Eduardo Jorge
Servidores e discentes rememoram suas experiências no instituto federal
Ao toque da sirene, nos três turnos, de segunda à sexta-feira, durante 37 anos, o campus de Imperatriz do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) vive uma rotina diária conduzindo os mais de 1,5 mil alunos a um futuro no mundo do trabalho. “Quando nós chegamos aqui, essa região não tinha casas, eram só chácaras. E essa escola era dentro de uma chácara”, conta Izaura Silva, pedagoga aposentada da instituição desde 2022, que foi uma das pioneiras desde o início de suas atividades educativas nas dependências da Escola Dorgival Pinheiro de Sousa até a construção do prédio, hoje na avenida Newton Bello.

O Instituto foi criado em 1987, sob a denominação de Unidade de Ensino Descentralizada de Imperatriz (Unedi). Ele fazia parte da Escola Técnica Federal do Maranhão que, posteriormente, tornou-se Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão (Cefet), “A gente gosta até de dizer que na época só éramos nós e o cemitério Campo da Saudade”, ri Izaura. Ela relembra que a iluminação na região só foi conquistada junto à Cemar. Como tinham alguns alunos funcionários da empresa, “isso foi mais fácil”, destaca.
“Com a ampliação do Cefet, o ônibus também vinha”, relembra Izaura, sobre o período em que o prédio foi construído. Em épocas de chuva, os servidores não conseguiam chegar de carro, deixavam os seus veículos diante do cemitério e vinham de ônibus. “Só o ônibus conseguia conter o aguaceiro”. Os professores na época fizeram uma série de visitas nas escolas da região que ofereciam o ensino fundamental para falar sobre o Centro Federal. Então com apenas dois anos de duração, o instituto ofertava apenas dois cursos: Edificações e Eletromecânica.
No início da década de 1990, em uma reunião com a comunidade e empresários da cidade e da região Tocantina, foi decidido ampliar a oferta de cursos na Escola Técnica Federal do Maranhão em São Luís, com a inclusão das áreas de Eletrônica e Saneamento. Durante esse período, foi construído o prédio próprio da instituição, que contou com a gestão de professores e técnicos administrativos. “Eu sou da geração que sempre quis estudar na escola técnica, então era um sonho meu ser estudante da federal. E eu consegui realizar o sonho de ser professor agora do Instituto Federal”, diz o professor de Áreas Ambientais e Ciências Agrárias, Antonio Vieira. Ele trabalha na rede federal desde 2009, na qual iniciou suas atividades como docente no campus Zé Doca (MA) e, em 2013, transferiu-se para o campus de Imperatriz.

Antonio conta que trabalha atualmente com o Ensino Steam, Ciência (Science), Tecnologia (Technology), Engenharia (Engineering), Artes (Arts) e Matemática (Mathematics), no ramo da impressão 3D. Esta tecnologia desencadeou oportunidades de perceber feições intracelulares de proteínas que não eram vistas nem em sua época de pós-graduação. “Então, como eu ministrava aula de fisiologia vegetal, os alunos me apelidavam de professor Rubisco”, explica o agrônomo, referindo-se à principal enzima do processo da fotossíntese.
O campus também desenvolve trabalhos de pesquisa e extensão, incluindo vários projetos do governo federal e parceiros. “Eu entrei com muitas expectativas, e eu não me decepcionei. Eu estou num espaço que eu me sinto feliz, então eu não tenho arrependimentos. E eu acho que isso agregou muito à minha trajetória numa instituição federal”, conta a diretora de Desenvolvimento Educacional e professora de Biologia, Dêinise Bonfim. Em tese, ela começou sua trajetória em dois campi. Em 2007, trabalhou no campus Buriticupu, depois migrou para o de Açailândia, e chegou em Imperatriz em 2010. “Eu vejo a nossa instituição como um espaço, de fato, pra gente crescer enquanto profissional. E eu acredito que a nossa limitação é não ter recursos suficientes pra nossa comunidade, mas pra nossa sociedade”, comenta Dêinise, ao citar pontos em que a instituição deve melhorar.

