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Por: Jainara Oliveira e Marcos Feitosa

Localizada a 637 km da capital maranhense, a cidade de Imperatriz abrange uma diversidade multicultural fruto de uma mistura de diversas religiões, etnias e artes de diferentes povos que trouxeram essas características ao longo da construção da cidade. 

Segundo a professora de Jornalismo Cultural da Universidade Federal do Maranhão, Yara dos Santos Medeiros, para algo se tornar cultural de uma cidade é necessário ter regularidade e acontecer continuamente no lugar. “As pessoas precisam se relacionar e se identificar com as manifestações para que isso contribua para se tornar uma marca tradicional na cidade”, relata.   

A cultura é responsável por manter viva as tradições e costumes de um povo mantendo suas particularidades. Imperatriz é uma cidade que abrange, preserva e resgata elementos que compõem a cultura local e de outras regiões.

A cidade possui uma infinidade de costumes e manias que se tornaram parte de sua identidade cultural, conheça agora alguns destaques da cultura local.

Artesanatos que contam histórias: técnica do crochê uma identidade cultural de Imperatriz

Por Jainara Oliveira

O artesanato é uma das práticas mais utilizadas pela população imperatrizense, seja para uso próprio ou para comercialização. A técnica do artesanato é um costume passado de pais para filhos, que com o passar dos anos tornou-se uma parte tradicional e cultural da cidade. É por meio da técnica feita a mão que a população representa a história de um lugar, resgata as raízes dos seus antepassados e cria sua própria identidade cultural. Segundo a professora Yara Medeiros dos Santos, o artesanato é considerado cultural  por ser uma produção humana criativa e por  transformar a natureza.

Em Imperatriz existe uma variedade de produtos artesanais que são adquiridos e feitos diariamente, como o crochê que é predominante na cidade. O crochê é uma técnica cultural que consiste na criação de tecidos que são utilizados por centenas de pessoas, seja para moda, tapetes para decoração de suas residências, artigos para presentes e entre outros. Para os artesãos o saber fazer crochê está interligado aos valores culturais, sociais e da identidade de Imperatriz. 

Lucilene dos Santos Lucena, vice-presidente e artesã do Centro de Artesanato de Imperatriz, afirma que apesar de ser uma prática universal, o croché é considerado pela população imperatrizense a cara da cidade. “Se você não sabe fazer crochê, você conhece alguém que faz ou vende. A prática e o consumo já virou tradição na cidade”, explica a artesã.

Tapetes de Crochê- Foto/ Juliana Milhomem
Tapetes de Crochê- Foto/ Juliana Milhomem

Além da importância cultural para a cidade, a técnica do crochê contribui para a movimentação do comércio e da economia local, uma vez que a população imperatrizense adquire o produto não somente com os artesãos mas também em diversas lojas da cidade. Apesar da questão financeira, o crochê também é uma forma de terapia. “O crochê é uma válvula de escape, muitas pessoas fazem o crochê para esquecer alguns problemas”, relata a artesã Lucilene.

Para a artesã Lindalva Nunes, 58 anos, produzir um produto feito de crochê é construir histórias de vidas contadas por meio de um produto. Cada ponto é com um constante movimento de idas e vindas, e se insere num contexto da valorização humana e cultural.

Lindalva Nunes aprendeu a fazer crochê com sua avó, “ela aprendeu ainda moça, e quando eu tinha praticamente a mesma idade, ela me ensinou as primeiras correntinhas, tomei gosto pelo crochê e fui aprendendo o resto sozinha”, relata.

A técnica é uma arte livre cultural que não se sabe bem ao certo quando surgiu em Imperatriz, mas se tornou um queridinho da população. Para a artesã Lindalva Nunes, o artesanato da cidade transmite o espírito da cultura e tradição da cidade, e por isso é tão importante para os moradores locais.  

“Eu acho o crochê  extremamente  importante para nós e para a cidade, é um trabalho manual que vai servir como uma identificação nossa,  para quem sabe o que é um artesanato, vai dar muito valor, por exemplo o crochê em que você pega um tubo de linha e  transforma em uma bolsa, uma blusa, uma toalha de mesa, em um tapete, colocando os traços aprendidos no passado, modificando e transformando. É por meio do artesanato que a gente preserva nossa cultura, nossas peculiaridades e representa nossa identidade cultural,” explica a artesã  Lindalva Nunes.

