até adultos com mais de 40 anos de idade. A professora e bailarina tem uma carreira bastante consistente, já participou de pelo menos 12 espetáculos artísticos e tem quase 3 mil seguidores em seu Instagram. Atualmente dá aulas na Escola Santa Teresinha e integra a companhia Pasárgada, onde atua como coreógrafa e bailarina desde 2014.

Nessa entrevista, Bruna nos conta como tem sido sua experiência em ensinar balé de forma remota e como está sendo seu processo de adaptação com a quarentena ainda em vigência. Confira:

Imperatriz Notícias – Como era o cenário do balé em Imperatriz antes e qual a principal diferença para o cenário que existe agora?

Bruna Viveiros – No sentido da qualidade do balé que é oferecido hoje em Imperatriz, melhorou muito. Dez anos atrás a escola que eu fazia parte era a maior da cidade, eles se preocupavam em trazer um profissional para dar cursos, mas era muito difícil ter acesso a pessoas de fora, hoje é muito mais possível graças ao online. O barateio das mensalidades atraiu várias pessoas que já queriam fazer e achavam caro, porém tiveram muitas escolas e professores que perderam diversos alunos por questões de instabilidade financeira, por falta de adaptação para o online, nesse sentido foi bem difícil, foi um processo de reinvenção mesmo.

I.N – Quais são as dificuldades de ensinar balé no meio de uma pandemia?

B.V – A sociabilidade é uma delas, pois é totalmente diferente você encontrar com seus amigos no balé e se abraçarem, ter suas amigas ali que entendem você e suas dificuldades, então a falta de estar nesse ambiente de sala de aula é realmente muito diferente. Existe também a questão da tecnologia, às vezes sua internet cai, às vezes você não consegue entrar, ou o professor vai passar algo e sua internet está ruim, tudo fica atrasado. A transmissão do que você quer falar às vezes é prejudicada. São as questões tecnológicas mesmo.

I.N – Você nota se seus alunos enfrentam problemas para acompanhar as suas aulas?

B.V – Sim, principalmente na questão de entender o que você está falando, as dificuldades se concentram nisso. Existem também as dificuldades enfrentadas em casa, na sala de aula se tem um espaço amplo onde você pode correr e saltar, dentro de casa não tem como ser a mesma coisa.

“Quem quer fazer por hobby ou por amor saiba que não existe um perfil especifico de pessoas para fazer balé, você não precisa estar “perfeito” para fazer balé, você só precisar querer dançar”


I.N –
Como você vê o cenário geral da arte em Imperatriz nesse momento de pandemia?

 B.V – O que eu percebo é que têm muitas pessoas aproveitando para se reciclar, para fazer cursos que sempre quiseram fazer e não tiveram oportunidades antes, eu vejo que hoje as pessoas estão muito mais adaptadas ao online, não só em Imperatriz mais em vários lugares do país. Ainda existe a dificuldade das pessoas de se adaptarem ao online principalmente para pais de alunos crianças, onde realmente você precisa ter criatividade para ficar inovando para manter a atenção delas.

I.N – E como é dar aulas para crianças?

B.V – Para cada faixa etária existe um jeito diferente de transmitir o que você quer passar, procuro sempre ser muito didática. Para crianças é bom você trazer a ludicidade, você trazer elementos lúdicos para a criança entender o que você quer passar para ela, por exemplo, dizer “agora nos vamos pular que nem os coelhinhos” isso na aula online ficou mais forte, pois é essencial na hora de se comunicar com elas.

I.N – Durante a quarentena você aproveitou para fazer cursos. Como foi voltar a ser aluna dentro de casa?

B.V – Foi maravilhoso. Como estava parada há muito tempo, voltar foi um processo de entender que aquele ainda era meu espaço. Eu falava que não iria ser mais bailarina ia ser só professora, pois já não tinha o mesmo físico de antes, porém eu fui percebendo que voltar à sala de aula fez com que eu me redescobrisse como bailarina. Foi uma das melhores coisas que fiz por mim e hoje um dos meus maiores objetivos é voltar a ter aulas regularmente.

I.N – Qual foi seu momento de maior superação desde o início da quarentena?

 B.V – A primeira foi voltar a dançar, não ter medo de ser julgada dançando por ter estado um tempo parada.  Segundo foi uma autoconfiança não só no meu trabalho, mas de saber que tenho algo a oferecer. E terceiro foi aparecer na internet, passei a divulgar mais o meu trabalho e foi isso que me trouxe novas alunas e novas conexões, foi uma transformação muito grande começar a criar para a internet.

I.N – No ano passado você esteve bastante ativa nas suas redes sociais falando sobre o balé e destacando os entraves dessa arte em cidades pequenas. Qual era seu objetivo com essa presença maior no meio digital?

B.V – Eu estava com medo de perder meu emprego, então eu pensei que precisava aparecer, as pessoas precisam lembrar que eu dou aula.  Se eu fosse despedida ninguém saberia que eu dou aulas. Nisso, surgiram até parcerias, eu passei a ser patrocinada por lojas de balé, comecei a dar entrevistas e a participar de lives, isso foi algo que eu não esperava, mas aconteceu. As pessoas por alguma razão gostavam do que eu fazia.

“Ainda existe a dificuldade das pessoas de se adaptarem ao online principalmente para pais de alunos crianças, onde realmente você precisa ter criatividade para ficar inovando para manter a atenção delas”

I.N – Alguns dos temas que você mais destacava em suas redes sociais tinham a ver com os preconceitos que rodeiam esse mundo da dança, especialmente no balé clássico. Você acha que esse tipo de visão se acentua em cidades interioranas?

B.V – Como eu não conheço a realidade das grandes cidades eu não sei se sou capaz de fazer esse comparativo por não ter essa vivência, mas aqui em Imperatriz às pessoas têm pensamentos do tipo “Aí Bruna, eu tenho vontade de fazer balé, mas eu sou gordinha”. Aí eu me pergunto: “quem que disse para essas pessoas que elas precisam perder peso para fazer uma aula de balé?”. É claro que para fazer balé você precisa ter um corpo eficiente, porém quem não vai dançar profissionalmente, quem quer fazer por hobby ou por amor saiba que não existe um perfil especifico de pessoas para fazer balé, você não precisa estar “perfeito” para fazer balé, você só precisar querer dançar.

I.N – Esse ano você esteve mais afastada das redes sociais, apesar de ter criado muito conteúdo no ano passado. A que se deve essa mudança?

B.V – Então, ano passado eu tinha mais tempo para estar nas redes sociais por que tinha menos aulas, esse ano eu tenho alunos particulares e dou aula em duas escolas, estava com a cabeça completamente lotada, agora as coisas estão mais calmas e eu ainda estou organizando meu psicológico para poder voltar.

I.N – Pensando no fim da pandemia, quais serão seus próximos passos? Quais seus sonhos?

B.V – Primeira coisa eu quero é a volta das aulas presenciais, é muito bom estar com as alunas no online, mas no presencial é muito diferente, poder abraçar minhas alunas é uma das minhas maiores expectativas.  Também quero muito entrar numa sala de aula e fazer uma aula só para mim. Já pra minha vida pessoal eu quero poder me casar e me mudar o que não é possível agora.

I.N – Você tem algum último conselho para aquelas pessoas que ainda não sentem coragem de começar a ter aulas de balé?

B.V – Medo não leva a lugar nenhum, então simplesmente não tenha! Se for algo que você deseja fazer, faça. É como eu já disse antes, você não precisa estar perfeito para fazer balé, qualquer pessoa pode fazer balé, basta você querer.