Por Juliana Santana e Larissa Silva

Crianças praticando o bullying com a colega

O bullying é um tipo de violência que perdura por muito tempo. Pode ser por meio de agressões físicas, verbais, psicológicas que humilham, intimidam e deixam as vítimas traumatizadas. As consequências causadas por isso podem ser profundas, desencadeando distúrbios comportamentais, como depressão e até o suicídio.

De acordo com um estudo feito pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), dedicado ao bem-estar dos estudantes, no Brasil 17,5% disseram sofrer alguma das formas de bullying ” algumas vezes por mês”; 7,8% disseram ser excluídos pelos colegas; 9,3%, ser alvo de piadas; 4,1% serem ameaçados; 3,2% empurrados e agredido fisicamente.

Outros 5,3% disseram que os colegas frequentemente pegam e destroem coisas deles e 7,9% são alvo de rumores maldosos. Com base nos relatos dos estudantes, 9% foram classificados no estudo como vítimas frequentes de bullying, e estão no topo do indicador de agressões e maus expostos a essa situação.

Psicóloga Michelle em seu local de trabalho

A psicóloga, Michelle Salles Zukowski, 26 anos, explica que o bullying é uma agressão intencional que ocorre sem uma provocação aparente. “Normalmente a vítima não fez nada, e está sofrendo bullying seja por uma característica física, religiosa, ou pelo seu jeito de falar”, ressalta.

O bullying pode afetar tanto a saúde física como a saúde mental, ao ponto de o aluno desenvolver uma febre emocional que é um sintoma mais comum em crianças ou abaixar a imunidade e a criança ficar mais doente. As consequências psicológicas de quem sofre com bullying são muitas e vão desde de coisas simples como medo de ir para a escola, um desconforto ao pensar na escola, uma dificuldade de se relacionar, de fazer amigos a coisas mais complexas como uma possível depressão e ansiedade. “Até transtorno de estresse pós-traumático temos alguns estudos que apontam que a vítima pode chegar a desenvolver”, reitera a psicóloga.

Michelle Salles conta que o bullying é dividido em três tipos de agressões, a agressão física, a verbal e a agressão relacional, a física vai desde agredir fisicamente, bater empurrar a pegar o objeto de outra pessoa quebrar ou rasgar; a agressão verbal é o xingamento, o apelido, a provocação; e a agressão relacional ela é a exclusão da pessoa, no caso são as panelinhas, que exclui propositalmente alguém e isso é chamado de bullying relacional.

Ela também relata que as agressões variam de acordo com a faixa etária, e que a cada fase de desenvolvimento a criança entende a vida de uma forma.  A criança na primeira fase dos 3 a 6,7 anos ela entende que a consequência imediata é a que vale, isso faz com que ela tenha uma agressão física mais comum, por que ela não entende que se ela criar um apelido a consequência pode ser a longo prazo.  Já na pré-adolescência e adolescência que são os alunos de 10 a 19 anos é usada a agressão verbal e relacional que é quando querem excluir alguém.

As crianças que praticam bullying são aquelas que estão passando por situações difíceis em casa, que são ditadas pelos professores como os piores da turma, e com isso ocorre uma série de sentimentos negativos, no qual a criança não sabe lidar com eles de forma saudável, o que transforma toda essa negatividade em agressão.  “São crianças que estão em mais sofrimento, e elas precisam de uma atenção especial ali na escola, caso essa atenção não ocorra em casa pra entender o que tá fazendo aquela criança ser daquela forma e a escola poder fazer uma intervenção”, ressalta Michelle.

Para a psicóloga a postura dos diretores e coordenadores das escolas, teria que ser acolhedora tanto para o agressor, quanto para o agredido, trabalhar aquela situação com ambos sobre o que poderá mudar e melhorar, acompanhar para que tenha evolução. “O acolhimento não é passar a mão na cabeça, não é tirar as consequências, talvez até punitivas, uma advertência dependendo do caso, ou uma suspensão, mas tudo de forma assistida”,

O papel da família é fundamental nessas situações bullying, oferecer para a criança um ambiente onde ela se sinta amada, segura e confiante. Auxiliar na educação da criança desde casa não atribuir somente à escola, ensinar sobre empatia, sobre amar e cuidar dos colegas, que toda ação tem consequências, corrigir a criança com diálogo para tentar entender por que motivos ela teve certas atitudes. “Tem que conseguir engolir o orgulho um pouquinho e respirar fundo e esperar a raiva passar, quando a criança faz alguma coisa errada, para que a correção ocorra de forma eficaz, sempre com muito acolhimento muito amor, tendo assim uma probabilidade muito maior da criança não repetir aquela atitude”, reitera a psicóloga.

Estudante prefere aulas online, por causa do bullyng

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, um em cada três alunos em todo o mundo foi vítima de bullying, com consequências arrasadoras no desempenho escolar. Ana Heloisa de 12 anos, que já passou por situações de bullying por conta de sua altura, seu peso e seu cabelo. Sua atitude foi recorrer a diretora que por sua vez conversou com os que faziam bullying com ela e segundo ela o fluxo de ofensas diminuiu.

Ela relata que diante de seu sofrimento ela sentia a necessidade de chorar no banheiro para que sua mãe não notasse. Ela que nunca praticou o bullying, encontrou nas tranças um recurso para diminuir os insultos referentes ao seu cabelo crespo. Desde o início da sua vida escolar, Ana sempre foi a maior da turma. Segundo sua mãe Lilian Pereira, 31 anos, as reclamações são constantes.

Durante a pandemia sem as aulas presenciais os casos reduziram consideravelmente, porém com o retorno gradativo das atividades presenciais Ana Heloisa foi novamente vítima de bullying, por seu grupo de amigas.

Segundo  Lilian Pereira, a criança tem seu psicológico fragilizado a cada acontecimento, além de fazer com que ela se recuse muitas vezes a voltar para as aulas presenciais.

Lilian não ainda comunicou a escola, ela aguarda a normalização das aulas para acionar a diretoria, ela também conta que não procurou nenhum especialista para auxiliá-la, mas que tenta ajudar a filha mostrando que existe beleza em suas características, e aconselhando ela a não dar importância aos comentários focando apenas nas coisas boas que ela tem.

A criança tenta esconder em diversas situações a sua idade, por conta da sua altura, sempre informa uma idade maior do que a real.

Ensaio fotográfico feito no intuito de elevar autoestima