Cuidar dos filhos, da casa e ainda da vida acadêmica é a realidade de muitas mães no Brasil. O cotidiano das mães universitárias se divide em uma tripla jornada enfrentada às vezes sozinha, sem o mínimo apoio paterno. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que são 11 milhões de mulheres que cuidam dos seus filhos sozinhas. Destas, 12% (em torno de 1,3 milhão) são universitárias, sendo um quarto delas negras.
Fabiana Viana, 23 anos, é estudante do 6º período de jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), unidade de Imperatriz. Ela explica como é ter que conciliar a universidade, casa e a maternidade.
“Administrar essa tripla jornada é um desafio todos os dias, pois sou mãe solo, então é bem mais difícil ter que estudar, cuidar de casa cuidar, dos filhos, levar para escola. Às vezes eu me enrolo na rotina porque para dar conta de tudo eu me organizo ou tento. Todos os dias eu acordo às 6h:20, faço café, acordo as crianças, dou banho, levo para creche, vou para academia, malho das 7h:30 até às 8h:30 então quando dá 8h:40 por aí eu já estou em casa”.
Desempregada e mãe solo, Fabiana conta com o bolsa família e uma bolsa do Programa de Educação Tutorial (PET), disponibilizada na própria universidade por meio de uma seleção, que tem como um dos seus objetivos desenvolver atividades acadêmicas em grupos de aprendizagem tutorial de natureza coletiva e interdisciplinar. É mais uma atividade extra que contribui, mas também lhe toma um pouco mais de tempo.
Para ir para a universidade ela precisa deixar os filhos com a avó todos os dias já que não tem condição de pagar uma babá e nem a universidade oferece um espaço adequado para filhos das universitárias.

De acordo com a Assistência estudantil da UFMA, de fato não há um espaço reservado para as crianças, porém existe o auxílio creche destinado às discentes com filhos de até cinco anos e onze meses. O valor do auxílio é R$ 200,00 mensais, totalizando 12 parcelas. “Para que seja concebido o auxílio creche, é necessário que a discente coabite com a criança e tenha a guarda e a responsabilidade legal sobre o (a) dependente”, diz a direção da Assistência Estudantil.
Quem partilha da mesma experiência, mãe e universitária, porém com a figura paterna do lado, é a Julia Eduarda. Ela cursa o 3° semestre de jornalismo na UFMA. Mãe da Aurora e agora grávida de 9 meses do segundo filho confessa que não é fácil estudar e cuidar da filha.
“O cansaço é sempre presente, mas a gente vai tentando dar conta de tudo. As vezes é preciso parar de fazer as tarefas acadêmicas para dar assistência para o bebê”.
Julia trabalhava com a mãe na área de marketing da empresa da própria família, mas teve que parar por conta da nova gravidez. Ela conta com o esposo na questão das despesas, segundo ela, ele também ajuda no cuidado com o bebê, mas a maior parte é com ela.
A universitária fala ainda da questão estrutural da universidade, onde ela percebe como umas das dificuldades, a locomoção do carrinho do bebê. “A falta de rede de apoio por parte da universidade é evidente. É possível encontrar certas irregularidades no piso, por exemplo, mas sinto principalmente a ausência de um fraldário”, finaliza Julia.

foto: arquivo pessoal
A função das universidades
Atualmente na Câmara dos Deputados tramita um projeto de lei (PL 794/2023). O Projeto de Lei foi apresentado pela Deputada Dandara Tonantzin (PT/MG), e visa incluir um adicional de 50% do valor da bolsa estudantil para alunas provedoras de família monoparental na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Enquanto o projeto de lei não é aprovado, as universidades tentam ajudar como podem. No caso, a UFMA contribui apenas com o Auxílio Creche que por meio de uma seleção, convoca as mães mais que mais precisam.