Chaveiros feito de Crochê- Foto/ Juliana Milhomem
Chaveiros feito de Crochê- Foto/ Juliana Milhomem
Tapetes de Crochê- Foto/ Juliana Milhomem
Tapetes de Crochê- Foto/ Juliana Milhomem
Bonecas de crochês - Júlia Brito
Bonecas feitas de Crochê- Foto/ Juliana Milhomem

Diversidade

A artesã Lucilene Lucena vice-presidente do Centro de Artesanato explica que além do crochê, outros produtos são classificados como cultural da cidade, como é o caso dos bonecos feitos de jatobá, trabalhos produzidos com o coco babaçu, palha de buriti e o cipó, tudo passado de geração para geração.

Segundo Lucilene Lucena, em Imperatriz existe uma diversidade de produtos artesanais, muitos vieram de outras regiões e predominam na cidade. “No centro de artesanato da Imperatriz, é possível ver a variedade de artesanatos que possui na cidade, aqui a gente tem produtos feitos de argila, bonecas, biscuit, artesanato feitos pelos  indígenas, trabalhos esculpidos em madeira, uma  infinidade de coisas. Embora a cidade não possua propriamente um produto exclusivo, ela têm um papel importante de preservar e disseminar as tradições culturais de diferentes povos por meio do artesanato”, conta a artesã.

O artesanato tem um traço forte na  cultura dos imperatrizenses, segundo Lucilene Lucena, a população consome o artesanato de forma direta e indireta. “Os  produtos produzidos artesanalmente aqui em Imperatriz, são comprados aqui mesmo, pelas próprias pessoas que moram aqui, seja aqui no centro ou em bancas pela cidade”, relata.

A artesã também comenta a importância do artesanato para a cultura da cidade, “o artesanato é importante para mostrar a cultura predominante no município por meio de objetos e artes feitas pelos artesãos”, explica Lucilene.

Ela conta que para o artesanato continuar sendo parte da cultura de Imperatriz é preciso uma valorização por parte da população “as pessoas precisam valorizar e comprar nossos produtos, é muito importante porque é uma forma de mostrar a cultura, conservar e manter viva nossa cultura”, desabafa a artesã Lucilene Lucena.

Santo São Francisco de Assis feito de argila -Foto/Júlia Brito
Santo São Francisco de Assis feito de argila -Foto/Júlia Brito

Sabores de Imperatriz: conheça os pratos típicos da culinária imperatrizense

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Por Marcos Feitosa

Muito mais que um simples alimento, a panelada, prato típico do nordeste brasileiro, virou uma tradição cultural em Imperatriz. Feita com viseiras, bucho e os pés do boi, a comida ganhou espaço no cardápio dos imperatrizenses e se tornou uma identidade cultural do município. 

Com o custo de R$ 20, o prato exótico atrai pessoas de todas as regiões e classes sociais, como relata a cozinheira Raimunda Pereira Silva, 58 anos, que vende a panelada há 27 anos. “O pobre, rico, e até as pessoas de fora vem para se deliciar com a panelada imperatrizense, porque no lugar onde elas moram não existe uma panelada como a daqui, muitos turistas viajam quilômetros só para comer aqui”, afirma dona Raimunda que vende mais de 20 pratos diariamente. Aqui em Imperatriz há vários pontos de vendas da panelada, mas em especial existem dois pontos de maior referência cultural do prato, o Panelódromo Acrízio Xavier da Costa e as Quatro Bocas. 

O recém-inaugurado panelódromo que fica localizado na Praça Tiradentes, no Centro da cidade. Foi criado para ser o centro culinário do município e possui uma diversidade de comidas tradicionais.  

De acordo com a dona de um dos boxes do estabelecimento, Irenilde Silva Costa, 59 anos, a panelada é o prato mais procurado do local e os clientes só comem outras comidas quando ela acaba. “Sempre acompanhado com molho de pimenta malagueta e uma farinha de puba, a panelada é o prato mais pedido aqui no meu box. Quando os clientes chegam aqui e perguntam se ainda tem panelada e ela já acabou, o cliente já fica triste”, relata a paneleira. 

O ponto mais conhecido da panelada na cidade é as Quatro Bocas, considerada o maior e mais antigo restaurante popular ao ar livre da cidade.

