Em Imperatriz, participação feminina é destaque de torneio internacional de jiu-jitsu

O campeonato internacional aconteceu pela primeira vez na cidade, após um aumento no número de praticantes do esporte.

Por Stephany Apolinario

O evento foi realizado no Ginásio Jackson Pereira, na praça Mané Garrincha. (Foto: Stephany Apolinario)

Foi no cenário da crescente presença feminina nos tatames, que Imperatriz sediou, pela primeira vez, o Abu Dhabi Jiu-Jitsu Pro (AJP) Tour neste último final de semana (1 e 2 de novembro), no Ginásio Jackson Pereira, na praça Mané Garrincha.

O Jiu-Jitsu em Imperatriz, Maranhão, vive um momento de expansão. Segundo dados divulgados pela academia Paloma Dias Jiu-Jitsu, a cidade saltou de 500 praticantes em 2015 para quase 5 mil em 2025, o que reflete a tendência mundial de mais de 6 milhões de praticantes. O evento não apenas consolidou Imperatriz no mapa global do esporte, mas também colocou em destaque a busca das mulheres por segurança.

A urgência do tema é reforçada pelo cenário nacional: somente até setembro deste ano, mais de 35 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência no Rio de Janeiro, segundo dados divulgados no programa Balanço Geral RJ (Globo), o que ressalta o Jiu-Jitsu como uma ferramenta de autodefesa, especialmente em um país que já conta com 2,5 milhões de praticantes, dado também fornecido pela Paloma Dias Jiu-Jitsu.

Lutadoras
O campeonato contou com a presença de atletas em diferentes momentos da carreira, reforçando o impacto do esporte na região. A lutadora da academia Guigo, Naely Freires de 23 anos, que veio do município Lago da Pedra apenas para lutar, falou sobre o crescimento da categoria: “A gente vê quem vem ganhando cada dia mais espaço e é muito importante, para que as mulheres aprendam a se defender, eu faço a minha divulgação também para que esse público continue crescendo”. Naely ainda mencionou o incentivo prático vindo desses eventos, como a promoção de um evento de defesa pessoal gratuito para mulheres em sua cidade. 


“Vencer a mim mesmo”



O desafio de competir em um evento deste porte foi compartilhado pela funcionária pública Drielly Lorrany Lima, 30 anos, de Araguaína, que fez do AJP seu primeiro campeonato na categoria Master 70kg após um ano e três meses de treino. Ela descreveu a experiência como um misto de sentimentos, pois embora não tenha conquistado o primeiro lugar, o esforço para estar ali foi uma vitória pessoal: “Vencer a mim mesmo”. Drielly destacou que o esporte foi um “hobby” que a tirou da zona de conforto e deixou um conselho para as iniciantes: “O que eu oriento é façam, mesmo com medo. Eu me arrisquei, e estou com o sentimento de paz”, disse a praticante.

O campeonato ainda contou com a presença de atletas locais que celebraram o evento na cidade. A vendedora e lutadora Marcela Madeira, de 25 anos, foi uma das estreantes a conquistar uma medalha, enfatizando: “É um evento muito importante, né? Pra cidade, tantos atletas. Já faz muito tempo que o nosso mestre tenta trazer esse evento pra cá e agora deu certo. E é muito bom estar participando desse evento, estar trazendo mais pessoas pra cá.” Marcela também destacou a união da categoria: “A gente se apoia, a gente treina juntas e a gente se incentiva uma a outra.”


Público

Essa visão foi reforçada pela atleta Regilane Sales, de 26 anos, que ressaltou como a visibilidade do AJP Tour “transfere mais confiança para mais e mais” meninas entrarem no esporte. A lutadora ainda citou a importância do auto desafio, pois o campeonato traz “competidores de ponta”, forçando a evolução.

O desempenho feminino impressionou o público, como a estudante de Medicina Daniele Rotilli, de 37 anos, que comentou: “Eu acho muito legal você ver o tanto de mulheres participando e elas lutando equivalente ou até melhor que os homens e mesmo assim a maioria ganhando.” Daniele defende que o esporte pode levar a um “sucesso tremendo para as mulheres, tanto profissionalmente como pessoalmente, para elas evoluírem.”

Infraestrutura e investimento

A realização de eventos de grande porte como o AJP Tour coincide com a inauguração do primeiro Ginásio Poliesportivo com padrão oficial do interior maranhense, o local que foi palco do evento foi inaugurado no dia 27 de outubro. Na cerimônia de inauguração, as autoridades presentes destacaram que o novo ginásio se insere em um plano de investimentos focado na expansão e melhoria da infraestrutura de lazer e esporte na região, em parceria entre o Governo do Estado, a Prefeitura e o Ministério do Esporte.

Entre os projetos mais relevantes para o público feminino está a instalação de uma Academia Pública exclusiva para mulheres, conforme reafirmado pelas autoridades. Outras iniciativas incluem a revitalização de 15 praças até o final deste ano e a finalização da reforma do Estádio Frei Epifânio D’abadia.

A visibilidade em Imperatriz reflete um movimento nacional pela maior participação e reconhecimento da categoria: o Campeonato Brasileiro da CBJJ de 2023 registrou um número recorde de mulheres inscritas; e em eventos internacionais organizados pela IBJJF, a participação feminina cresceu em média 18% anualmente entre 2018 e 2021. As motivações para o crescimento são claras, variando entre a busca por segurança, equilíbrio emocional e desenvolvimento de autoconfiança, garantindo que as mulheres continuem conquistando e redefinindo seu espaço nos tatames.