A adoção e castração de gatos de rua pode ajudar no controle populacional desses animais. Paulo Henrique, médico veterinário, fala sobre o assunto

Repórteres: Francisco Nascimento, Iago Sousa e Ivanilde Firmo

Doutor Paulo em sua clínica veterinária, Mundo Animal, localizada na Avenida Bernardo Sayão. Foto: Iago Sousa.

É muito comum encontrar gatos abandonados pelas ruas de Imperatriz (MA). A superpopulação de felinos sem lar, hoje, é uma realidade intrínseca à cultura da cidade maranhense. Topar com esses animais durante uma caminhada já virou parte do cotidiano da população imperatrizense. Segundo dados da Unidade de Vigilância em Zoonoses, órgão responsável pelo controle de doenças e agravos transmitidas por animais domésticos ou não, há entre 13 e 14 mil gatos no município. Não há dados concretos acerca dos que vivem em situação de abandono. Esse crescimento na população de animais de rua, de modo geral, pode causar um desequilíbrio no ecossistema, podendo prejudicar, inclusive, a sobrevivência de outras espécies. Existem agentes que trabalham em prol de ajudar a resolver a situação, como o centro de zoonoses e organizações não governamentais (ONGs) de ajuda à pets.

O centro de zoonoses, atualmente, atua acolhendo gatos de rua com doenças incuráveis, para ajudar no controle populacional desses seres vivos. De acordo com o médico veterinário do orgão, Paulo Henrique Soares e Silva, 53 anos, esse quadro representa risco para a saúde dos gatos de rua que, muitas vezes, causam acidentes e são vítimas de atropelamento, e para o homem, que pode se contaminar com doenças transmitidas por esses felinos. Natural de Imperatriz, Paulo formou-se em medicina veterinária, pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em Belém, e especializou-se em saúde pública pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). Foi coordenador do centro de zoonoses por 21 anos. Para ele, a castração e a adoção desses gatos de rua são exemplos de estratégias eficazes para o controle populacional desses seres vivos. 

Além disso, em Imperatriz existem, também, várias ONGs e grupos de iniciativas sem fins lucrativos, que, assim como o centro de zoonoses, visam ajudar pessoas interessadas em adotar e castrar esses animais e facilitar esses processos por meio de campanhas, como o Grupo de Proteção aos Animais (GPAi).

Fundada em 2014, a GPAi surgiu como uma iniciativa de ajudar no controle do aumento da população de gatos em situação de abandono. O grupo sobrevive de doações, colaboração de clínicas veterinárias, como a Servet e a Petclin, e o apoio da população. A equipe é formada inteiramente por pessoas que se voluntariam para ajudar na causa animal. A ONG não possui abrigo, contam com a ajuda de protetores, que disponibilizam suas casas, temporariamente, para os animais, até que sejam adotados. O grupo faz ações de castração junto de clínicas veterinárias, para ajudar tutores de pets que querem castrá-los, onde conseguem trazer descontos nos preços dos procedimentos, que podem chegar a R$ 150,00 para machos e R$ 400,00 para fêmeas. “A nossa existência é para castração, onde a gata é castrada por R$ 120,00 e o gato macho por R$ 60,00.”, diz a GPAi. As próximas campanhas estão previstas para ocorrer em outubro e novembro. 

Eles também fazem campanhas de adoção por meio de feirinhas e através de suas redes sociais, Facebook e Instagram, onde publicam pedidos de terceiros. A ONG diz que na última feirinha de adoção, que ocorreu em fevereiro ou março do ano passado, conseguiram adotar 44 gatos com castração garantida e 65 gatos. 

Na entrevista feita presencialmente na sua clínica veterinária, o doutor Paulo conversa com o Imperatriz Notícias sobre adoção e cuidados na criação dos gatos domésticos, tirando dúvidas e trazendo curiosidades sobre o tema.

Doutor Paulo em seu escritório, durante entrevista com o Imperatriz Notícias. Foto: Iago Sousa.

Imperatriz Notícias: Existe alguma idade para se adotar um gato?

Paulo Henrique: O ideal é a partir dos dois meses de idade, quando acaba o período de amamentação. O gato deve amamentar, no mínimo, por 30 dias. Então, com 50 dias de nascido, o gatinho já pode ser adotado, pois já amamentou o suficiente.

IN: Alguns gatos com idade mais avançada têm mais dificuldade em se adaptar a novos ambientes. Então, em caso de adoção de gatos mais velhos, quais medidas o tutor pode adotar para facilitar esse processo de adaptação ao novo lar?

PH: Primeiramente, deve-se verificar se o gato está saudável, ou se possui o esquema de vacinação correto. Se não, é necessário fazer alguns exames de sangue antes da adoção. Porque esse gato pode ter doenças que podem ser transmitidas para os gatos que já tem em casa. É importante saber se ele [o gato] é castrado ou não. Pois gatos castrados são mais dóceis e mais caseiros, e requerem uma alimentação especial.

IN: Após adotar um gato, quais são os primeiros cuidados que o tutor deve ter com seu pet?

PH: O mais importante é levar o gato regularmente ao veterinário e manter o esquema de vacinação atualizado. Dar remédio para verme. E dar uma alimentação correta. Porque o gato, assim como qualquer animal, pode levar doenças para nossas casas. Algumas dessas doenças podem ser transmissíveis para o ser humano.

IN: Com quanto tempo o gato pode tomar as primeiras vacinas? (Pergunta da resposta)

PH: A partir de 60 dias, qualquer gato, macho e fêmea, já pode iniciar o calendário de vacina. Após isso, deve fazer o reforço uma vez por ano durante toda a vida. O vermífugo pode ser dado a cada quatro meses. Os banhos podem ser feitos periodicamente, em torno de 20 a 30 dias de um para o outro.

