Cerca de 300 moradores de rua vivem em Imperatriz

Texto: Lara Borralho

Com população de 253.123 habitantes e área total de 1.367,901 km² segundo o último senso do IBGE, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Imperatriz calcula mais de 300 destas pessoas vivem em situação de rua e apura que os problemas com drogas são um dos principais motivos. A maior parte dos moradores monitorados pelas autoridades municipais (algo em torno de 70% do quantitativo) é originária de municípios vizinhos e tem na suposta facilidade para conquistar dinheiro na condição de “flanelinha” um grande motor para continuar vivendo sem residência fixa e alimentando os vícios.

Pelas praças e em vários bairros da cidade de Imperatriz, principalmente a Beira Rio, é comum se deparar com pessoas nessa condição. Seja vivendo em aglomerados ou isoladamente, a circulação de drogas é um dos mais tormentosos problemas. A respeito disto a própria Polícia Militar, por meio do Tenente Coronel Markus Lima, Comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar, manifestou a impossibilidade de realizar um trabalho ostensivo em razão do pequeno contingente e cobrou um tratamento coordenando em razão das responsabilidades dos demais órgãos estatais. “É um trabalho que deve ser feito não apenas pela polícia militar, mas os outros órgãos envolvidos precisam estar juntos nesta questão do uso de drogas que é crônica e difícil de lidar”, afirma.

Segundo testemunho de Gilvan Alves da Silva, 28 anos, há quase um ano nas ruas, as tragédias familiares e vício em tóxicos levaram-no a tomar a decisão de abandonar o lar e viver perambulando pela cidade de Imperatriz. “As circunstâncias foram as drogas, ai você sabe como é que é né, drogas só trazem destruição, ai fui perdendo minha família, faleceu a minha esposa, depois uma sobrinha, e agora por último perdi meu pai, e isso só fez eu me afundar mais”, afirmou.

Moradores de rua que passaram pelo Centro Pop durante o ano de 2015
Moradores de rua que passaram pelo Centro Pop durante o ano de 2015

Por sua vez, Aildo de Sousa Moreira, 41 anos, popular em situação de rua há sete anos, tem uma experiência de vida semelhante. “Eu me deixei levar pelo vício do álcool, e com isso vieram às outras drogas, então me envolvi com outras drogas e acabei perdendo tudo, mulher, filho, família. Fiquei muito triste, depressivo, as vezes dá vontade de se matar. A gente fica com vergonha de voltar, de pedir perdão para a família, e prefere se esconder. Esse que é o nome certo esconder, a gente se esconde”, confessa.

Vítimas de violência e preconceitos tanto da população quanto dos demais que vivem na mesma condição, muitos preferem se fechar e aumentar ainda mais o afastamento existente em relação aos familiares e pessoas do seu círculo de convivência por considerar vexatória a situação em que chegaram se afundando ainda mais a se iniciando na prática de crimes.

 

Esperança em casa de abrigo

No entanto, desde maior de 2014 os moradores em situação de rua contam com a assistência do poder público municipal através do Centro POP, casa de referência especializada no trato e cuidado desse público vulnerável que além de prestar apoio material, tal como a concessão de vestimenta, alimentação, abrigo e materiais de higiene pessoal, auxilia na profissionalização para que os mesmos tenham condições de retomar a vida. Pautado em uma atuação coordenada, com funcionamento diário e auxílio psicólogos e assistentes sociais, a casa cuida do combate aos vícios e oferece cursos de profissionalização, além de palestras educativas.

A respeito dos processos de chegada, desintoxicação e acompanhamento além dos motivos que os levaram a seguir para as ruas, a Coordenadora do Centro POP, Antônia Correia, explica como se é feito o tratamento. “Chegando no Centro Pop, são atendidos primeiramente pelo segurança e são revistados para saber se não possuem drogas, bebidas ou armas brancas ou de fogo. Depois disso são encaminhados ao primeiro atendimento para saber dados pessoais, em seguida seguem para higienização. Disponibilizamos roupas limpas que são doadas, (porque roupas, vocês sabem, é descartável pra eles), depois seguem para o serviço social onde recebem o atendimento da psicóloga e assistente social para se saber o motivo que os levaram às ruas, porque cada um tem uma história de vida. Na maioria o motivo são as drogas, ou sofrem abandono da família e acabam indo para as ruas”, explica.gilvan

O ex-morador de rua acolhido pela casa de abrigo, Aildo de Sousa Moreira, 41 anos, teceu grandes elogios ao projeto. Segundo afirma: “eu me sinto bem aqui. Acolhido. As pessoas são ótimas. Maravilhosas. Não tenho o que reclamar de nenhum, nem dos seguranças, nem das assistentes sociais, de nenhum deles”. Vítima do vício em álcool e drogas, ele é um dos beneficiários do programa e deseja que em meio a uma tragédia familiar se viu cada vez mais refém das circunstâncias e acabou chegando a situação em que se atualmente encontra.

Embora tenha informado que ainda mantém alguma espécie de contato constante com familiares e até mesmo continuem convivendo com eles, a preferência de continuar na rua ou recorrer aos serviços do Centro de Apoio é clara, com é o caso do Sr. Gilvan Alves da Silva. “Tenho irmãos que moram na cidade, um mora no Parque Alvorada, outro no Itamar Guará, ontem mesmo visitei um deles” confessa.

Abrigo é esperança de mudar de vida
Abrigo é esperança de mudar de vida

Por se tratar de uma casa de apoio para tratamento voluntário, as recaídas para o uso de drogas e o retorno às ruas são constantes. Contudo, é proibida a entrada com drogas ou armas no centro de reabilitação. A coordenadora da casa credita às oficinas a responsabilidade pelo afastamento das drogas, pois, segundo informado, a ocupação proporcionada faz com que esqueçam por mais tempo de onde vieram. No turno da noite a casa serve de abrigo aos moradores mais vulneráveis ou que alimentam algum receio de continuar nas ruas por motivo de ameaças contando com 16 dormitórios.

aildoA colaboradora Sandra Maria Sousa Pereira, estagiária do Centro POP, defende a permanência do projeto. “A vizinhança reclama. Mas a partir do momento que se dispuserem a conhecer melhor o projeto, verão que é maravilhoso, pois enquanto eles estão aqui Centro, sendo acolhidos, com lugar para dormir, para se alimentarem, interagindo com outras pessoas, participando das dinâmicas. Enquanto eles estão aqui não dão margem a fazer o mal e estão até mesmo livres dos perigos da noite. Os que moram aqui não têm para onde ir. Aqui eles se sentem acolhidos, se sentem como se estivessem em casa. Esse projeto tem que continuar! Aqui é um lugar que eles sabem que sempre vão ter ajuda quando precisarem”.

Apesar de todos os esforços, nos últimos anos houve um crescimento substancial da população de rua em Imperatriz, pois em 2014, ano de inauguração do centro de excelência e apoio eram aproximadamente 180 moradores de rua, enquanto no final de 2015 já eram mais de trezentos. Embora cada um guarde consigo seus próprios sofrimentos, o vício em álcool e, principalmente, nas drogas, ainda é a grande vilã e responsável pelo descontrole no crescimento.