Imperatrizenses criam obras e mostram a riqueza da cidade em trabalhos autorais
Rosiane Stefane
Tintas de diversas cores, pincéis e muita criatividade foram utilizados por artistas locais a convite do projeto Arte em Cores, responsável por transformar espaços urbanos no Pará e no Maranhão, ao mesmo tempo que oferece aperfeiçoamento artístico, troca de experiências e estímulo aos selecionados para suas carreiras.
O projeto foi desenvolvido como forma de incentivar a cultura local e a valorização da arte urbana de cunho popular, muitas vezes depreciada pelo público, enquanto muda paisagens, desenvolve talentos e gera inclusão social. Alex Sena, artista plástica, muralista e design gráfica, foi uma das artistas selecionadas para o projeto e lamenta o descaso manifestado por alguns. “Tem pessoas que gostam de ver, mas não a ponto de pagar, porque acham que não tem valor”, comenta. Esse tem sido o seu maior desafio enquanto artista.
Em Imperatriz, o projeto selecionou 18 artistas, sendo que destes apenas cinco eram mulheres. Essa pequena representatividade no campo das artes reflete a luta a partir da qual as representantes do sexo feminino deixam de ser musas para ocupar o lugar da criação. “O meu objetivo com a arte é fazer as pessoas pensarem”, relata Pricylla Araújo, ao falar sobre seu trabalho no projeto.
Trajetória
Quando questionada sobre qual foi a obra que mais gostou de fazer, Alex relembra do mural que criou para o projeto Arte em Cores, na praça União, em Imperatriz (MA). Ela justifica a escolha pelo seu significado e pelo tema das artes nessa região, que era mais social e voltado para ressocialização de pessoas que saem da prisão. “Eu quis fazer algo mais voltado a esse tema, família, crianças, sonhos, possibilidades. Deixei bem diversificado, para deixar claro que você pode buscar o seu sonho, no singular, aquela coisa intrínseca que está dentro de você”.

A dificuldade de gerir uma carreira artística em Imperatriz se apresenta para todos, porém os obstáculos triplicam para as mulheres. Questões raciais e de classe também geram pesos extras para a inserção no mercado artístico. Pricylla comenta que “as pessoas marginalizam a arte como forma de expressão”, contribuindo para a desvalorização da cultura, principalmente no início das carreiras, desmerecendo as obras dos artistas e agindo de forma preconceituosa. Ela reforça que temos o hábito de valorizar o que é de fora, ou aqueles que já conquistaram seu espaço e terminamos nos esquecendo que existem nomes locais que são tão ou mais competentes.
Alex, por sua vez, lembra que nos últimos dois anos, Imperatriz tem recebido incentivos e diversos projetos culturais apoiados pelos órgãos públicos que incentivam a arte, seja por meio do teatro/cinema, pinturas, dança, ou outras expressões, estimulando, inclusive com auxílio financeiro, os artistas da cidade. “Tem crescido bastante aqui na cidade esse valor, eu vejo que o público jovem tem se interessado e apoiado”.

Futuro
Apesar de tantos desafios, Pricylla diz que hoje, além de muralista e artista plástica, trabalha ainda como tatuadora. Ela conta que a cultura está na sua vida desde sempre, mas que apenas em 2021 começou a se profissionalizar e a se qualificar como artista. “A minha essência é arte”.

“Eu sou minha maior incentivadora!”, esclarece Pricylla. Ela deixa uma mensagem importante para seus colegas artistas, de que apesar dos percalços e dificuldades, vale a pena investir no sonho de viver da arte e pôr em prática tudo o que fomos feitos para ser. “Mesmo que não tenha ninguém lhe incentivando, vá, porque é você por você”.
Pricylla considera que mudou bastante depois de se tornar artista, até mesmo a sua percepção de mundo. “O que é mais difícil ao artista é colocar o que está na mente para fora, mas não há valor que pague poder ver a sua criatividade se tornando algo real e palpável em forma de arte”.

Estudar é fundamental para quem deseja ser artista. Hoje existem diversas formas de pôr em prática, e várias modalidades de cursos, seja online, Educação a Distância (EAD), ou oficinas gratuitas e/ou presenciais ofertadas por órgãos públicos, inclusive no Centro Cultural Tatajuba, que é gratuito. “Tudo aquilo que é em prol da sociedade, da arte, do futuro, da história, do presente, é importante, e você pode buscar isso”. É a mensagem que Alex deixa para os artistas iniciantes, incentivando-os a serem sempre resilientes, criativos, espertos e a buscar conhecimento em todos os lugares.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.