Empreendedora e mãe solo: Aline Dutra supera relacionamento abusivo por meio dos estudos

“Coloquei em minha mente que a cada não ou obstáculo que surgisse em minha vida, eu transformaria em um sim.”

Por: Rafaela Pinheiro

Aline Dutra, proprietária da empresa ADCONST (Foto: Reprodução Instagram)

Empreendedora, bombeira civil, técnica em segurança do trabalho, palestrante motivacional, administradora e MBA em gestão empresarial. Essas são as qualificações compõem o currículo de Aline Dutra, 36 anos,natural de Amarante do Maranhão, cidade que fica a 112 km de Imperatriz, mãe solteira, criou praticamente sozinha Kaliningrado (17) , Kehna (16) e Kennedy Júnior (15). Ela é o retrato das famílias brasileiras que são chefiadas por mulheres, como mostra o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em que o percentual de famílias brasileiras comandas por mulheres aumentou de 25% em 1995, para 45% em 2018. Esse aumento ocorreu por causa da participação das mulheres no mercado de trabalho.

Além de suas várias qualificações, Aline carrega em sua bagagem uma história de dor, humilhação, traição e violência doméstica, resultado de um relacionamento frustrado por causa das drogas.

Relacionamento

Completamente apaixonada, aos 17 anos, em Amarante do Maranhão, Aline conhece o seu segundo namorado. Homem de família rica e reconhecida na cidade, ele ocupava a cadeira na Câmara de Vereadores do munícipio, o qual, meses depois passaria a ser seu companheiro de vida e pai de seus três filhos. Casada, ela percebeu que o companheiro não era quem se demonstrava ser antes. “Quando namorávamos ele era uma pessoa, quando casei se tornou outra. Eu descobri que ele era dependente de drogas. Tinha uma dependência química muito forte e o grau de dependência foi aumentando conforme o tempo ia passando”, afirma ela.

Mesmo diante de uma relação conturbada, Aline decidiu ter filhos ainda jovem, já que estava casada, pois assim conseguiria acompanhar o crescimento deles, além de ter uma recuperação pós-operatório mais rápido por causa de sua idade. E assim nasceram os seus três filhos, com um curto intervalo de tempo entre as gestações.

O declínio da vida financeira da família e início de agressões intensas começaram quando seu companheiro trocou a maconha pelo crack, que o deixou mais agressivo, intolerante e impaciente com ela e os filhos. Carro, eletrodomésticos de casa e até roupas de seus filhos eram vendidos para suprir o vício, conta ela. Em pouco tempo Aline e seus filhos passaram a presenciar a entrada de traficantes, os quais o seu companheiro havia dado livre acesso em sua residência. Eles pegavam objetos da casa como forma de pagamento. Ela disse assistir a tudo isso com medo e tristeza, enquanto ficava trancada em um quarto com os seus filhos via os traficantes saquearem tudo.

Mesmo diante do abandono e exposta ao perigo, Aline acreditava em seu casamento e reabilitação de seu marido.
Desde a ter a sua casa saqueada, ver seus filhos sentados no colo do pai enquanto ele usava drogas no fundo do quintal e o acompanhar até as bocas de fumo para se certificar que ele voltaria para casa, Aline alega ter aceito todas essas situações por amor e dependência emocional. Para ela, o seu companheiro era o centro de sua vida.

No entanto, após ser agredida brutalmente na frente de seus filhos e ter o rosto “esfregado” no chão por ele, precisou ser socorrida por seu vizinho para não morrer. Depois de sete anos de um casamento falido, ela decidiu colocar um ponto final na relação, e começou então a sua nova jornada de vida.

Dependência Emocional

“O meu mundo, o meu céu era o pai dos meus filhos. Eu projetei sobre ele toda a minha vida”, confessa. Como resultado de um relacionamento abusivo e violento, Aline desenvolveu baixa autoestima, a ponto de se olhar no espelho e rejeitar totalmente a sua imagem. Abandonada, infeliz e traída, ela chegou a pesar 40kg.

O casamento foi um momento doloroso, pois além das agressões físicas, teve que lidar com a dor da rejeição e traição. Conta ainda, que quando viajava para consultar seus filhos em outra cidade, seu marido dormia com mulheres em sua casa, as quais deixavam bilhetes em forma de provocação.

Mesmo com as traições, Aline revela que não conseguia deixá-lo e quando percebeu que ele estava se ruindo por causa das drogas, entrou em desespero. “Meu Deus, vai acabar com tudo! Porque tudo que eu sou é ele. Na minha cabeça tudo que eu sou e tudo que eu tenho gira em torno desse casamento”, diz.

Recomeço

Aos 24 anos Aline decide recomeçar a sua vida com os seus três filhos pequenos em Imperatriz. Sem pensão alimentícia e sem emprego, teve que voltar a morar com seus pais. Depois de um ano de busca, foi contratada para trabalhar numa empresa de cosméticos como vendedora, recebendo um salário de R$ 550,00.

Em atendimento, ela conheceu um médico, dono de uma clínica de medicina do trabalho em Açailândia, que precisava de uma moça comunicativa e que tivesse o curso de Segurança do Trabalho para ocupar um cargo em sua empresa. Aline, apenas com o 2° grau de escolaridade, foi até o local com uma amiga apenas para conhecer, mas para sua surpresa, acabou sendo contratada. Seu chefe então lhe propôs fazer o curso de segurança no trabalho e disse que a ajudaria com os custos.

Assim, trabalhando como faz tudo, desde a servir café até limpar o chão, por causa de sua proatividade e de seu bom desempenho, foi promovida de atendente para gerente, o que considera como ponta pé inicial para a sua nova jornada na vida profissional.

Estimulada a adquirir conhecimento e criar uma carreira de sucesso para compensar os sete anos de relacionamento frustrados, durante a sua permanência na clínica, entre atendimentos e curso técnicos, ela evoluía, aprendia e recuperava a sua autoestima. Após cinco anos de aprendizado e conhecimento, acabou sendo assediada por seu chefe, e mudou a sua rota, decidindo recomeçar novamente em Imperatriz.

Sem conseguir emprego por a considerarem “qualificada demais” para as vagas, foi encorajada pelo supervisor de uma grande multinacional e decidiu então abrir sua própria empresa de Segurança do Trabalho, e assim nasceu a ADCONST. Atualmente, sua empresa presta serviços para a Suzano, e já chegou a empregar 130 funcionários para trabalhar de forma direta.

Aline Dutra aplicando treinamento em Técnicas de Segurança no Trabalho (Foto: Reprodução Instagram)

Depois de suas realizações pessoais e profissionais que lhe proporcionaram dar uma vida estável e confortável para ela e seus filhos, Aline revela que hoje em dia o que lhe dá satisfação e realização pessoal é ajudar pessoas através de sua vida ministerial. Cristã e Missionária, usa sua história para ajudar e motivar pessoas, revelando que este é o seu grande propósito na terra.