Cotas asseguram o início de uma era promissora de representação acadêmica

Em 2018 o número de jovens negros nas universidades era de 55,6%

Texto: João Victor dos Santos

Foto: Arquivo pessoal de Bruno Oliveira

Bruno Oliveira reforça a importância das políticas públicas que visam tornar a academia um ambiente acessível. “Vejo que cresceu o número de negros e pardos ingressando na universidade e acredito que seja pela questão do sistema de cotas”. Estudante de Medicina na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o jovem de 20 anos que estudou em uma escola pública no interior do estado contesta a qualidade do ensino público: “A gente sabe que o ensino público é regular, para prestar vestibular você precisa fazer cursinho e ainda assim é muito difícil”.

A ascensão da população preta na academia é decorrente das ações governamentais voltadas para esta comunidade e tem se tornado comum vê-los dentro do ambiente acadêmico, como apresenta o Estudo de Desigualdades Sociais de Raça ou Cor no Brasil. Em 2018, o número de jovens negros entre 18 e 24 anos no ensino superior alcançou 55,6%, o maior desde a última pesquisa realizada em 2016. Entretanto, o índice é ainda baixo quando comparado com a população branca desta mesma faixa etária, que consiste em 78,8%.

Realidades

A evolução dos números se dá pela existência de sistemas de cotas, ProUni, Fies, entre outros, que ajudaram a equiparar as condições de disputa por vagas em universidades, visto que o índice de estudantes que abandonam a escola para trabalhar entre a população preta é de 61,8%. Esta porcentagem implica que o jovem negro precisa escolher entre se preparar para a vida acadêmica ou colocar dinheiro em casa.

Diogo Torres, recém aprovado na universidade por intermédio do ProUni descreve como esta realidade se estende mesmo após a aprovação: “Ter que trabalhar e estudar dificulta bastante, porque compartilho do mesmo ciclo social de pessoas que não trabalham e que tem mais tempo ao seu favor”. Esta problemática é presente durante toda a vida escolar, ou na falta dela, uma vez que 28,8% da população preta de 18 a 24 anos possui menos de 11 anos de estudo, ou seja, sequer alcançaram o ensino médio.

Em contrapartida, Kaio Barbosa, de 20 anos, reconhece seu local de privilégio por meio do esforço dos pais. “Pude ter a oportunidade de estudar em uma escola boa e pude dedicar meu tempo totalmente aos estudos”. O estudante de arquitetura que conseguiu entrar para a universidade via ampla concorrência é um caso raro, mas que encaminha-se para ser algo comum, e Kaio deseja contribuir para isso. “Pretendo, quando me formar, fazer o meu melhor para devolver tudo que ganhei, ajudando os que precisam da maneira que puder”. Diogo, Bruno e Kaio são exemplos de diferentes realidades que obtiveram sucesso na academia tornando-se jovens pretos que inspiram muitos outros.