Entrevista: Comandante do 3°batalhão do Corpo de Bombeiros comenta os desafios de atuar em pela pandemia  

 Repórteres:  Andressa Rocha e Jakeline Bernardo

 

 

Foi pelo sentimento de ajudar as pessoas que o Manoel Gonçalves Dias escolheu se tornar bombeiro. Para ajudar o próximo, ele decidiu entrar para a corporação do corpo de bombeiros há 14 anos atrás e hoje ele é o Major Gonçalves Dias, Comandante do 3º Batalhão de Bombeiros Militar. Manoel Gonçalves Dias é casado com Jordana e tem uma filha. O comandante dos bombeiros tem uma vida normal fora do quartel do corpo de bombeiros, pratica o ciclismo como esporte nas horas vagas. Manoel Gonçalves Dias já trabalhou em várias unidades como bombeiro, aqui em Imperatriz faz apenas um mês em março que assumiu o posto de comandante dos bombeiros na cidade, mas trabalha há 5 anos no comando ou sub comando de unidades no Maranhão.

O bombeiro é responsável por prestar serviços para a sociedade como combate a incêndios, pelo resgate de vítimas de incêndios, resgate por parte de afogamentos, preservar patrimônio ameaçado de destruição, resgate em caso de acidentes ou catástrofes. O bombeiro também é responsável pela busca, resgate e captura de animais. É uma profissão nobre e essencial para uma sociedade.  Em entrevista, Manoel Gonçalves Dias fala sobre assuntos como: a pandemia no cotidiano dos bombeiros e sobre os cuidados que o batalhão tem ao resgatar e capturar animais domésticos e silvestres

 

Imperatriz Notícias: Entrando no assunto da pandemia, a gente quer saber se houve alguma mudança no corpo de bombeiros em relação ao funcionamento?

 Manoel Gonçalves Dias: Em virtude da gente ser o braço direito do estado, a gente também não parou, não parou em momento nenhum, não dispensou ninguém. No primeiro momento a gente dispensou aqueles militares que tem alguns problemas de saúde como diabete né, mas na medida do tempo que foi regularizando a nova rotina do coronavírus, máscara, limpar as mãos e também aqueles que tinham mais problemas a gente foi afastando de algumas missões para evitar que eles se exponham. Mas ninguém nunca parou, nós estamos sempre aí na batalha, na frente, atendendo a sociedade. Como é um serviço essencial ele não para.

 

IN: Certo, e quais outras medidas de segurança foram tomadas em relação ao Covid, além do afastamento dos funcionários do grupo de risco?

 MGD: Depois que a pandemia se instalou mesmo, os batalhões começaram a tomar algumas medidas. Primeiro, todos os militares usam máscara, o atendimento externo ficou restrito a numeração de pessoas dentro da unidade né, conforme os órgãos públicos fazem, o afastamento, ter disponibilidade de álcool em gel para as pessoas que frequentam o batalhão. No nosso serviço que é ir pra rua e atender, a gente tem todo aquele cuidado, o pessoal usa máscara no atendimento, usa óculos de proteção, luvas… então a gente tem todo esse trabalho. Além disso, a gente tem o procedimento nas viaturas, diariamente fazemos a limpeza das mesmas, principalmente nas dependências internas onde os militares ficam. A rotina ficou mais cansativa porque além do trabalho pesado que a gente enfrenta no salvamento a gente ainda tem que estar redobrando esses cuidados, porque a gente tá direto na rua, tá direto atendendo as pessoas.

 

IN: Apesar de todas essas medidas de segurança que vocês tomaram, ainda houve casos de contaminação?

