Texto e fotos: Rafaela Vitória
Fast fashion é o termo em inglês utilizado para definir um campo da moda que tem como base a criação de peças e novos modelos em curto espaço de tempo, sem se preocupar com a qualidade dos produtos e de vida de seus produtores. Além das péssimas condições de trabalho, essas peças são utilizadas menos de cinco vezes e geram mais emissões de carbono do que as comuns.
E a produção de roupas não polui apenas neste aspecto. Para produzir fibras têxteis é preciso desmatar, utilizar fertilizantes, agrotóxicos, extrair petróleo e transportar, entre outras formas de poluição. Mas apesar de todos os problemas envolvendo a indústria da moda, trabalhadores autônomos estão tentando mudar essa realidade em Imperatriz, MA.
Vânia Barbosa, de 26 anos, teve boa parte de sua vida dedicada à moda sustentável com um trabalho que veio de seu avô, com um brechó de igreja. Ela decidiu ter o seu próprio e, a partir de 2018, passou dois anos trabalhando nas ruas do Centro de Imperatriz. Hoje a empresária mantém um dos brechós mais movimentados da cidade também localizado no Centro e pode oferecer uma melhor acomodação e qualidade em suas vendas.
Vânia cita o quão gratificante é passar o trabalho de sua família adiante e contribuir de forma sustentável no contexto de uma indústria que pensa no lucro antes da qualidade e da verdade em seus produtos.
“Nunca tive vergonha ou medo o bastante que me fizesse desistir de alguma coisa. Os socos que a vida deu tornaram a minha pele mais forte, tudo tem um propósito, não desistir faz parte dele“, comenta Vânia.
Vivências diferentes
Socorro Barros Silva, de 39 anos, ainda precisa trabalhar nas ruas do Centro da cidade para sustentar toda a sua família. Ela lida diariamente com a fiscalização da prefeitura e frequentadores da Catedral Nossa Senhora de Fátima, tentando tirar o seu local de trabalho. Mas, apesar disso, demonstra muito orgulho do que faz para viver.
A vendedora alega não ter ajuda material ou financeira de ninguém e que precisa correr atrás de todas as roupas por si só. Quando chega a receber doações, são todas de péssima qualidade. “São sempre de roupas ruins e rasgadas. Acham que não existe qualidade em meu trabalho por trabalhar na rua”.
Socorro explica que sempre procura entregar o melhor para seus clientes e que faz tudo isso por meio de muito trabalho, mesmo não entendendo completamente a importância da sua atividade para a sustentabilidade. Ela movimenta a economia com roupas usadas e aumenta a vida útil daquelas que inicialmente iriam para o lixo.
Outras áreas
Uwanndy tem 30 anos e mora no Centro da cidade. Nas suas horas vagas trabalha com dois segmentos de moda conhecidos como upcycle e slow fashion. Ambos colaboram para a redução de lixo e transformação de objetos no fim de sua vida útil em novos.
Outras vantagens são priorizar o local em relação ao global, promover consciência socioambiental e contribuir para a confiança entre produtores e consumidores. A vendedora pratica preços reais, que incorporam custos sociais e ecológicos e mantém sua produção entre pequena e média escalas.
Uwanndy diz que desde sua infância tem esse desejo de transformar roupas. Trabalha sem ajuda de ninguém, já que prefere criar peças com sua própria percepção sobre certos temas. Ao ser perguntado sobre a moda que só pensa no lucro, sem olhar para o sustentável, o artista defende que não considera que essa tendência mereça esse nome.
“Acho fora de moda! Pois moda é liberdade de expressão, ela vem de nós mesmos. E não adianta vestir um produto bonito, sendo que para isso uma parte do meio ambiente foi afetada. Isso não é moda”, frisa. Uwanndy tem como objetivo mostrar para todos que podem fazer muito, com pouco. Basta usar a imaginação e o poder de criação.
Esta matéria faz parte do projeto “Meu canto também é notícia”, desenvolvido com os estudantes do 1º semestre do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz (MA). Eles e elas foram estimulados a procurar histórias no entorno onde vivem.