Por: Jacqueline Nascimento
Ao longo da minha trajetória universitária, tive a oportunidade de entrevistar uma pessoa com deficiência para escrever uma notícia. Naquele momento, não imaginava o quanto essa experiência iria transformar minha perspectiva sobre acessibilidade e inclusão.
A entrevista estava marcada para uma manhã, por mais que o campus fosse familiar para mim, naquele dia, cada detalhe parecia diferente. Ao encontrar com a entrevistada, uma jovem estudante com deficiência visual, fui imediatamente impactada por sua energia positiva e disposição em compartilhar suas vivências. Antes mesmo de começarmos a gravação, ela me contou sobre os desafios diários que enfrentava na universidade, desde a falta de materiais acessíveis até as barreiras físicas que dificultam sua locomoção.
O mais marcante foi perceber como a realidade que ela vivia era tão distante da minha. Eu, que sempre havia considerado o ambiente universitário como um espaço de aprendizado e crescimento, passei a enxergar suas limitações. As rampas que eram escassas, os elevadores que frequentemente estavam quebrados, os poucos materiais didáticos adaptados. Aquilo que para mim era invisível, para ela era um obstáculo constante.
Durante a entrevista, ela falou sobre sua paixão pelos estudos e sua vontade de superar cada barreira. Contou histórias de solidariedade entre colegas, mas também de momentos de solidão e frustração pelo preconceito enfrentado em sala de aula e muitos deles vindo dos próprios professores. Nesse momento eu pude sentir a dor dela e não contive as minhas lágrimas.
Ao final da conversa, senti que, mais do que uma entrevista para uma notícia acadêmica havia sido um aprendizado profundo sobre empatia e responsabilidade social. Entendi que a inclusão vai muito além de políticas institucionais; ela começa no cotidiano, nas pequenas ações e na forma como enxergamos o outro.
Aquela manhã não só ampliou minha visão sobre as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência na universidade, mas também despertou em mim o desejo de contribuir para uma mudança real. Desde então, passei a observar com mais atenção as estruturas ao meu redor e a questionar o quanto elas realmente atendem às necessidades de todos.
A entrevista que eu imaginei ser uma tarefa rotineira tornou-se um divisor de águas. Foi um momento em que percebi que, para construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva, é essencial ouvir e compreender as experiências de quem vive essas realidades. A partir daí, juntamente com um grupo de amigos, desenvolvemos um podcast regional “ rádio imperativa” para a matéria de jornalismo regional e tivemos como primeiro episódio “acessibilidade” que me trouxe uma enorme satisfação em apresentá-lo e conhecer ainda mais a diversidade e as dificuldades das pessoas PCDs.