Cresce o número de jovens mulheres nos concursos públicos em Imperatriz (MA), mas presença feminina ainda enfrenta obstáculos

Por: Lara Sofia

Os concursos públicos voltaram a atrair uma nova geração de mulheres em Imperatriz. Nos cursinhos, nas salas de prova e nos grupos de estudo da região, é possível perceber algo que há poucos anos não estava tão evidente: jovens cada vez mais determinadas a conquistar estabilidade e espaço em carreiras antes dominadas por homens. O movimento acompanha uma tendência nacional de crescimento da presença feminina em processos seletivos de alto nível.

Segundo o Cebraspe, responsável por alguns dos maiores concursos do país, 56% das inscrições em seleções federais nos últimos três anos foram feitas por mulheres. A presença feminina também cresce nos concursos estaduais, sobretudo nas áreas administrativas e de segurança pública. No Maranhão, editais recentes mostram aumento consistente dessa participação, embora os concursos militares ainda sejam majoritariamente masculinos.

A vida real por trás dos números

Entre as histórias que representam essa virada está a da estudante de Direito da UFMA, Nielly Fonseca, que viu sua rotina mudar completamente quando decidiu se preparar para concursos em 2024. Jovem, universitária e trabalhadora, ela mergulhou em uma rotina intensa de estudos.

Foi difícil adaptar. Eu já sabia que seria pesado, porque passei pela OAB, mas tive que abdicar de muita coisa. Não é só sentar e ler: tem método, seleção de matérias, ritmo… E ainda tinha minhas responsabilidades em casa”, conta.O relato dela é espelho de tantas outras candidatas brasileiras. Uma pesquisa do Instituto Millenium (2023) aponta que 45% das mulheres concurseiras estudam menos do que gostariam por acumular tarefas domésticas, contra apenas 18% entre os homens. A sobrecarga, segundo Nielly, era um obstáculo diário:

“Trabalho só no período da tarde, mas tenho responsabilidades em casa. Ajudar com organização, tem tambem meu irmão, acompanhar a faculdade… Eu me sentia sobrecarregada com essa rotina.”

Até 2023, concursos de segurança pública em todo o Brasil ,inclusive no Maranhão e no Tocantins, reservavam apenas 10% das vagas para mulheres. A regra mudou em 2024, quando o Supremo Tribunal Federal classificou a limitação como inconstitucional, abrindo caminho para uma disputa igualitária pela primeira vez. Mas, mesmo com o avanço jurídico, os desafios continuam. As maiores barreiras surgem no Testes de Aptidão Física (TAF). Levantamentos da Escola Nacional de Segurança Pública mostram que as reprovações femininas são proporcionalmente superiores, especialmente nas provas de barra e corrida.

E o último concurso enfrentado por Nielly trouxe exigências ainda mais duras: “É comum a barra feminina ser isometria, só segurar. Mas esse edital cobrou duas barras dinâmicas. Parece pouco para quem vê de fora, mas para a mulher é muito, muito difícil. A pressão física não afetou apenas as candidatas.
Teve homem usando testosterona e mesmo assim muita reprovação”, lembra. “Era esperado que as mulheres reprovassem mais, mas nem foi no nível que imaginávamos.

A corrida também sofreu alterações: mulheres de até 25 anos passaram a ter metas mais rígidas, aumentando o grau de dificuldade. Mesmo assim, a maior barreira muitas vezes é a solidão feminina nesses ambientes.“Entrei na sala e só tinha homens. O aplicador até falou: ‘Finalmente uma mulher’. A gente sabe disso, mas ver ao vivo assusta.” A cena é retrato do cenário nacional: concursos militares têm entre 70% e 85% de candidatos homens, segundo dados da FGV e do Cebraspe.

Mas resistência e persistência renderam frutos. Em 2025, Nielly foi aprovada no TAF da Polícia Militar do Tocantins (PMTO) ,um dos mais concorridos da região e tradicionalmente masculino. Sua conquista representa mais do que uma vitória individual: simboliza a entrada de uma nova geração de mulheres em setores onde elas sempre foram minoria.

Nielly, momentos após ser aprovada no TAF, celebra um sonho que virou realidade.

O futuro é feminino ,e já começou

Mesmo com desigualdades ainda visíveis, o avanço é concreto. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) mostram que, em 2023, as mulheres representavam 59,1% das matrículas na educação superior brasileira. São jovens, majoritariamente de 18 a 26 anos, em busca de estabilidade, independência financeira e expansão profissional. Para Nielly, essa transformação está apenas começando: “É uma barreira que está sendo rompida. As mulheres estão chegando, mesmo com menos tempo, menos descanso e mais responsabilidades. E vão chegar cada vez mais.

E, à medida que esses passos se multiplicam, o que antes era exceção passa lentamente a se tornar regra. A presença feminina não só cresce: ela redefine espaços, questiona estruturas e inspira novas trajetórias. Se hoje a presença das mulheres nos concursos militares ainda é minoria, amanhã pode ser o oposto. O movimento é real, é consistente e irreversível. O caminho está sendo aberto. E quem segue à frente dele são mulheres como Nielly, que transformam esforço em conquista e mostram, na prática, que o futuro já tem dono. E o futuro é feminino.