Bancada evangélica detém 16% das cadeiras do Congresso Nacional

Crescimento gera polêmica sobre poder do grupo de determinar, através da política, seus valores religiosos

Por Lucas Vale e Luidianny Carvalho

A relação entre política e religião nunca andou distante na história dos governos pelo mundo, durante muitos anos a proximidade dessas duas áreas resultaram em efeitos visíveis na sociedade. Mesmo que no seu caráter primordial a igreja lide com doutrina e o Estado com leis, encontrar o equilíbrio entre esses dois poderes tem sido difícil. Em 2018, o Brasil protagonizou a disputa eleitoral na qual mais se debateu  religião e poder político. O apoio de líderes religiosos, especialmente os evangélicos, e seus discursos, seguiram influenciando, de forma expressiva, as decisões do eleitorado e reformulado o cenário político do país.

Em 2018, a participação evangélica cresceu novamente no Congresso Nacional e hoje a bancada evangélica conta com 16% da representatividade. Mesmo que a expressividade desse número seja pequena, quando articulado aos católicos, espíritas e demais segmentos religiosos, acaba se fortalecendo, conseguindo barrar pautas que vão em oposição aos seus valores –  movimentos feministas e LGBT por exemplo. A dúvida que envolve esse cenário que a política se desenha, é se estaríamos caminhando para um progresso ou retrocesso na defesa de direitos “É plausível a presença de cristãos na política. O grande problema é a tentação de querer que o Estado defenda princípios religiosos, exclusivos a determinado grupo”, explica o professor José Heber Aguiar, Mestre em Teologia.

Católico casado com uma evangélica, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, tem forte apoio de evangélicos, de acordo com pesquisas do IBOPE e Datafolha. Seu discurso conservador se assemelha muito com a pregação de pastores. Em sua base de aliados, o candidato do PSL tem  representantes da religião evangélica que foram declaradamente apoiadores de sua candidatura, nomes como André Valadão, Edir Macedo e Silas Malafaia,  que reproduziram em suas redes, canais midiáticos e cultos, conteúdos a favor de Bolsonaro.

Culto da Igreja do Amor:  mais pautas conservadoras

No Brasil, essa aliança da religião com a política durou até o ano de 1890 quando após a proclamação da República, adotou-se o Estado laico. Dividindo formalmente a Igreja e o Estado por meio do decreto nº 119-A, deixando de ter a igreja Católica Apostólica Romana como religião oficial e dando liberdade à novas crenças. Para o professor José Heber Aguiar, esse fato se faz necessário para que se mantenha a liberdade de culto e credo a todos os cidadãos brasileiros. “Continuamos sendo um País de predominância cristã, mas mesmo assim, o Estado é laico e sua laicidade deve ser preservada”, afirma.

Para a professora Vanda Pantoja, da Licenciatura em Ciências Humanas da UFMA Imperatriz, não podemos negar a realidade brasileira, em que em sua grande maioria se autodeclara religiosa e que, portanto, temos a religião orientando decisões sobre outras esferas, como a política. “O que não podemos aceitar é que a moral de certos grupos prevaleça em decisões que regem a vida de todos, inclusive daqueles que não seguem doutrina religiosa nenhuma ou seguem doutrinas diferentes”.

Nos últimos anos, uma corrente do cristianismo chamada genericamente de “evangélica” cresceu entre a população e se tornou a segunda religião mais seguida, dados do IBGE estimam que até 2020 o Brasil tenha 1/3 da população como adepta desse cristianismo, que se subdivide  em pentecostal e não pentecostal.

 Pastor Daniel: igreja mudou e hoje defende ação política

Nessa perspectiva, a medida em que o número de seguidores da religião evangélica cresceu, os mesmos sentiram a necessidade de agir ativamente na política, acreditando ser a influência positiva que ela precisa, segundo pastor Daniel Vieira, presidente da igreja Assembleia de Deus CEADSETA. Ele acrescenta “a  igreja evangélica não entrava na política e até pregava que era errado pessoas estarem nela. Quando ela se omitiu percebeu que estava errada, porque a política foi só de mal a pior”.

Essa influência religiosa cresceu tanto, que no presente cenário eleitoral, o candidato eleito, Jair Messias Bolsonaro, trouxe como nome da sua coligação e tema de sua campanha “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos” a fim de se aproximar mais desse eleitorado e consequentemente aumentar suas intenções de voto.

Ainda segundo a professora Vanda Pantoja, de um modo geral, no que concerne a relação entre política e religião, as eleições de 2018 nos fornecem algumas pistas sobre o perfil do brasileiro, sobretudo àqueles que pertencem ao segmento religioso que mais cresce no Brasil, os evangélicos: são avessos às questões sociais, têm pouco apreço à diversidade e não prezam por valores humanitários e coletivos. Na análise de Vanda Pantoja, nesse sentido, pode-se dizer que os evangélicos avançaram muito no que refere à sua presença nos espaços públicos de poder político, mas muito pouco no seu processo de humanização e sensibilidade para as causas do mundo e da diversidade desse mundo.

*Reportagem especial elaborada para a disciplina Jornalismo Político (2081.2), do Curso de Jornalismo, da UFMA Imperatriz. Fotos: Stefanny Cardoso. Infográficos: Lucas Vale e Luidianny Carvalho