Jardineira transforma o bairro Vila Nova com suas mãos e cuidado
Por Bruno Gomes
Foto: Bruno Gomes

Maria das Plantas com sua planta favorita Samambaia (Tracheophyta), na rua residência.
“A planta é dada por Deus e por Jesus, é uma coisa muito bonita. Eu acho que dá vida para qualquer pessoa, se souber cuidar e tiver amor.” É assim que fala Maria dos Santos Silva, mais conhecida como Maria das Plantas, moradora do bairro Vila Nova, um dos mais tradicionais de Imperatriz (MA), marcado pela forte vida comunitária e pelos laços de vizinhança. O bairro surgiu como uma pequena comunidade e cresceu com a urbanização e o aumento populacional.
Aos 73 anos, aposentada e jardineira autônoma, Dona Maria é uma figura querida entre os vizinhos: uma mulher que transforma a terra em vida e o trabalho em afeto. Suas mãos, ainda marcadas pela terra, e suas costas, levemente curvadas pelo tempo, guardam histórias de cuidado, simplicidade e amor pelas plantas, sentimentos que fazem dela uma verdadeira guardiã do verde no bairro.
Natural de Imperatriz, Dona Maria veio ainda pequena para a Vila Nova. “Eu tinha uns quatro anos quando cheguei aqui”, recorda. Desde então, sua vida se entrelaçou com o crescimento da região. Hoje, já são 69 anos de convivência com o bairro, sendo 35 deles na mesma casa onde mora atualmente, na Rua Padre Cícero. Quando chegou, o cenário era bem diferente: “O bairro era péssimo. Não tinha quase nada. Era tudo no barrão, não tinha rua asfaltada, nem comércio. Pra estudar, a gente tinha que ir pro centro da cidade, porque aqui não tinha escola”, lembra.
Com o passar dos anos, a Vila Nova cresceu. As ruas ganharam asfalto, o comércio se fortaleceu e novas casas surgiram. Atualmente, a localidade conta com 22 códigos de endereçamento postal (CEPs), de acordo com dados do portal Imperatriz Notícias, da Prefeitura Municipal e do site MBI. Com sinceridade e esperança, Dona Maria reconhece as mudanças: afirma que o bairro está bem melhor do que antes. Embora ainda não esteja do jeito ideal, diz que as melhorias estão acontecendo aos poucos e que há um esforço coletivo para deixar o local cada vez melhor. “A Vila Nova é um bairro muito bom, eu gosto muito de morar aqui”, reforça.
Foto: Bruno Gomes