IN: Qual a importância da vacinação do gato?

PH: Existem doenças de gatos, que não possuem tratamento, como a Felv, a leucemia felina. Não há tratamento para ela. É uma doença debilitante e que pode levar ao óbito do animal. Ela não pode ser transmitida para o homem. Porém, entre os gatos, é altamente contagiosa. Outra doença para a qual há vacina, é a raiva. Ela é praticamente 100% letal. Diferentemente da Felv, ela pode passar para o humano. A raiva pode ser prevenida através de vacina adquirida em clínicas particulares ou, gratuitamente, por meio de campanhas anuais feitas pela prefeitura. Ela deve ser tomada a partir do terceiro mês do gato e deve ser reforçada todo ano.

IN: Existem algumas viroses, verminoses e outros tipos de doenças que gatos recém nascidos podem adquirir. Nesses casos, além da vacinação, quais cuidados o tutor deve ter para evitar essa situação?

PH: É importante vacinar e vermifugar a mãe antes que ela entre no cio [fase de acasalamento dos felinos], para que ela passe a imunidade [decorrente da vacinação] para os filhotes durante a gravidez e a amamentação. Porque no leite materno há anticorpos, vitaminas e proteínas ideais para a defesa do animal recém nascido.

IN: Além do leite materno, existe algum outro alimento que possa ser dado para o filhote? (Pergunta da resposta)

PH: Até 30 dias, é o leite materno e água. Depois que desmamar, tem que oferecer ração para filhote. A ração é ideal para o animal, pois já vem balanceada e possui todos os nutrientes e vitaminas essenciais para a saúde do gato. Existem leites artificiais, chamados de papinhas desmame, que funcionam como suplementos alimentares. Há alguns leites para consumo humano que podem ser usados na alimentação dos filhotes, mas o ideal são as papinhas desmame.

IN: O tipo de ambiente em que os filhotes são colocados também pode influenciar na saúde e bem estar dos filhotes. Então, qual seria o ambiente ideal para os gatos recém nascidos?

PH: Não pode ser um ambiente muito úmido, nem muito frio. Porque eles [os filhotes] podem pegar dermatites ou problemas respiratórios. Também não pode ser muito quente. Tem que ser um ambiente arejado, higienizado adequadamente e com pouco barulho, para não estressá-los.

IN: É verdade que gatos não podem consumir chocolate e qualquer outro alimento doce?

PH: Sim. O consumo de alimentos doces, no caso dos gatos, pode levar a intoxicação alimentar. Lesões hepáticas, como gordura no fígado, ou a ira, que é a insuficiência renal. Por isso, é sempre recomendada uma alimentação balanceada e preparada para felinos. Até mesmo a nossa comida caseira deve ser evitada o máximo possível. E, principalmente, nunca oferecer alimento cru para gato. Porque o gato pode se contaminar com uma doença muito grave e contagiosa para o ser humano, a toxoplasmose. No gato ela é assintomática, ou seja, não há sintomas. Ela pode ser transmitida para o ser humano pela ingestão de alimentos contaminados pelas fezes dos animais e pode causar vários riscos à vida das pessoas, como o aborto e má formação fetal na mulher gravida, e, no homem, pode resultar na cegueira.

IN: Caso o gato tenha toxoplasmose, como detectar a doença, já que ela é assintomática, e quais cuidados o tutor deve ter para não ser infectado? (pergunta da resposta)

PH: Só dá para saber se o gato tem a doença ou não, através de exames de sangue específicos para toxoplasmose. E para evitar que o tutor se contamine com a doença, é importante lavar bem as mãos sempre que mexer com o gato. Limpar corretamente os locais onde o animal defecar. Se, por acaso, algum alimento cair próximo a locais com fezes de gatos contaminados é bom lavar muito bem aquele alimento para poder ingeri-lo.

IN: Existe limite de idade para castração?

PH: Existe uma idade mínima. No caso dos gatos machos, é recomendável castrar após o décimo mês. A fêmea pode ser castrada a partir dos seis meses de idade.

IN: Na sua experiência, qual é a castração mais difícil de se fazer? A da fêmea ou a do macho?

PH: A do macho é extremamente simples. Ela demora de 10 a 15 minutos. É feita a abertura da bolsa escrotal para retirada dos testículos. O tempo de repouso do gato macho é de 24 horas. Já a castração da gata requer mais cuidado e um tempo maior para ser feita, de 30 minutos a uma hora. No caso da fêmea, tem que abrir a barriga para retirar o útero e os ovários. O pós operatório deve ser mais cauteloso e demanda mais tempo de repouso, podendo durar de cinco a oito dias. Nas gatas, após a cirurgia, pode ser usada a blusa cirúrgica e deve-se ter maior cuidado com a higienização da cirurgia para evitar possíveis infecções. E pode ocorrer a ruptura dos pontos, podendo resultar na morte do pet por choque septicêmico ou septicemia.

IN: O temperamento dos gatos varia de um para o outro. Há gatos mais agressivos e enérgicos e há aqueles mais calmos. Quais medidas podem ser tomadas para melhor lidar com os diferentes temperamentos dos pets?

PH: Isso tem a ver com o tratamento e os cuidados. Se o gato fica em ambiente muito estressante, que tem muitos animais, como cães latindo, ele pode se assustar e se estressar. A castração pode ajudar a deixar o gato mais dócil, mais tranquilo. Mas há raças que são mais agressivas. Hoje existem alguns alimentos, alguns produtos que funcionam com relaxantes para felinos. Há também os psicólogos para gatos que podem ajudar no temperamento do gato, e algumas terapias também, como a musicoterapia. Música ambiente pode ajudar a relaxar o gato.