 MGD: Sim sim. Aqui tem um controle interno de pessoas com possíveis contaminação, é feito esse controle diariamente. Na medida que a pessoa… a gente tem uma suspeita né, entrou em contato com alguém contaminado, está com algum sintoma a gente afasta ele pelo período determinado na lei, faz o teste, se der negativo ele retorna para o trabalho e se der positivo a gente afasta e faz o monitoramento né, se for preciso ir para o hospital, se é preciso ficar em casa aguardando. Após o período determinado ele retorna ao trabalho. Já tivemos vários casos aqui né, mas sempre com esse controle, apareceu um com risco de ter a gente faz o afastamento. Essa semana mesmo já teve um militar que foi chegando de férias e a gente estava testando toda a tropa, fez uma testagem em massa, e aí ele deu positivo para a contaminação e aí ele retornou pra passar mais um período de afastamento previsto pra não contaminar o restante. A gente tem diariamente esse controle da contaminação.

“Já tivemos vários casos aqui né, mas sempre com esse controle, apareceu um com risco de ter a gente faz o afastamento”

   

IN: Certo. Foi feito uma pesquisa… o Conselho federal de medicina encomendou uma pesquisa ao Datafolha e nessa pesquisa ficou constatado que os bombeiros estão entre os profissionais que os brasileiros mais confiam, estão em terceiro lugar, depois dos médicos e professores. Aqui em Imperatriz vocês sentem que vocês são realmente acolhidos pela população, que as pessoas confiam no trabalho dos bombeiros?

 MGD: Sou meio suspeito pra falar né, mas sim, eu acho que em virtude até da própria finalidade do nosso trabalho né, porque quando a gente sai pra algum lugar pra ajudar alguém, a gente sai pra algum lugar pra combater algo, combater um incêndio, tirar alguém de um buraco… então a gente por natureza tem um acolhimento pela ajuda. Acho que aqui em Imperatriz não é diferente, eu acho que o corpo de bombeiros é sim acolhido. A gente sente isso na rua, quando a gente está no atendimento, sentimos esse acolhimento da população. Inclusive essa semana a gente teve um atendimento de incêndio em residência… é difícil as pessoas voltarem aqui e agradecer, apesar que essa é nossa função, ninguém tem que estar agradecendo por isso, nós somos remunerados para fazer nosso trabalho e a gente faz com todo amor. Mas veio a família aqui, a mãe e o filho agradecer porque ela não estava em casa, houve um princípio de incêndio e a gente chegou, não deixamos que o fogo se espalhasse, resguardamos a residência dela que é nossa missão. Vidas alheias e riquezas salvar, é o nosso lema.

 

IN: Houve algum caso que te deixou emocionado de verdade, que você nunca esqueceu?

 MGD: Eu pessoalmente já atendi muitas ocorrências, mas aqui em Imperatriz eu fiz dois atendimentos que… foi um incêndio que houve na Rua Ceará, foi um incêndio bem trabalhoso, a gente fez os primeiros combates, eram chamas muito grandes… aquilo ali mostrou o tanto que é necessária Imperatriz ter corpo de bombeiros. Trabalhei a noite toda, no outro dia ainda continuamos os trabalhos, revezamos o pessoal. Foi marcante pra mim. O outro, esse infelizmente a gente não conseguiu impedir que a edificação fosse consumida, mas pelo menos a gente evitou que as chamas atingissem novas edificações. Já outro, foi outro na rua Ceará, em uma loja de artigos de festas, onde esse sim, é muito bom chegar e ver que a chama ta começando e você conseguir barrar aquelas chamas e impedir que o empresário perca tudo. O empresário também ficou muito feliz, agradeceu. Nosso trabalho tem esse sentido de ajuda, de resguardo, de salvar vidas.

 

IN: Resgatar animais silvestres é um dos vários serviços que o corpo de bombeiros presta para a sociedade. Como você se sente quando faz o resgate de cada animal?

