Funcionários da zona azul relatam sofrer ameaças e agressões verbais

Monitores e supervisores contam casos de ameaças e xingamentos sofridos nas ruas

Por Angela Lima

Monitor fiscalizando vagas. Foto/Reprodução: Prefeitura de Imperatriz. Créditos: Patrícia Araújo

Funcionários da Zona Azul, estacionamento rotativo pago implantado no final de 2020 em Imperatriz, relatam sofrer agressões físicas e verbais dos clientes nas ruas. Esse é o caso de Sara Ludmyla, 20, monitora que transita no centro da cidade fiscalizando vagas e aplicando multas, caso necessário.

Sara Ludmyla explica que “virou uma coisa meio que comum, porque a gente sofre todo dia xingamentos e ameaças de todos os tipos”. Ela conta que já aconteceu de receber comentários de ódio e ameaças de atropelamento: “cuidado ao andar na rua porque quando eu ver um de vocês eu vou passar por cima, e eu não tô nem aí”, ameaçou um cliente.

Ameaças e desgaste mental

O supervisor responsável pelo auxílio dos monitores na fiscalização das vagas, Wilismar Cândido, revela que, além das agressões verbais, já chegou a receber ameaças de morte. “Uma mulher estava estacionada em um local irregular. Pedi para monitora fazer a notificação e aí ela começou a me xingar de ladrão, disse que ia me matar e eu apenas entreguei a notificação e saí normalmente. Desde que não me agrida, tudo normal”, disse.

Esses casos são recorrentes no dia a dia dos 47 monitores e 02 supervisores empregados pela Zona Azul. A monitora Bruna Araújo, 25, [nome trocado por segurança] trabalha na empresa desde que o serviço foi efetivado, há seis meses atrás, e relata que nunca sofreu agressão física, mas alguns clientes são mal educados. “As pessoas jogam o papel em cima da gente, às vezes até batem no nosso braço”, relembra ela.

Luís Augusto, 21, [nome trocado por segurança] também trabalha nas ruas sob o clima quente e por vezes chuvoso desse março imperatrizense. Ao ser questionado sobre episódios de agressão ele diz que “[nunca sofreu] não violência física, exatamente, mas xingamentos acontecem muito. A pessoa se estressa na hora, às vezes nem raciocina, aí vem nos xingar, depois pede desculpas. Mas tenho colegas que já receberam ameaças de morte e agressão verbal, seja de pessoas comuns ou como aconteceu de um policial não fardado”.

Para Sara Ludmyla, “o cansativo do trabalho não é nem o Sol, ou ficar em pé seis horas por dia, e sim ter que aguentar esses xingamentos e ameaças das pessoas. Desgasta a saúde mental”, confessa. Em seis meses de estacionamento privado, houve apenas um episódio de agressão física a um monitor. O caso foi encaminhado para os supervisores na sede da Zona Azul, que fica na rua Ceará, 590, entre João Lisboa e Dorgival. Após o registro do boletim de ocorrência, o caso segue judicialmente.

O que fazer com um episódio de agressão?

Wilismar Cândido, supervisor de monitoramento, explica que os funcionários são orientados a não responder às agressões direcionadas pelos clientes. Para o servidor público e bacharel em direito, José Soares da Silva Júnior, a orientação é que, nesse caso, o funcionário pode recorrer ao crime de desacato, sendo direcionado a polícia civil. O agressor que comete esse crime pode ser inclusive preso em flagrante.

“Não há nada de errado em multar. Se o carro está mal estacionado, o agente tem que multar, pois é uma determinação do Estado. Se isso não acontecer, o agente público estará cometendo crime de prevaricação, que é deixar de cumprir uma obrigação”, afirma Júnior Soares.

Zona Azul

A Zona Azul foi uma ação implementada pelo prefeito Assis Ramos junto à Secretaria Municipal de Trânsito, que, segundo a prefeitura, visa democratizar o acesso às vagas de estacionamento em Imperatriz. O projeto iniciou em setembro, com um período de teste e conhecimento para os clientes, onde o estacionamento não era cobrado. São 1800 vagas disponíveis na cidade, que se estende da rua Coronel Manoel Bandeira, até a Rio Grande do Norte, e da Luís Domingues até a rua João Lisboa, totalizando 50 quarteirões, com 65 pontos de vendas espalhados. A concessão da empresa que presta o serviço é de 12 anos.