O local possui várias barracas móveis de panelada localizadas na Avenida Bernardo Sayão entre as ruas Rio Grande do Norte e Ceará. As bancas são montadas e desmontadas diariamente pelos vendedores ambulantes. Todos os dias centenas de pessoas passam pelo lugar e desfrutam do prato típico da cidade. O local é conhecido popularmente como o restaurante de Costas para Rua. 

A panelada se tornou um patrimônio cultural imaterial de Imperatriz, que é passado de geração em geração pelas pessoas que comercializam essa comida. Segundo as paneleiras, onde a panelada estiver a tradição vai está, para elas a arte de fazer o prato é muito mais que um retorno financeiro é o amor de levar a tradição da panelada para a população imperatrizense e para as gerações futuras. 

Outros sabores

Apesar da panelada ser a identidade culinária da cidade, a população imperatrizense também abraça outros tipos de comidas como o sarapatel, vatapá, tacacá, assado de panela, cozidão, galinha caipira e o famoso arroz com cuxá. Embora só o arroz com cuxá seja típico da culinária maranhense, os demais pratos ganharam o coração dos imperatrizenses.

De acordo com a cozinheira Marinalva Alves Feitosa, 48 anos, apesar do vatapá e tacacá serem um prato típico da Região Amazônica e da culinária afro-brasileira, há mais de 30 anos a cidade de Imperatriz abraça essa culinária. Ela vende o tacacá e o vatapá, há mais de 15 anos e conta que aprendeu a fazer esses pratos com seus familiares. “Tudo que aprendi foi com minha avó, que aprendeu no Pará e passou essa cultura para nós. Eu fico muito feliz com a grande aceitação da população imperatrizense”, relata a vendedora.

Sabores maranhenses: a tradição do arroz de cuxá em Imperatriz

O arroz de cuxá não fica atrás, típico da região maranhense, ele é feito com vinagreira e possui um sabor acentuado meio azedinho, é considerado o carro-chefe de Imperatriz. Você encontra o arroz de cuxá em diversos restaurantes pela cidade, mas em especial os imperatrizenses consomem mais em casa, feito de um jeito caseiro que se dá bem com qualquer acompanhamento.

A dona de casa Liane Silva, 36 anos, relata que não dispensa um arroz de cuxá. “Toda vez que vou na feirinha o cuxá é a primeira coisa que eu compro, fico triste quando o período dele acaba e não consigo encontrar facilmente, mas ele é tão saboroso eu jamais trocaria o arroz de cuxá ou até mesmo ele feito aparto por outra comida”, comenta dona Liane.

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Da panelada ao sushi: a variedade culinária que define a cidade

A culinária imperatrizense é diversa, peculiar, rica em sabores e texturas, apesar de não ter uma comida criada na cidade, Imperatriz abraça toda e qualquer área gastronômica de qualquer região ou país. Como é comum ver ao andar pelas ruas da cidade uma vasta e diversificada multiculturalidade gastronômica, como a culinária japonesa, mexicana, portuguesa, árabe entre outras. 

A professora Yara Medeiros, acredita que Imperatriz é uma cidade cosmopolita. “Aqui é uma cidade que aceita bem as culturas que vem de outro lugar, mantém a sua, mas abraça as demais, como na gastronomia é normal o imperatrizense ser curioso e provar outras comidas e acaba que a população gosta”, afirma a professora.

Dança também é cultura: conheça as principais danças típicas imperatrizenses

Por Jainara Oliveira

A dança é uma das principais manifestações artísticas de Imperatriz, responsáveis por manter tradições e resgatar costumes de diferentes regiões, além de possuir um papel social importante na cidade. O Município abrange várias danças típicas que envolvem diversos ritmos como o Bumba Meu Boi, Quadrilhas Juninas, Lindô, Mangaba, Cacuriá, entre outras que mantêm a cultura brasileira e afrodescendente na cidade.

Uma das danças típicas que faz parte da cultura de Imperatriz é o Lindô, considerada pioneira na cidade, ela foi trazida de Caxias/MA em 1984 por Maria Francisca Pereira da Silva, mas conhecida como Dona Lindô, que mesmo vindo de fora já é um patrimônio cultural do Município.

Segundo José Regivaldo Pereira da Silva, 37 anos, representante do Grupo Batalhão Real é importante transmitir essa cultura para os descendentes para continuar a disseminar a dança através das gerações, mantendo viva a cultura e as tradições de uma cidade. “Por meio da dança a gente preserva a cultura do nosso país, da nossa cidade para nossos filhos, netos, bisnetos e assim por diante”, relata.

