Festa é organizada por um morador, para comemorar o aniversário de seu bairro
Edlene Galeno e Sara Carvalho
“Era uma festa muito esperada por todos nós, muito linda e bem organizada”, diz Jucileia Silva, moradora e fotógrafa. A cavalgada do Centro do Novo, localizada no município de Imperatriz-MA, tornou-se uma tradição e patrimônio cultural para os moradores da vicinal, e acontecia sempre no primeiro domingo de agosto. Brasiliano Gomes de Oliveira, mais conhecido como Neguim Carneiro, teve a iniciativa de homenagear o local onde reside, logo após presenciar um evento do mesmo tipo na Lagoa Verde, outro povoado da cidade. A festa agora não é mais organizada por nenhum membro da família. Há dois anos seguidos, vem sendo coordenada por um amigo do fundador da comemoração, que conta apenas com o apoio de Brasiliano.

Com a ajuda de alguns amigos, Neguim decidiu enfrentar o desafio e assim organizou a cavalgada durante 12 anos, iniciando em 2006. O evento durava o dia todo, com música ao vivo, comidas típicas e o corte do bolo. “Vinha gente dos lugares aqui de perto prestigiar esse momento tão lindo”, relata Neri Pereira, que era uma das cozinheiras.
“Um dia, estávamos na casa de um amigo, e eu falei: ‘Vamos fazer uma cavalgada.’ Foi então que o Pimentel disse: ‘Se vocês fizerem, eu dou o boi pra gente comer’”, conta seu Neguim. As primeiras cavalgadas foram feitas em um clube emprestado, e os ganhos com as bebidas ficavam para o dono. Mas não estava mais dando certo, porque ele tinha de gastar muito com os cantores e outros detalhes da organização, tudo tirado do seu próprio bolso. Foi então que a culminância passou a ser no quintal de sua casa. “Colocavam os animais no quintal dele, cada cavalo, cada boi bonito, era uma coisa muito boa de ver”, recorda dona Neri.
A cozinheira conta que foi convidada por Seu Neguim para ajudar a fazer as comidas da cavalgada, que se tornou uma tradição para a região. Quando os cavaleiros chegavam, já tinham caldo pronto para eles comerem antes de iniciar o desfile com os cavalos. Logo depois, ela e as companheiras iam cuidar no almoço, com as comidas para todos que estavam participando, como cozidão e o churrasco.

“Sempre foi muito legal ver como meu avô tratava a população. Ele teve essa iniciativa da cavalgada para homenagear o lugar e também para os moradores”, revelou Vanessa Costa, neta e responsável pela parte burocrática. Quando mais nova e menor de idade, ela só ajudava com as cadeiras, mesas e coisas simples. “Quando fiz 18 anos, passei a tomar de conta da parte das licenças, para ajudar meu avô e meu pai”. Como precisava providenciar a papelada com tempo, ela sempre tinha que se antecipar em até um mês e meio antes para deixar tudo pronto. “Não dá para explicar a emoção que é fazer parte desta história”, comentou Vanessa.
“Eu comecei a participar da cavalgada com meu pai, na organização das bebidas, fichas, aluguel das mesas e cadeiras”, ressalta Jarleno Costa, filho do organizador. Depois que seu pai não pôde mais assumir a linha de frente, ele assumiu a responsabilidade de seguir na liderança, e continuou levando o nome Neguim Carneiro na comitiva.
Recordações
“Eu gosto muito de cavalgada, gosto de forró, já passou muita gente por esse cercado”, compartilha Seu Neguim, emocionado com as recordações. “Era muito gratificante participar de uma festa, tão linda onde participavam pessoas de todos os lugares”, acrescenta Jucileia. Ela lembra, ainda, a beleza do momento de saída dos cavaleiros para o percurso nas ruas.
A cavalgada não pôde mais ser organizada por Brasiliano, por sua idade já avançada e por problema de saúde da sua esposa, mas ele ainda recebe cobranças por ter se afastado. “Era um trabalho muito cansativo, mas eu sinto falta de ser organizado pela nossa família”, declarou a neta do fundador da tradição. “Eram dias de muito trabalho, mas era tão bom, sinto muita falta. Era cansativo, mas quando terminava eu já estava pronta para a do ano seguinte”, conta dona Neri.

Neguim Carneiro relata que alguns de seus amigos que ainda estão vivos lhe cobram uma última cavalgada de encerramento da tradição. Todos querem relembrar os velhos tempos e compartilhar o momento com as pessoas importantes e amigos especiais. “Eu prometo a vocês que, se no meu aniversário de 85 anos eu ainda estiver vivo, vamos lotar esse cercado de animais, alegria e muita gente bonita dançando.”
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.