Mensagens nas ruas e cores nas paredes: grafite faz parte do cotidiano da cidade

 

Paredes antes “mortas”, ganham novas cores

Texto e foto: Brunna Tavares

Marcas nas paredes pertencentes às pessoas – levam horas de muito esforço e técnica. Desenhos que, na maioria das vezes não são apenas rabiscos. O grafite tenta passar mensagens, conscientizar para o bem ou para o mal, como toda arte, explícita ou implicitamente. Em Imperatriz, o grafite vem ganhando tanto espaço, que é difícil andar pelas ruas por algum tempo e não ver cores estampadas nas paredes, antes mortas, da cidade.

Há um conflito entre os tipos de mensagens que os desenhos passam. Como em todas as áreas da vida, também há pessoas mal intencionadas com relação ao grafite, que espalham a apologia às drogas e à violência, fazem desenhos por fazer, ou até mesmo picham os muros da cidade com frases de revolta, o que não passa de vandalismo e poluição visual.

Esse não é o caso do grafite que se destaca em Imperatriz, o que se pode ver nas ruas são mensagens de encorajamento e conscientização, artes que representam a cultura, a identidade da cidade. Grafite esse que é objetivo dos grafiteiros da Casa do Hip-Hop (Centro de Referência Da Cultura Hip-Hop Negro Cirineu) em Imperatriz. Segundo o coordenador da Ong, Deivis Brawn, 32 anos, os artistas têm como objetivo transmitir mensagens positivas.

Brawn sempre se afeiçoou por elementos da cultura Hip-Hop. “O grafite entrou na minha vida assim como a música e o basquete e eu passei a me misturar com outros grafiteiros. Comecei a aprender e a praticar. Chegar em casa, pegar o caderno e desenhar”. Agora como coordenador da Casa do Hip-Hop, está sempre em busca de efetivar projetos que promovam essa cultura na cidade.

O grafite como manifestação artística é muito antigo. Há vestígios dessa arte desde o Império Romano, em um conceito mais aberto. No Brasil, chegou no final da década de 1970, em São Paulo. Mas hoje, o grafite é ligado principalmente ao movimento Hip-Hop, do qual realmente nasceu e faz dos desenhos manifestações, mostrando a realidade das ruas, das minorias, do meio ambiente. São notáveis as mensagens que as paredes da cidade estão nos passando, só não vê quem não quer.

Imperatriz dá muito espaço para o grafite, segundo os dois grafiteiros. As pessoas gostam das artes, tiram foto, compartilham, elas abraçam essa causa. Tanto os moradores como a atual gestão da prefeitura que, segundo os grafiteiros, apoia os projetos da Casa do Hip-Hop. “Eu vejo, pelos comentários nas redes sociais, que todo mundo gosta, todo mundo está amando. Aqui em Imperatriz tem esse espaço, e esse grafite que estamos fazendo no viaduto vai dar ainda mais valor aos artistas daqui”, disse Brawn.

A Praça Mané Garrincha está repleta de arte, há um skate parking por lá. E os desenhos estampados nas paredes parecem completar a atmosfera do lugar. Outro local que também tem as paredes estampadas é a UFMA (Universidade Federal do Maranhão). São desenhos que expressam os pensamentos mais profundos dos alunos da universidade. Imperatriz está sendo preenchida com o grafite.

A Casa do Hip-Hop foi implantada na cidade com o intuito de enriquecer o cenário local com elementos dessa cultura. A Ong dá aulas de break dance, basquete, música, grafite e também promove um dia de cinema em suas instalações. Além de projetos que visam ajudar pessoas menos favorecidas, como o “Natal Barriga Cheia”, de cunho beneficente.

A Ong também está agora promovendo um projeto de grafite no viaduto, com o apoio da Prefeitura Municipal, que já vinha sendo planejado há cinco anos. A ação conta com artes que vão cobrir todas as paredes cinza do local. “Nosso plano é fazer um grafite monstruoso, que pegasse mesmo todo o viaduto, não deixasse nem um pedaço cinza, todo pintado, todo colorido”, adianta Brawn.

O projeto conta com uma equipe de grafiteiros coordenada por Paulo Grafite, 40 anos. Ele esclareceu que os desenhos foram elaborados para conscientizar as pessoas que passam pelo viaduto sobre a cultura de Imperatriz. “Essa primeira parte, a gente está trabalhando a conscientização de uma forma geral. Na segunda, a gente vai trabalhar mais a cultura hip-hop mesmo”, explicou.

Paulo também é muito apaixonado pelo grafite. Começou há 15 anos e hoje mostra que a arte também é ferramenta de manifesto da paz. Ele assina “Paulo Grafite” em homenagem a seu avô. Seu nome na verdade é Antônio Francisco Dias de Oliveira, mas todos sempre o chamaram de Paulinho. Com 40 anos, diz que está na melhor faze da vida, fazendo o que ama.

Para os dois grafiteiros a arte é vida. Paulo já trabalhou em outras áreas de serviço, mas no grafite encontrou o que realmente queria. “O grafite pra mim é tudo, é minha paixão, é minha vida”, garante. Brawn conta que o grafite coloriu sua vida, que antes era cinza “Em cima do grafite que eu consegui colocar cores na minha vida, pegar uma parede cinza e transformar ela em cores”, descreveu.

Brawn também afirma que as artes no viaduto têm um significado muito mais profundo do que expressar a cultura imperatrizense. Eles querem mostrar para as pessoas da cidade que a vida é e deve ser colorida, um meio de escapar da rotina opressora.