Arraiá da Vizinhança estimulou a fraternidade durante a pandemia 

Laís Rocha

Habitantes da rua Perimetral Castelo Branco fortaleceram laços por meio da festa alternativa

“Todos isolados em suas casas, as pessoas não podiam sair, elas estavam tristes, deprimidas. O clima não era bom”. É dessa forma que José Giovani Balduíno Tavares, 52 anos, descreve a situação da rua Perimetral Castelo Branco, no Parque do Buriti, diante da pandemia de Covid-19. Ele conta que para melhorar o ambiente diante deste problema, decidiu unir-se aos outros moradores da rua para realizar uma festa na vizinhança, que respeitasse o distanciamento social e as regras sanitárias.

Giovani revela que realizar o Arraiá da Vizinhança foi uma decisão de toda a comunidade. Essa tradição começou em 2020, ano de pandemia. Assim, os moradores decidiram realizar a festa de forma separada. “Cada um fez na sua portinha, mas tinha sempre um pratinho que a gente colocava ali, para compartilhar as comidas típicas”, comenta. Ele também fez alusão à valorização do repasse da tradição pelas pessoas mais velhas, e a importância de manter viva a identidade popular. “Um povo sem cultura é um povo sem identidade.”

Vanúbia da Silva Sousa, 55 anos, uma das moradoras, relembra que na época não era permitido aglomeração, então cada um enfeitou sua casa e preparou refeições para comemorar só com a família, na porta de casa, e foi aí que a festa junina da rua se iniciou. Ela revela que a festividade auxilia no acolhimento das pessoas. “Um ajuda o outro. Mesmo que não possa ser de forma material, mas em uma conversa, numa oração, tudo isso já ajuda”. Vanúbia declarou que algumas pessoas que passavam demonstravam curiosidade e procuravam se informar sobre o que estava acontecendo. Outras viram, se inspiraram e já estão levando a tradição para outras vias.

Decorar a calçada das casas da rua é um dos principais pilares da tradição (foto: Silvana Silva)

Aperfeiçoamento

Os moradores apontam que após o fim da pandemia de Covid-19, tudo retornou à normalidade e as pessoas puderam voltar a se aproximar. Por consequência, a festa foi crescendo e mais novidades foram acrescentadas. A vizinhança começou a realizar brincadeiras com as crianças, como: corrida de saco, corrida do ovo na colher, dança da laranja, entre outras. Também foi incluído o bingo, a pescaria e a dança da quadrilha ao final do Arraiá da Vizinhança.

Vanúbia revela que os prêmios das brincadeiras são frutos de doações dos próprios moradores. “Cada um doa o que pode, diante da sua realidade”. Ela considera que essas inovações foram dando mais vida e alegria à festa. Giovani também destaca que a cada ano a festa fica mais bonita. “No próximo ano, o pessoal já quer fazer uma decoração no meio da rua, com bandeirolas e tudo mais”.

Passado e presente

Segundo Giovani, na década de 1990, Imperatriz possuía uma tradição junina muito forte. As famílias faziam fogueiras em frente às suas casas e as crianças brincavam e soltavam fogos. “Com o progresso veio o asfalto e as fiações, como a de internet, então você não pode colocar uma fogueira ali, porque vai derreter o asfalto, o cabo. Então hoje, é proibido fazer fogueira nas ruas”.

Luiz Henrique Aquino Nolêto, 18 anos, participou pela primeira vez do Arraiá da Vizinhança em 2024. Ele relata que sua experiência foi bem divertida, e que gostou bastante do que estava acontecendo e de acompanhar os meninos e meninas se divertindo. “É bom ver as crianças felizes, traz um sentimento de nostalgia. Este momento se tornou uma memória positiva para mim”. Segundo ele, houve um espírito de cooperação entre os moradores, e um sentimento de pertencimento. Luiz planeja participar novamente nas próximas edições. “A cultura de um povo é a identidade dele. É exatamente essa a conexão entre as pessoas do passado e do presente.”

Famílias buscam retratar a essência junina da forma mais tradicional possível (foto: Silvana Silva)

O amanhã

Na opinião de Silvana Sousa Silva, 45 anos, outra residente da rua, “a principal importância do Arraiá da Vizinhança é a união de todos os vizinhos”. Eles relatam a influência positiva que a festa exerce na convivência das pessoas. De acordo com a os moradores, os laços de amizade se fortalecem mais, e o clima de harmonia e a união é mantido.

Os habitantes da rua também mencionam a participação e envolvimento dos mais jovens na organização e nas outras etapas da festa. Vanúbia conta que quando o mês de junho está próximo, os jovens tentam descobrir quando e como vai ser o evento. “Nós acreditamos que quando os mais velhos já não puderem, os jovens tomarão a frente, e que não vão deixar a tradição da rua morrer”.

Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.