Texto e foto: Rennan Santana
“A vida do comerciante é como a de um preso, só saio daqui para fazer compra, pagar boleto, que hoje nós trabalhamos só pra isso, e volto aqui pra dentro. Você não tem outra alternativa, a não ser essa, se quiser acompanhar a velocidade dos boletos, tem que ser assim”, relata Bonfim Bezerra Sousa, 60 anos, proprietário de um comércio que funciona há 40 anos em frente à Praça da Bíblia, em Imperatriz. Os pequenos comércios são fundamentais, mas neste ramo é necessário grande sacrifício por parte de seus integrantes, em especial, no atual cenário econômico que vive o Brasil.
Sebastião dos Santos, 47 anos, trabalha como vendedor de lanches há 17. Ele se mudou faz 10 meses para a praça, onde trabalha com sua esposa e considera a vida de comerciante uma aventura. Mesmo assim, aposta em uma condição financeira melhor, mas pondera a enorme dificuldade. “Porque não é fácil, tem que batalhar bastante, é um leão por dia”, lamenta.
André Santana, 58 anos, trabalha há 23 como vendedor ambulante no local, onde vende pastel em um carrinho. O comerciante vê os novos tempos de forma positiva, já que existem muitos meios de pagamento. “Hoje tá melhor, porque as coisas são mais desenrolada. A gente trabalha com cartão, com Pix”. Já Bonfim Bezerra diz que “antigamente era melhor, porque havia mais facilidade para se trabalhar, hoje as coisas complicaram um pouquinho mais por conta da crise econômica do país e também a questão da segurança, né?”.
Inflação
O impacto da crise econômica é unânime entre os entrevistados. André Santana afirma que, com o aumento dos preços das mercadorias por conta da inflação, não se lucra mais como antigamente. “A crise tá pesada, tá ruim, as coisas são muito caras e os ganhos não dão mais pra gente ganhar que nem ganhava de primeiro. Você compra uma mercadoria, só faz o dinheiro dela e o que sobra é pouco”. Bonfim Bezerra, por seu lado, se mostra preocupado com o aumento nos preços dos produtos e o baixo salário recebido pelos brasileiros. “As mercadorias não param de subir, tudo tá sendo reajustado, eu digo ‘não é nem por dia é por hora agora’, eu não sei como é que povo vai sobreviver com o salário desse que existe aí, e a cesta básica subindo do jeito que tá subindo”, ressalta.
Para Francisco Aldair, 46 anos, que começou a vender lanches na praça no final de 2019, a alta concorrência no meio é mais determinante do que a deficiente economia nacional para gerar uma crise. “Quanto mais concorrência melhor para o cliente, porque o preço barateia, o mercado fica mais em conta. Mas para o comércio em si, fica mais dificultoso, porque tem que vender mais barato pra chamar mais clientela”. O vendedor alega, ainda, que por ter que reduzir os preços, seu lucro acaba diminuindo e o lucro esperado pra um mês, só se consegue em três ou quatro.
Pandemia
Outro fator crucial para o prejuízo financeiro entre a classe autônoma foi a pandemia da Covid-19. “Depois que entrou o período da Covid, minha questão financeira foi abalada um pouquinho. Eu também fiquei sozinho aqui pra trabalhar”, relata Bonfim Bezerra.
No entanto, Sebastião dos Santos afirma que após esse período do auge do isolamento social, o movimento econômico está começando a respirar. “O movimento tá dando uma reagida boa, depois da pandemia tá dando uma clareada boa”.
Francisco Aldair conta que na praça da Bíblia é melhor do que o “outro ponto” em que ele vendia antes, mas reclama de falta de apoio por parte do município, para com os comerciantes que atuam no local.
“O que tá faltando é divulgação da parte do município, trazer eventos. Ó, um palco desse aí, tá abandonado, isso aí era pra ter evento todo santo dia”, comenta Francisco Aldair.
Embora enfrentem muitas dificuldades, esses comerciantes preferem pensar positivo e perseverar por dias melhores. “Pra ver se nós passamos por ela, porque o negócio não tá fácil, mas com força a gente chega lá. Creio que logo-logo vamos passar por essa situação e novos horizontes vêm para gente aí”, reflete Sebastião dos Santos.
Esta matéria faz parte do projeto “Meu canto também é notícia”, desenvolvido com os estudantes do 1º semestre do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz (MA). Eles e elas foram estimulados a procurar histórias no entorno onde vivem.