O Canto da Serra está no começo. Entre esperança e desafios, os moradores tentam transformar o residencial em um bairro vivo de verdade.
Por Giovanna Paixão
O Residencial Canto da Serra, inicia mais um dia revelando tanto a tranquilidade das primeiras horas quanto os problemas que seguem marcando a vida dos moradores. Entregue em 6 de outubro de 2025, o conjunto habitacional reúne 2.837 casas, beneficiando mais de 11 mil pessoas, segundo dados do Governo Federal. O investimento total ultrapassou 358,6 milhões de reais.
Nas primeiras horas da manhã, é possível observar trabalhadores saindo de casa, crianças a caminho da escola e moradores organizando a frente das residências. As moradias, padronizadas em 42,67 m², possuem dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço. Apesar da sensação de conquista após anos de espera, já que a obra foi contratada em 2012, sofreu paralisações e só retomou ritmo em 2023, os moradores relatam que a infraestrutura do bairro ainda não acompanha as necessidades básicas do cotidiano.
Ruas sem calçamento, pontos de ônibus improvisados e terrenos baldios são alguns dos obstáculos encontrados nos primeiros meses de ocupação. Embora o projeto preveja rede de água, esgoto, drenagem, energia elétrica e iluminação pública, além da futura construção de creche, escola em tempo integral, CRAS, posto policial e quadra poliesportiva, muitos desses serviços ainda não estão plenamente operando.
Entre os relatos, Sarah Sousa, doméstica, moradora do residencial, afirma que a realidade no bairro ainda não se aproxima das expectativas criadas no momento da entrega. “A gente sente no dia a dia. Parece que a casa veio antes do bairro estar pronto”, disse. A moradora relata que a falta de comércio ativo e o transporte limitado tornam tarefas simples mais longas e cansativas.
As casas do Canto da Serra têm 42,67 m² e incluem dois quartos, sala, cozinha e banheiro. (Foto: Giovanna Paixão)
A ausência de estrutura completa também impacta a formação comunitária. Mesmo com a convivência surgindo, com crianças brincando nas portas logo cedo, vizinhos conversando e pequenos comércios começando a funcionar, os moradores apontam que o desenvolvimento social do bairro depende de avanços físicos que ainda não chegaram. “O bairro está crescendo devagar, mas a gente vê que as pessoas estão tentando fazer parte. Só que enquanto muita coisa não melhora, tudo fica mais difícil”, completou Sarah.
Apesar das dificuldades, há sinais de construção social e física acontecendo simultaneamente. Casas ainda em acabamento, estabelecimentos recém-abertos e a presença de famílias que, pela primeira vez, têm moradia própria, muitas delas beneficiárias do Bolsa Família e do BPC que receberam unidades totalmente subsidiadas, dão ao Canto da Serra a aparência de um bairro ainda em definição.
À medida que o sol sobe e ilumina o conjunto habitacional, o Canto da Serra expõe sua fase de transição, um espaço que já existe no papel e na geografia da cidade, mas que ainda busca consolidar sua infraestrutura, seus serviços e sua identidade como comunidade.
Assista o mini-documentário produzido acerca do Residencial.