Apesar da diversidade de danças no Município, as quadrilhas juninas tem uma forte predominância na cidade, em  época de São João, as juninas abrilhantam as noites de eventos culturais. A população abraça fortemente essa cultura, que envolve não somente as danças, mas a música, o artesanato, as comidas típicas e tudo que é considerado cultural em Imperatriz.

Diversidade musical: os sons que embalam a vida dos imperatrizenses

Grupo de Forró do Mestre Ginu no palco do São João na Beira Rio
Grupo de Forró do Mestre Ginu no palco do São João na Beira Rio

Por Marcos Feitosa

Durante o período junino é indispensável as músicas tradicionais dessa fase, mas aqui na cidade há uma diversidade musical bem eclética. Forró, rock roll, samba, sertanejo, MPB, axé, gospel entre outros compõem a musicalidade imperatrizense.

Para o vocalista da banda Forró do Mestre Genú, Alcides Sodré, 70 anos, a música é muito mais que o cantar e saber tocar todos os ritmos e sons. “A música é a arte de manifestar os afetos da nossa alma mediante o som, é uma parte cultural nossa, ela faz parte de nós e sem a música não somos ninguém, pois ela já faz parte da nossa vida e da nossa cultura desde que nascemos”, relata o cantor que já passou essa tradição para seus filhos que seguem os mesmos passos. 

Embora a cidade de Imperatriz tenha uma playlist grande de estilos e gêneros musicais diferentes, a população imperatrizense abraça o forró como ritmo local mais predominante. “O forró já faz parte da nossa cultura, em qualquer lugar que você vai tem alguém ouvindo o forró, dançando e se divertindo, se você está triste é só colocar um forró das antigas que o dia melhora”, comenta Daniela Ferreira, moradora da cidade há 36 anos.  

De acordo com o cantor Alcides Sodré, a música é fundamental para a cultura de uma cidade e precisa ter mais valorização por parte do Governo. “Acho que o Governo não só do Maranhão, mas de todo o Brasil deve agir mais, em prol de uma cultura melhor, valorizar e investir mais nesse segmento”, relatou o vocalista.

Vocalista do Grupo de Forró do Mestre Ginu, Alcides Sodré
Vocalista do Grupo de Forró do Mestre Ginu, Alcides Sodré

Galeria de fotos

Imperatriz, um mosaico cultural que preserva sua identidade multicultural - Marcos Feitosa
Imperatriz, um mosaico cultural que preserva sua identidade multicultural - Marcos Feitosa

Do armaria ao uhum: o palavreado típico dos imperatrizenses

Por Marcos Feitosa e Jainara Oliveira

 

Além de toda essa diversidade cultural, a cidade possui um palavreado peculiar típico do município. Conheça esse minidicionário imperatrizense.

Essas e outras expressões estão bem presentes no cotidiano das pessoas que moram na cidade. Outro costume do município é o sentar na porta, onde as pessoas e os vizinhos se reúnem em frente suas residências para conversar e até mesmo jogar algum jogo como o domínio. Apesar  de não ser mais praticado com frequência no centro  da cidade, os bairros mais afastados ainda mantêm essas tradições.

Valorização

Para Maria de Jesus Bonfim, 50 anos, moradora da cidade, é extremamente importante ter eventos culturais no município. “A partir do momento que tem um evento cultural na cidade todo mundo ganha, tanto os espectadores quanto os ambulantes, as pessoas que vendem as que vem comprar, que vem prestigiar é muito maravilhoso ver essa junção de culturas que a cidade possui, precisamos valorizar mais a cultura”, comenta a moradora. 

Segundo a professora da área de jornalismo cultural da UFMA, para manter a cultura local é necessário valorizar e preservar as tradições e os costumes. “Sem a cultura não há vida, não tem como a gente viver em sociedade sem ter cultura, então ela está permeando em tudo, então precisamos valorizar nossa cultura e não ficar apenas bebendo e se influenciando com culturas que já são hegemônicas, como por exemplo o pop, não é só a população que tem que valorizar a cultura, tem que ter participação dos órgãos públicos tem que ter isso em lei, tem que ter isso em política”, desabafa Yara Medeiros. 

Ainda segundo a professora, sem a valorização das políticas públicas as culturas hegemônicas vão sufocar a cultura local. Porque elas possuem mais poder econômico e maior valorização tanto das instituições quanto da sociedade.