A aposentada Izaura ressalta ocasiões nas quais ela mesma, junto com amigas, ajudava alguns dos alunos em diversas situações até inusitadas na época. “Nós tivemos um caso de uma menina que passou no vestibular pra medicina e o pai dela vendia banana. Ela passou pelo Prouni e a bolsa não dava para ela se manter. Então nós fizemos um grupo, e mantivemos essa criatura até formar”. Outra situação foi quando, em um conselho de classe, os professores questionavam entre si a dificuldade de lidar com uma turma de 1º ano de Eletromecânica e resolveram então chamá-la. “E eu me lembro muito que eu disse pra eles: ‘Eu vou cuidar de vocês pessoalmente’. Porque eles diziam que quando eu ia fazer algo pessoalmente, pronto, chovesse canivete eu tava ali, no perrengue. Um dia, quando eles foram saindo, tiraram uma foto e botaram assim, atrás: ‘A turma que você cuidou pessoalmente’”.

As alunas Maria Eduarda Silva e Juliana Ramos, ambas do curso de Meio Ambiente, contam como foram as suas trajetórias ao longo de quase três anos estudando na rede federal. “Eu sou geralmente comunicativa. Eu acho que as pessoas me conhecem aqui: ‘Ah, quem é a Maria Eduarda?’. Todo mundo vai saber quem sou eu, porque eu realmente tenho ligação com todo mundo aqui na instituição”, conta Maria Eduarda, de 17 anos. Se definindo como “uma das caras do IFMA”, ela foi uma das fundadoras da Cooperativa Escola e integra o projeto de pesquisa Museu Maker 3D. Em ambos, os alunos ganham bolsas de iniciação cientifica para se integrarem e assim avançarem no conhecimento de pesquisa e extensão.

Juliana acrescenta que já viveu muitas vidas no IFMA. “Aqui eu estou cumprindo um propósito muito grande da parte da minha vida acadêmica. Eu não poderia ter escolhido um lugar melhor durante esses últimos três anos. Então eu acho que o IFMA é parte de quem eu sou”, admite. Junto com Maria Eduarda, elas fundaram uma microempresa chamada TZEC Tesouros Ecológicos, responsável por comercializar produtos naturais a partir de sabores autênticos do Maranhão. Juliana pensava que quando entrasse no IFMA iria enfrentar uma rotina muito rígida, por parte dos professores. “Eu aprendi a ter responsabilidade de uma outra forma, não de maneira impulsionada. Ninguém te força a nada, você vai tendo responsabilidades sozinha, se não tu vai ficando pra trás. A gente consegue receber e administrar as responsabilidades de cada maneira”.
Ao frisar que tudo o que fez foi “de corpo e alma”, Izaura reforçou o seu compromisso social. “Posso não ter sido tudo que a instituição precisava, mas foi tudo que eu podia fazer. Eu não trabalho pra diretor, pra governador, nem presidente, eu trabalho pra sociedade”. A ex-servidora guarda as memórias afetivas de sua despedida da instituição, para dar início à sua aposentadoria. Ela compartilhou que recebe frequentemente feedbacks positivos de alunos e até de pais, como o relato de uma mãe que contou como sua filha, uma jovem negra, se inspira na determinação e na beleza da professora. Para ela, é fundamental levar uma vida íntegra e comprometida, fazendo o melhor, pois há sempre alguém observando e se inspirando em nossas ações. “Quando você sai hoje, em vários lugares, você encontra a marca disso aqui. Nas universidades eles dizem muito isso: ‘Os alunos do IFMA são diferentes’. Porque eles dizem assim: ‘Os alunos do IFMA, ou vocês ensinam, ou eles ensinam você’”.

O Campus Imperatriz tem hoje um corpo docente composto por 11 doutores, 27 mestres, 34 especialistas e cinco graduados. Junto com eles, o professor doutor Antonio Vieira expõe o seu pensamento de uma conversa com o seu eu do passado. “Você tem que estar sempre estudando. Quando entrei no IFMA como doutor, já sabia disso, mas percebo que todo semestre aprendo mais com meus alunos. Eles sabem muito das suas áreas, então compartilho minhas ideias tecnológicas e a gente aprende junto”.
Dêinise imagina como será o futuro, quando estiver em processo de aposentadoria: “Vai ser difícil e doloroso, eu tenho certeza disso. Porque aqui, quando a gente começa a andar pelos corredores, a gente consegue perceber que tem vida. E quer queira, quer não, nós somos contaminados pelo ambiente que convivemos, então eu me sinto feliz”, reconhece. Ela afirmou que, ao deixar a instituição, sente como se uma parte dela ficasse para trás, o que tornaria a adaptação a um novo estilo de vida um desafio significativo. “Você vai ter muitas oportunidades de crescimento aqui. O que eu era antes de entrar mudou muito com tudo o que aprendi nessa instituição, eu diria: ‘aproveite cada momento, viva novas experiências e seja feliz’”.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.