Público reclama do IML e órgão diz que pessoas desconhecem a real função do instituto

Pauta: Aryane Oliveira dos Santos

Texto e fotos: Ana Letícia e Michelle Maiala

 

A falta de conhecimento sobre a verdadeira função do Instituto Médico Legal (IML) é, na avaliação da diretoria do órgão, a principal causa das constantes reclamações sobre os serviços prestados ali. Entre os problemas advindos dessa desinformação, está a pressão de familiares, autoridades e imprensa para a liberação mais rápida do corpo, até a entrada de um grande número de pessoas no instituto, limitada a duas em Imperatriz.

“Aqui tem que ter controle, é uma instituição policial. Tem que ter um controle rigoroso de quem entra e quem sai. Aqui não é um local de livre acesso. O fato de o cadáver estar aqui não quer dizer que todo mundo que conhece e tem uma relação possa entrar. Não é só aqui em Imperatriz, é nacional. É mundial”, explica a diretora Ana Paula dos Reis Milhomem.

Apenas entre meses de janeiro a abril, o Instituto Médico Legal já foi responsável por mais de 3 mil perícias

No mês de abril, o atendente de telemarketing Felipe Alexandre Barbosa, que perdeu o tio por conta de uma parada cardíaca e acompanhou-o até o IML, juntamente com seus amigos, seu pai e a esposa de seu tio, é um dos que ficaram insatisfeitos com o tratamento recebido do órgão. Ele conta que ao chegar ao IML teve sua entrada restrita, bem como a de seus amigos, e que somente seu pai e sua tia puderam entrar nas dependências do instituto. Conforme relata, sequer puderam ficar na parte interna do portão, tendo que se acomodar na caçada. Além da falta de uma sala de espera, Barbosa lamenta a falta de apoio psicológico, bem de um mais amplo horário de plantão, já que o médico do instituto não faz a necropsia depois das 18 horas. “Ficamos sentados numa calçada, lá no portão, o bom que os porteiros eram gente boa e deixaram a gente ficar na portaria, mas se não fosse isso, ficaríamos fora correndo riscos de ser assaltados ou algo pior”, conta ele.

E o caso de Barbosa não é isolado. O estudante de Engenharia de Alimentos Marcelo Leite perdeu o tio por conta de um assassinato, em setembro do ano passado. Ele reclama da burocracia e do atendimento. Segundo ele, o corpo de seu tio passou 24 horas para ser liberado e durante todo esse tempo o corpo ficou “in natura”, sem resfriamento ou qualquer outro meio de conservação. “Quando foi liberado, por volta das 14 horas do dia seguinte, o corpo já estava ‘podre’, um mau cheiro absurdo, em estado de decomposição avançado. O velório durou aproximadamente apenas 20 minutos quando o corpo chegou, pois o cheiro estava insuportável”, lamenta o estudante.

 

O IML se defende

Se a população não está satisfeita com o atendimento do instituto, por outro lado, o IML diz que todos os procedimentos adotados são o padrão. A diretora Ana Paula dos Reis Milhomem explica, por exemplo, que o IML não tem o dever de prestar apoio psicológico a familiares, sendo papel de um outro departamento, que não compete ao instituto. Os atendentes são treinados para receber os acompanhantes, coletar dados e preencher declarações de óbito. A diretora afirma que o instituto é exatamente como um departamento de polícia, e deve ser tratado como tal. “Aqui é um instituto médico legal, aqui não é centro de apoio psicológico, aqui não é funerária, aqui não é a igreja. Quem tem que vir é um parente e um acompanhante. O restante fica em casa, vai para o lugar que o corpo vai ser velado”, afirma Ana.

A diretora Ana Paula dos Reis afirma reclamações são fruto do desconhecimento

A diretora frisa também que um dos elementos básicos no processo de necropsia é a luminosidade, não permitindo que os médicos e auxiliares avaliem lesões à noite, pois precisam de uma boa iluminação para identificar lesões nos corpos. Ela também afirma que por lei não podem liberar o corpo depois de meia noite.

“Às vezes nós somos pressionados pela população, uma série de autoridades que chegam aqui, vereadores, imprensa, gente mal informada, que chegam e pressionam e a gente acaba cedendo e liberando o corpo. A cultura aqui é do imediatismo, eles querem a todo custo, na mesma hora, receber aquele corpo. Não querem saber se a necropsia foi bem feita, querem receber. Aí essa é a falta de comunicação, falta de esclarecimento da população”, desabafa Ana.

Sobre as condições do cadáver, que ficam em estado de decomposição por conta da demora no atendimento, a diretora explica que isso só acontece porque para iniciar o procedimento de investigação precisam de pelo menos seis horas. A necropsia só poderá ser feita antes das seis horas, quando um corpo chega claramente com sinais de morte, ou quando já apresenta decomposição cadavérica. Porém, o passo mais importante é saber que a vítima já veio a óbito. “Inclusive, se eu fizer uma necropsia antes desse período, eu tenho que justificar no meu laudo porque que eu não respeitei as horas necessárias. Eu tenho que explicar que ele já tinha decomposição cadavérica”, conta a diretora.

 

Dados

Apenas entre meses de janeiro a abril, o Instituto Médico Legal já foi responsável por mais de 3 mil perícias, dentre elas, exames em vivos e cadavéricos e perícias feitas em moradores de outros municípios da região, dando em média 25 perícias por dia. Segundo essas mesmas estatísticas, feitas pelo próprio instituto, em primeiro lugar no ranking de causas de mortes está a arma de fogo, seguida de arma branca e em terceiro lugar os acidentes de trânsito.

 Não é apenas o IML

O IML faz parte de um complexo constituído por outros três departamentos: o Serviço de Verificação de Óbito (SVO), que trata de mortes não violentas e desassistidas; a Delegacia de Homicídios e Entorpecentes e o Instituto de Criminalística (Icrim), que é responsável por estudar vestígios em cenas de crimes. Segundo Ana, o complexo causa muita confusão entre a população. “Tem muita confusão na sociedade em relação a função de cada departamento”, afirma a médica.

O instituto é responsável pelas vítimas de morte violenta ou morte suspeita: que são os casos de acidentes de trânsito, queda, homicídios, seja por arma branca ou arma de fogo, suicídio, enforcamento, envenenamento, ou aquelas mortes que deixam uma suspeita.Porém, o instituto não é responsável apenas por necropsias: atende vítimas de violência sexual, vítimas de agressão física, e fazem o exame de corpo de delito.

O IML fica na Via Coletora III, no bairro Vilinha. Seu horário de funcionamento é das 8 horas às 12 horas, e das 14 horas às 18 horas. O telefone para contato é (99)3582-8957.