Vida adulta: os desafios dos jovens que se mudam para Imperatriz para ingressar no Ensino Superior

Reportagem: Anna Luiza Barros e Kamila Karen Carvalho

Pauta: Lícia Gomes

Fotos: Gustavo Viana e arquivo pessoal

 

A cidade de Imperatriz se consagrou como polo universitário atraindo estudantes de várias regiões do Maranhão e do Brasil. As condições de desenvolvimento da cidade possibilitam a vinda de jovens de outras regiões interioranas como Açailândia, Axixá e Cajuapara-Itinga, além de outros estados como Pará, Piauí e Tocantins. Só em 2017 a UEMASUL forneceu em torno de 460 vagas que foram preenchidas por 90 estudantes de cidades circunvizinhas, enquanto a UFMA nesse ano recebeu cerca de 500 alunos de outras regiões o que corresponde a 21% do total de matriculados.

Vários são os motivos que levam esses jovens a se deslocarem de suas cidades em busca de uma vaga no Ensino Superior, entre eles, está a carência de graduações ou a precariedade de cursos ofertados em suas cidades natais. “Falta opções no que se refere a cursos superiores”, aponta o universitário Ricardo Silva de Barros, que cursa Matemática na UEMASUL e veio de Vila Nova dos Martírios, a 115 km de distância de Imperatriz. Segundo ele, a cidade não possui universidades.

Rotina, adaptação e novas relações estão entre as novidades na vida de quem muda de cidade para fazer um curso superior. De acordo com a assistente social da UEMASUL, Conceição Amorim, entre as razões para a vinda desses estudantes à cidade está a busca por oportunidades de emprego e estudo. “São cidades geralmente pequenas ou daqui do interior do Maranhão ou do interior do Pará ou do Tocantins, então são cidades que não tem como oferecer pra eles condições objetivas pra ficar”, explica.

Um problema que dificilmente o estudante morador de Imperatriz enfrentaria, levando em conta que a cidade tem hoje em torno de 8 universidades presenciais entre particulares e públicas e pelo menos 40 cursos diferentes ofertados. Mas a oferta não é o único problema para quem resolve arriscar uma vaga longe do conforto da casa dos pais. “Acho que minha maior dificuldade foi me enturmar e ter contato com as pessoas daqui, pois eu me achava inferior por ser de uma cidade menor”, ressalta o jovem universitário.

Novo lar, novos ares

Morar sozinho em uma nova cidade requer do estudante muita responsabilidade e acima de tudo organização, já que muitos deles são jovens que deixam de morar com os pais, por isso se tornam responsáveis por suas rotinas sem contar que alguns não têm mais o sustento financeiro dos pais. “Esse ano eu trabalho e estudo, às vezes não tem dinheiro, dificuldades mesmo, é financeira” afirma a estudante Sara Steffany Claudino Leite que cursa Agronomia na UEMASUL.

Com a vinda frequente de estudantes a Imperatriz, as universidades acabam por ofertar alguns programas de assistência a esses jovens. Para isso, a UEMASUL fornece aos acadêmicos oriundos de outras regiões o programa Bolsa Permanência em que são oferecidas bolsas no valor de R$ 400 e que são validas durante 6 meses. É oferecido um total de 43 bolsas sendo 10 destinadas aos indígenas e quilombolas. Hoje na instituição, cerca de 30% dos estudantes necessitam do benefício. Já a UFMA fornece auxílios como o de Moradia estudantil, transporte e alimentação que são válidas por um ano e que oferecem respectivamente um valor de R$ 400, R$ 180 e R$ 300 e abrangem cerca de 60% a 70% dos estudantes que necessitam.

Mas não é somente a questão financeira, para Sara outra das dificuldades é a distância dos pais, ficar longe da família. A estudante morava em Lagoa do Junco que fica a 445 km de distância de Imperatriz. “Eu visito minha família só nas férias, só dá pra ir nas férias porque é muito longe, fica muito caro e não tem como ir só pra passar o final de semana”, lamenta. Além disso, a jovem afirma que certas vezes ocorrem alguns contratempos em relação a locomoção à sua cidade: “Em relação a ir, eu vou de ônibus e não é tão difícil a locomoção, é mais assim no inverno porque eu moro no interior aí fica alagado, eles cortam as estradas, o que dificulta é isso”, descreve.

Tudo Mudou

Para o universitário Francisco Igor dos Santos Aguiar, estudante de Jornalismo na UFMA, a mudança de hábito no começo é muito difícil quando se entra na universidade. O jovem morava na cidade de Buriti, cerca de mais de 600 km da cidade de Imperatriz. “A adaptação está sendo complicada. Ainda não me acostumei porque estou longe de minha família e amigos”, afirma.

Francisco sente falta dos amigos de Buriti

A nova rotina de estudos também influenciou: “A rotina da faculdade, eu não estava acostumado porque minha vida era outra na cidade. Até a hora que eu tomo banho mudou. Tudo mudou.”, comenta Francisco.

Ricardo, que veio do interior, sente dificuldade em acompanhar o conteúdo

Muitas vezes os jovens estudantes que chegam ao nível superior já apresentam dificuldades na adaptação de estudos porque não possuíram um boa qualidade de ensino básico ou médio. Ricardo Silva é estudante de matemática pela UEMASUL e cursa Engenharia Mecânica. Segundo ele: “No início da adaptação foi bem difícil porque como eu vim de um ensino médio de baixa qualidade, considero péssima qualidade para falar a verdade, meu professor de matemática me deu aula apenas no terceiro ano, no primeiro eu tive só até meio do ano aula de matemática. Física eu só tive no terceiro ano também” detalha.

Segundo ele, o fato de estar numa nova rotina e ainda ter de lidar com a falta de condições para acompanhar o conteúdo foi um dos principais entraves na nova rotina, embora não tenha feito ele pensar em desistir. “No início foi muito difícil mesmo me adaptar porque praticamente todo mundo “estava” na minha frente, então eu tinha que me virar nos trinta. Viver a noite estudando”, aponta Ricardo.

Imperatriz não tem uma casa de estudante pois apesar de ter sido aprovado pela câmara dos vereadores em 2015, o projeto para a construção da casa do estudante universitário em Imperatriz deveria ser encaminhado a Secretária de Educação do Governo e também para a Secretária de Educação do Município, porém a continuação desse projeto se encontra parada visto que não foi encaminhada para os órgãos competentes e não se tem previsão de quando o projeto poderá entrar em ação.

Os alunos interessados em concorrer as vagas de bolsas na UFMA devem estar atentos aos editais publicados no próprio site da instituição www.ufma.br ou podem tirar dúvidas através do telefone (98) 3272-8000. Já os estudantes da UEMASUL podem estar entrando em contato via E-mail: reitoria@uemasul.edu.br ou acessar o site www.uemasul.edu.br e acompanhar a divulgação dos editais para bolsas.