Por: Ana Letícia
Com o isolamento social, ainda necessário durante a pandemia do novo Coronavírus, os idosos, que são o principal grupo de risco vulnerável a desenvolver complicações pela Covid-19, também estão mais ansiosos. Isso acontece porque além do medo da doença, o confinamento que é uma das medidas preventivas para evitar o vírus, pode deixar os idosos mais tristes e ansiosos, pela falta de interação social, e o contato com familiares e amigos.
A idosa Maria Delzuita de 75 anos afirma que durante um ano isolada em sua casa, enfrenta a ansiedade e a insegurança em relação ao novo Coronavírus. “Como eu sou uma pessoa muito dinâmica para sair, fazer minhas coisas, ir na rua, quase todos os dias eu ia ali no calçadão, é um isolamento muito delicado, a gente se torna uma pessoa até inútil, porque não tem convivência com ninguém, com os vizinhos, é todo mundo trancado, e eu te digo com certeza: tem dias que eu tô abalada, porque a reportagem no ano passado foi muito pesada, quando você vê aquele tanto de urna, aquele tanto de famílias perdendo seus entes queridos, você se torna uma pessoa fragilizada, diante da vida”, afirma a dona de casa.
Delzuita conta ainda que já precisou apelar para medicamentos e produtos terapêuticos para amenizar a aflição que a pandemia trouxe há um ano atrás. “Eu tomo todos os dias um calmante, um relaxante para poder aguentar o dia, porque realmente é um vírus que nós não conhecíamos, nós estamos dentro de uma vida muito difícil, de uma insegurança. Na verdade é uma insegurança.”
Medo de sair de Casa
A dona de casa Aldacira Feitosa, que tem 80 anos e também está no grupo de risco, passa pela mesma situação. Ela afirma que durante a pandemia está sentindo muita dificuldade, devido à tensão que a doença causa, bem como as limitações de suas atividades diárias. “Eu saí de casa em março, no dia 19 de março [de 2020]. Eu andei na rua comprando algumas coisas, já me preparando para ficar em casa, e nunca mais saí, nunca mais fui na missa, nunca fui em uma feira, em um comércio, em nada. Fiquei trancada em casa, estou aguardando a vacina chegar para poder sair. É muito difícil, para a gente que é idoso, é pavoroso“, conta Aldacira.
Para o médico Itamar Fernandes, a falta do convívio social, que entre os idosos já era uma questão difícil antes da pandemia, agora se agrava, e leva o idoso a estar mais propenso a desenvolver doenças mentais, entre elas a ansiedade. O idoso, por si só, considerando as próprias limitações que são impostas pela maturidade física e emocional, já é muito predisposto à ansiedade.
Consequentemente, com a pandemia, a exemplo das crianças e adolescentes, o isolamento, o estadiamento social, o medo de morrer, acima de tudo, indiscutivelmente é uma fonte de ansiedade. Não é a toa que nós temos registros de casos de suicídio, entre idosos e jovens e adolescentes, em nível de mundo, depois da pandemia” afirma Fernandes.
Afeto que cura
Itamar Fernandes reforça a necessidade da família neste momento tão delicado para os idosos. Segundo ele, as medidas preventivas contra o vírus não são empecilhos para a troca afetiva. “Como forma de diminuir a ansiedade do idoso, seria muito importante que as famílias se dessem conta da troca afetiva, mesmo com a necessidade que temos de cobrir o rosto, nariz, de se isolar socialmente”, incentiva o médico.
Por fim, Fernandes fala sobre a gravidade da ausência familiar. Segundo ele, são pequenos gestos, mesmos remotos, que podem salvar a saúde mental do idoso. “Se a família neste momento de pandemia, se fechar mais ainda, então é tudo de ruim para o idoso. Então não custa nada uma ligação, uma de manhã e outra a tarde, com frases de incentivo, de carinho, isso faz com certeza, ou fará com que haja menos ansiedade entre os idosos”, alerta Itamar Fernandes.
Superando o isolamento
Mesmo com a tensão causada pelo Coronavírus, Delzuita conta que conseguiu retomar uma vida ativa e divertida interagindo com parte da família que reside com ela. “Inventamos de jogar um baralho, eu e meu velho. Nós temos a sessão do jogo de manhã, e uma sessão à tarde, às vezes eu faço meu crochêzinho e tudo, mas foi uma diversão muito boa, porque nós estamos os dois interagindo. Tem dias que sou eu que ganho, tem dias que é ele que ganha, ele fica irritado quando ele perde! Mas foi muito bom. Todos os dias nós temos essa terapia de manhã e à tarde.” Brinca a dona de casa.
Aldacira Feitosa também conta que não se deixou abalar, e continua mantendo uma rotina diária no isolamento. “Neste período de quarentena eu não paro de trabalhar, passo o dia limpando a casa, preparo minha comida, lavo minhas roupas, estou com o meu tempo todo ocupado. Cuido de minhas plantas, e ainda tenho tempo para conversar com amigas pelo celular. não paro”, afirma.