Maria Das Plantas, na porta de sua residência na rua Padre Cícero, bairro Vila Nova, Imperatriz, MA
Referencia no bairro
O apelido “Maria das Plantas” surgiu conforme a fama da cuidadora se espalhou pelo bairro. “Acho que é porque eu tenho dificuldade de vender as plantas. Aí o povo dizia: ‘quem tem planta pra vender? É a Dona Maria’. Aí botaram Maria das Plantas”. Hoje, o nome virou sinônimo de confiança. “A pessoa vem comprar aqui em casa, toma um cafezinho, bate um papo, e eu ainda dou umas plantinhas também”. É dessa mistura de carinho, simplicidade e convivência que ela construiu sua reputação e conquistou o respeito de quem mora na Vila Nova.
Para os moradores do bairro, Dona Maria das Plantas é uma figura querida e indispensável na comunidade. Elinete da Silva Araújo Furtado, dona de casa que mora há 14 anos no bairro, destaca a importância da jardineira. “Ela é doida e apaixonada por plantas. Diz que vai largar, mas depois não larga. Gosta mesmo de mexer com as plantas”. Elinete lembra que conheceu Dona Maria por meio de uma amiga que também cultivava plantas. “Eu comecei a comprar com ela. Lembro que, na primeira vez, comprei uma planta grande, num jarro, por R$ 60. Ela mesma trouxe e me ensinou como cuida”. Para ela, o trabalho de Dona Maria vai além do cultivo, é uma presença viva e constante no bairro. “Ela é muito ativa. Às vezes o povo fala: ‘Mulher, tu vai se arrebentar carregando peso’, mas ela não para. Eu acho que, se ela quietar, adoece. Outro dia mesmo vi ela pegando barro ali na esquina pra fazer as mudas. Ela não para nunca”,
Outra moradora, Elizabeth Lima, aposentada e dona de casa que vive há mais de 30 anos no bairro, também recorda como conheceu Dona Maria das Plantas. “Foi aqui mesmo, no bairro, trocando e cultivando plantas juntas. Ela me dava planta, eu trazia planta, eu plantava, nós trocávamos. Eu dava pra ela, ela me dava”, relembra. Essa convivência começou há muitos anos, entre o final da década de 1990 e o início dos anos 2000. O que mais chama a atenção de Elizabeth é o cuidado que Dona Maria tem com cada planta. Os moradores afirmam que, quando ela toca em uma planta, esta parece ganhar nova vida, mesmo que antes estivesse murcha ou feia.
Para quem vive na Vila Nova, a presença de Dona Maria é fundamental para a comunidade. Sempre que alguém precisa de orientação sobre como cuidar das plantas, é a ela que recorrem, certos de que receberão as instruções corretas para que tudo dê certo. Além disso, o trabalho da jardineira tem inspirado mudanças positivas no bairro, incentivando a troca, o cuidado e o amor pelas plantas entre os vizinhos. Essa generosidade é reconhecida por todos que vivem por perto. “Ela me ajuda com comida, com planta também. Ela é muito boa. Na hora que eu preciso, ela tá lá”, afirma a vizinha Luciana Araújo Furtado, dona de casa. Para Dona Maria, o importante é fazer o bem, sem esperar nada em troca. “Faço pra qualquer pessoa. Não cobro também”, diz a jardineira, com o sorriso sereno de quem cultiva, além das plantas, a solidariedade que floresce no coração do bairro.
Fotos: Bruno Gomes



Alguns dos trabalhos de Maria das Plantas, nos jardins das casas, de alguns moradores do bairro.
O trabalho e o dom de cultivar
Mesmo aposentada, Dona Maria não para. Pela manhã ou no final da tarde, “quando o sol tá mais frio”, é hora de molhar e conversar com as plantas. No quintal, cada vaso tem uma história. É ali que ela cultiva samambaias (Tracheophyta), rosas-do-deserto (Adenium obesum) e pica-paus (Caladium bicolor). Com sua simplicidade e cuidado, ela entra no quintal de casa, ou na casa de algum vizinho, sempre com um jeito doce e atento, falando com as plantas e acariciando-as. “Tem vezes que eu converso com as plantas: ‘minha bichinha tá bonitinha, meu Deus do céu’. E às vezes eu peço: ‘meu Deus, ajude que ela não morra’”, acrescenta.
Foto: Bruno Gomes

É com cuidado ao manusear que a Jardineira consegue fazer a troca de muda da planta.
Para ela, o segredo está no cuidado: “Acho que dá vida pra planta, sabe? Assim como a pessoa que não tem aquele cuidado… ela é afetiva, né?”. Apesar de gostar de quase todas as espécies, há uma que ela evita. “Eu não gosto do cacto, porque tem espinhos. Até a rosa eu adoro, mas como tem espinho, já evito”. Ela cultiva também diversas espécies ornamentais, que vende ou presenteia aos vizinhos. “Eu vendo de R$10, de R$15… Mas o povo que vende de R$50, eu vendo de R$30. O que vende de R$30, eu vendo de R$20. Sempre vendo mais barato, assim por mim”, assume, enquanto ajeita as mudas com o cuidado de quem trata plantas como se fossem filhos. Mais do que uma fonte de renda, o cultivo é, para ela, um gesto de amor e fé. “Sinto uma sensação boa, de alegria mesmo.
Cheia de energia e amor pelo que faz, Dona Maria não pensa em parar. Ela pretende continuar trabalhando de forma autônoma com suas plantas, levando cor, vida e cuidado para o bairro Vila Nova, sempre pronta para ajudar quem precisar dela. Com o mesmo carinho que dedica a cada muda, sonha em ver o bairro ainda mais verde e acolhedor. “Se a Prefeitura fizer alguma ação voltada para as plantas, eu quero participar. Gosto de ajudar, de cuidar e de ver as coisas ficarem bonitas”, afirma, com o olhar sereno de quem transforma o cuidado em forma de vida.