O Argentino do Santa Rita

Professor de artes marciais escolheu bairro periférico para ministrar aulas há 10 anos

Por Thalisson Freitas

Professor Rodrigo Argentino no meio do tatame do Centro de Treinamento e Lutas Rodrigo Argentino, o CTRA Lutas


Há 17 anos, em 2009, um jovem paulistano de 28 anos chegava à Imperatriz. Veio motivado a conhecer seus parentes e passar apenas 15 dias, mas se encantou pelo clima e ritmo da cidade que decidiu permanecer aqui. A partir dessa escolha, criou a primeira academia especializada em lutas do bairro Santa Rita – o Centro de Treinamento e Lutas Rodrigo Argentino, o CTRA Lutas. Ele é Rodrigo de Melo Rosendo, conhecido popularmente como Rodrigo Argentino. “Aqui é diferente de São Paulo. Lá o tempo fecha já era. Em Imperatriz, eu gostei muito do calor”, afirma Rodrigo, perguntado sobre o que mais chamou atenção na cidade. 

Assim que chegou em Imperatriz, Rodrigo Argentino não morava no bairro Santa Rita. Mudou-se para lá pouco tempo depois, por conta de um namoro em que a família o acolheu. O Santa Rita, formado a partir da Paróquia Santa Rita de Cássia e do riacho Capivara, localiza-se na região norte da cidade, próximo à Nova Imperatriz. Trata-se de um bairro importante para a cidade e conhecido por integrar a região do Grande Santa Rita, formada pelo Parque São José, Bom Sucesso, Planalto e mais alguns outros bairros.

Na época em que se mudou para o Santa Rita, no ano de 2014, o professor de artes marciais trabalhava numa empresa de cargas aéreas e pediu demissão para se dedicar ao relacionamento que logo lhe rendeu uma filha, a Melissa. Logo depois, ele teve que voltar a trabalhar para garantir o sustento da família e também para ajudar seu amigo “Dudu” em uma academia próxima à sua casa. 

CTRA Lutas

No ano seguinte, em 2015, ele decidiu sair do local e até então, não tinha noção do que fazer. No mesmo dia que isso aconteceu, ele relembra que estava passando por uma rua, próximo à sua casa, e observou que havia um local disponível para alugar e viu a oportunidade de construir seu próprio negócio. “O aluguel na época era R$300 e era o único dinheiro que eu tinha. Então eu  pensei: ou vai ou racha!”, lembra. Ele optou pelo “racha”! Alugou o espaço e iniciou seu centro de treinamentos com oito alunos, vindos de um projeto social da Associação Tocantins Combate,  onde ministrou aulas de jiu-jitsu por dois anos e meio. Inicialmente, ele não cobrava nada, mas com o passar do tempo, novos alunos foram chegando, e ele pôde começar a cobrar pelas aulas, garantindo assim sua renda e a continuidade do centro de treinamento. Hoje, o centro está localizado na rua Padre Cícero e atende quase 200 alunos nas modalidades: Muay Thai, Jiu-Jitsu e MMA. 

Rodrigo Argentino não só conseguiu firmar seu empreendimento, como também o próprio nome em toda a cidade. “Você fala meu nome na cidade e a galera sabe quem é: o Argentino da luta!”. E esse sempre foi o propósito do paulistano – ser referência em lutas em Imperatriz e, assim conseguir participar das principais competições de luta não só em Imperatriz,  mas do estado, do país e até do mundo. 

Rodrigo aponta para medalhas e troféus garantidos ao longo de sua carreira como lutador profissional de artes marciais

Apesar do sucesso, Rodrigo revela que não pretende sair, por enquanto, do Santa Rita, e que considera um bairro bom, além de ter seu público consolidado na região. “O Santa Rita, já foi, há muito tempo, um bairro perigoso, mas hoje em dia está tranquilo e bom de se viver”, comenta. 

Com tanto tempo dedicado à luta, Rodrigo comenta como começou seu gosto pelas modalidades marciais em São Paulo. “Eu já era moleque, tinha 12 anos e ia para uma locadora de fita VHS ver os caras lutando naquele Ultimate Fight. E falava: que massa!”. Mas o seu primeiro contato como praticante de luta foi com o karatê por volta dos anos 2000. Só que assim como aconteceu anos depois, ele teve que largar tudo para trabalhar e dedicar-se ao seu filho, Vinicíus Eduardo, que hoje, já está com 25 anos.

Nos dias atuais, Rodrigo revela que muita gente ainda possui preconceitos e não entendem as qualidades que as lutas marciais oferecem, sejam elas o Jiu-Jitsu, Muay Thai ou até MMA, que são modalidades ofertadas em seu centro de treinamento. “A gente gosta de procurar evolução, procurar ser uma pessoa melhor, ajudar um colega e esses são os valores que a arte marcial traz”, afirma Rodrigo sobre as lutas marciais que ainda ajudam na disciplina de crianças e adolescentes.

Para o futuro, Rodrigo deseja um local ainda maior. Ele se mudou para o atual há pouco mais de três meses, mas já vê necessidade de ampliação para acomodar melhor seus alunos. Por fim, Rodrigo Argentino declara que se entusiasma com o crescimento de seus alunos. “Quando a gente vê um aluno nosso crescer, dá um orgulho e alegria, pois o crescimento dele também é nosso”, finaliza.