Isis Dias
Lisandra Oliveira
Miqueias Razias
O Carnaval é a maior festa popular do Brasil, celebrado com grande intensidade em todas as regiões do país. Embora os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo, além dos trios elétricos de Salvador e Recife, sejam amplamente divulgados, a folia não se limita às grandes capitais. Em diversas cidades do interior e regiões metropolitanas, blocos e manifestações culturais locais mantêm viva a essência da festa, promovendo inclusão, cultura e identidade comunitária.
Um exemplo da força do Carnaval é a cidade de Imperatriz, a segunda maior do Maranhão, que há 15 anos registra em sua história o Bloco do Imprensa. Fundado em 2010 por um grupo de jornalistas e profissionais da comunicação, o bloco surgiu da vontade e da necessidade de um espaço para celebrar a arte de forma descontraída e democrática. O jornalista e fotógrafo Antônio Wagner, um dos organizadores, esteve presente desde a primeira edição, inicialmente como estudante de comunicação e folião, até assumir a coordenação a partir de 2015.

Origens
A ideia do bloco nasceu no Bar do Seu Olímpio, localizado na famosa rua XV de Novembro. Frequentado por muitos jornalistas, o local se tornou palco para um debate importante: como os profissionais da comunicação poderiam aproveitar a folia, se precisam cobrir os eventos carnavalescos da cidade? Diante desse desafio, cerca de 30 pessoas decidiram brincar o Carnaval, mas não nos dias oficiais, foi preciso organizar a folia uma semana antes. Assim, o Bloco do Imprensa foi criado como uma forma de garantir sua própria celebração.
Nos primeiros anos, o bloco manteve um formato simples, com uma pequena banda tocando marchinhas e foliões “jogando maisena uns nos outros”, o que reforça o clima de descontração e alegria. Com o tempo, a iniciativa cresceu e passou a reunir milhares de pessoas, tornando-se uma tradição aguardada no calendário cultural de Imperatriz.
Função social
Um dos diferenciais do Bloco do Imprensa é a escolha de temas anuais. Não é apenas voltado para a diversão, também combinam a reflexão sobre questões sociais e culturais. Segundo Antônio Wagner, o bloco sempre busca trazer mensagens relevantes, ao mesmo tempo em que mantém sua essência festiva. Em 2025, o tema escolhido foi “A inteligência é artificial, mas a folia é real”, um alerta sobre os impactos da tecnologia e da desinformação causada na área, por meio da disseminação de fake news.

“A gente trabalha com comunicação, sabe dos perigos da inteligência artificial e também dos benefícios que ela traz. Só que a gente veio alertar que, ao mesmo tempo, por ela ser tão poderosa, também pode destruir várias partes de uma comunicação. Você hoje não consegue saber se um vídeo é verdadeiro, precisa ter muita atenção, as informações podem ser soltas em um clique. Então, a gente veio fazer esse alerta”, explica Antônio Wagner a respeito do tema de 2025.
Além de ser um espaço de celebração, o bloco também tem outra função social importante. Desde sua fundação, busca resgatar o Carnaval de marchinha e criar um ambiente confortável e seguro, em que pessoas de todas as idades podem participar. Com matinês voltadas para crianças, chamadas de Imprensinha, e um espaço de acolhimento para idosos, o Bloco do Imprensa se tornou um símbolo de convivência e valorização da cultura local.
Wagner ressalta que o bloco mantém viva a tradição carnavalesca em Imperatriz, que já teve um Carnaval mais expressivo, mas que, nos últimos anos, viu sua folia se enfraquecer por falta de investimentos e incentivos. Assim, o Bloco do Imprensa se tornou uma referência para aqueles que ainda desejam viver o espírito do Carnaval que ainda paira por Imperatriz. “A responsabilidade social é essa, de levar essa alegria todos os anos para Imperatriz e abrir o carnaval da cidade”.
Memórias
Para o organizador, participar do Bloco do Imprensa sempre foi mais do que apenas uma experiência festiva. Wagner relembra, com carinho, a segunda edição do bloco, quando foi ao evento não apenas como folião, mas também como estudante de comunicação, cobrindo a festa para uma matéria jornalística. “Então, eu curti o bloco, mas eu estava lá pegando falas, eu estava escrevendo um texto que saiu no jornal na época”. Viver aquele momento, entre os foliões, captando histórias e escrevendo sobre o evento, marcou sua trajetória profissional e pessoal.
O jornalista também destaca uma parte essencial do evento: a escolha das fantasias. Para celebrar os 15 anos da festa, ele decidiu se vestir como um príncipe carnavalesco, em referência aos tradicionais bailes de debutantes. “Esse ano eu fui a caráter, porque o bloco completou 15 anos, então eu fui vestido do príncipe que dança com a menina de 15 anos. Um príncipe meio estilizado, meio carnavalesco”.
O momento foi ainda mais especial, reforçando o sentimento de pertencimento e tradição: “Essa edição de 15 anos também me marcou muito, porque teve pessoas do início do bloco que também estiveram aqui na cidade com a gente, então foi uma alegria sem fim”, relembra Wagner.
Desafios
Organizar um bloco de Carnaval não é uma tarefa simples. Como a grande parte dos eventos culturais, o maior desafio enfrentado pelo Bloco do Imprensa é o mesmo: o financeiro. O evento não tem fins lucrativos e busca manter a tradição de ser acessível a todos. “A gente não faz o bloco para ganhar grana, tanto é que a gente incentiva o uso de fantasia, não vendemos abadás, e todos os anos a gente corre para tentar colocar o bloco na rua com dinheiro público”, afirma Wagner.

A organização precisa contar com patrocínios privados e apoio do setor público, muitas vezes enfrentando dificuldades para garantir recursos até os últimos momentos antes do evento. “Às vezes a gente não tem nem o dinheiro ainda para colocar o bloco na rua”, lamenta Wagner.
Além disso, a logística da festa se tornou mais complexa com o crescimento do público, que, em 2025, alcançou a marca de 25 mil brincantes. Garantir segurança, infraestrutura e atrações de qualidade exige planejamento e dedicação. Nos últimos anos, o bloco passou a contar com o suporte da Prefeitura de Imperatriz e da Câmara Municipal, que ajudam na organização do trânsito e disponibilizam a tradicional Jardineira para os músicos.
Futuro
Depois de 15 anos de história, o Bloco do Imprensa se consolidou como um dos eventos mais aguardados de Imperatriz. Para os próximos anos, a organização busca ampliar sua estrutura, captar recursos por meio de editais culturais e fortalecer seu espaço no calendário oficial da cidade. Há o desejo de expandir a festa, tornando-a ainda mais acessível e estruturada, para garantir que o bloco continue crescendo sem perder sua essência democrática e popular.
O Bloco do Imprensa é a prova de que o Carnaval não pertence apenas às grandes capitais. A festa vive em todos que desejam celebrar a arte, a criatividade e a cultura local. Enquanto houver foliões apaixonados e organizadores dedicados, essa história continuará sendo escrita, ano após ano, nas ruas de Imperatriz.