 MGD: Antes as pessoas tinham a cultura de assim que via um animal silvestre principalmente aqueles  peçonhentos como cobras, a ideia era já elimina, matar por conta do perigo , hoje essa mentalidade mudou um pouco por conta das pessoas , por mais que o animal , ele não seja querido pelas pessoas como um gatinho ou cachorro , quando a gente toca um animal silvestre todo mundo tem aquela ideia de preservação, de não atingir de não matar e já aciona a gente, a gente tenta fazer a captura da melhor forma possível para não agredir o animal ou estressar , a gente devolve ele ou para o IBAMA se for um animal que esteja ferido para primeiro ser tratado e depois ser devolvido, se ele não apresentar nenhum sintoma ou sinais de ferido ou doente  a gente devolve ele diretamente para a vegetação. A gente se sente com essa mentalidade de preservação, não só a gente mas a população em si mudou um pouco essa mentalidade, por mais simples que seja o animal as pessoas já não querem mais agredir.

 

IN: Quais medidas de segurança o bombeiro deve tomar na hora de capturar o animal silvestre , para o bombeiro não ser picado e nem o animal ser machucado?

MGD:  A gente usa várias técnicas a gente tem um objeto que a gente chama que é como se fosse um laço, só que ele é por um tubo e a gente se afasta e laça aquele animal e prende ele e imobiliza ele e depois com luvas grandes a gente faz a contenção dele e coloca em uma caixa especial para isso,  uma caixa de transporte , a gente tem também umas redes para animais mais ágeis e aí a gente joga aquelas redezinha como se fosse de pesca nele e ele fica na rede enrolado, e aí a gente faz a contenção dele , coloca na caixinha e solta ele em um local específico, sempre com cuidado, usando luvas de couro mais longas, a gente tem algumas botas que evita que o animal pique a perna, alguns cuidados básicos e treinamento, a gente tem treinamento de contenção de répteis e de outros animais para fazer essas capturas.

IN: Além do treinamento, na sua opinião, porque as pessoas chamam os bombeiros  para fazer a captura desses animais silvestres ao invés de chamar  o IBAMA ?

MGD: O IBAMA também faz isso mas acredito que pela própria missão fim nossa que é o atendimento em rua, e faz parte do rol de nossas atividades que é busca e resgate e captura de animais, as pessoas já  aprenderam a ligar para a gente por conta do pronto atendimento, talvez se você ligar para o IBAMA que não tem uma equipe específica naquele momento para aquilo, pode não ser atendido, não que eles não tenham mas a gente já tá na rua diariamente e faz parte do nosso rol de atividades, um animal caiu no burraco a gente que tira , a gente faz muito resgate de cavalo e de cachorro, de gado que cai dentro de buracos específicos ou fica atolado dentro de uma lama, caí dentro de poço, a gente tem muito trabalho desse tipo, alguns são bem difíceis por exemplo animais que caíram dentro de poço de oito metros de profundidade, você vai ter que descer e fazer amarração, além da agitação do animal o perigo da profundidade e sair com a maior segurança, tirar ele do sistema de amarração então é um trabalho bem árduo principalmente com animais de grande porte como cavalo, vaca, algum boi, jumento que cai nesses buracos.

Tem alguns  que são meio inóspitos, cai cavalo dentro de uma fossa  por exemplo, Já pensou? .Então é complicado você ter que fazer amarração de um animal dentro de uma fossa, cheio de dejetos e aquela complicação toda e é diariamente a gente faz esse tipo de trabalho, a gente tem algumas técnicas que a gente usa como a gente faz esvaziamento de fossa,  às vezes a gente faz uma rampa para o animal subir sozinho, às vezes a gente tenta esvaziar ou encher o ambiente para poder o animal boiar ou subir pela lateral, a gente usa várias técnicas para tirar , vai depender  do local ou da forma que ele tá lá.

 

IN: Qual foi o animal mais exótico que o corpo de bombeiro fez a apreensão?

 MGD: A gente pega todo tipo de animal , eu particularmente achei muito estranho um dia ter capturado uma espécie de raposa que estava no centro de Imperatriz, eu não sei como esse animal foi chegar lá , estava na promotoria no lado do estádio, estava dentro do estacionamento , uma raposa , um animal bonito no meio da cidade. Jacaré, cobra, resgate de gato e cachorro é mais comum, uma raposa ou corpo espinho dentro da cidade é diferente.