Repórter: Karina Santiago e Henry Adrian
Fotos: Karina Santiago e Whallassy Oliveira (Arquivo Pessoal)
Com uma trajetória marcada pela cultura, comunicação e militância, ele conquistou notoriedade ao abordar temas sérios com autenticidade e coragem, seja no teatro o qual Whallassy integrou a Cia de Teatro Okazajo, fundada em 27 de dezembro de 2002 em Imperatriz, no rádio atuou como radialista no programa de humor “Estopim”, transmitido pela Mirante FM Imperatriz (95,1 FM) por volta de 2016, ou nas redes sociais com o seu instagram @whallassy. Whallassy Oliveira Barros, ator, publicitário, radialista, ativista dos direitos humanos e atualmente vereador pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em Imperatriz (MA). Assumidamente gay, se destaca por sua atuação firme em prol da inclusão social, da diversidade e da luta contra o preconceito.
Sua caminhada até a Câmara não foi simples. Em 2020, ele obteve 1.072 votos, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ficando como 2º suplente, à frente, inclusive, do ex- presidente da casa, Alberto Sousa, do Partido Democrático Trabalhista (PDT), eleito com 1.005 votos. Em 2024, voltou às urnas ainda pelo PT e somou 1.390 votos, tornando-se 1º suplente. Com a nomeação do vereador Carlos Hermes PT como secretário municipal de Regularização Fundiária, Whallassy assumiu a cadeira na Câmara de Imperatriz, ocupando esse importante espaço e ampliando as vozes da diversidade na política local. Sendo o primeiro e único vereador assumidamente da comunidade LGBTQIAPN+ até o momento.
Assumir o papel de artista político foi, para Whallassy, um divisor de águas. O que antes era apenas performance e expressão, passou a ser também enfrentamento e denúncia. Deixando sua zona de conforto e de artista querido a político questionador, ele passou a ocupar um lugar que incomoda, que provoca, que desafia. Mesmo assim, optou por não recuar. Entendeu que a luta por representatividade e transformação exige coragem, mesmo quando o preço é alto.
O vereador usa o humor, o deboche e a arte para comunicar temas sérios, como, gastos públicos indevidos, transporte público, saúde e educação provocando reflexões públicas. Com mais de 24 mil seguidores no Instagram @whallassy, ele transformou seu perfil em uma ferramenta política de denúncia e conscientização, apostando numa linguagem acessível e contundente que alcança diferentes públicos.
Como parlamentar, ele segue fiel ao seu estilo direto e provocador, buscando mudanças reais na política local. Entre suas principais bandeiras estão a modernização da educação municipal, a valorização dos profissionais da área, o fortalecimento da saúde pública e a criação de políticas inclusivas para mulheres, LGBTQIAPN+, comunidades afro-brasileiras e indígenas. Transparente e combativo, não teme se posicionar contra injustiças e desafiar estruturas de poder em nome de uma Imperatriz mais justa e igualitária.
Seu trabalho na Câmara Municipal de Imperatriz, além da defesa da comunidade LGBTQIAPN+, também se volta para projetos de lei desenvolvidos e solicitados pelo vereador. Sua atuação parlamentar inclui quinze indicações que envolvem infraestrutura e serviços públicos de saúde, entre elas o Projeto de Lei Ordinária nº 33/2025, que institui o Portal Obras, a ser disponibilizado no site oficial da prefeitura. O Portal Obras, uma plataforma digital que deve ser integrada ao Portal de Transparência ou ao site oficial da prefeitura, essa plataforma é destinada a divulgação detalhada das obras públicas em andamento com uma linguagem mais simplificada e acessível à população de Imperatriz. Esse portal deve manter a população informada sobre como está o andamento das obras, disponibilizando fotos atualizadas das obras públicas, endereço e finalidade de cada obra e até mesmo sugestões e denúncias da comunidade.
Em entrevista ao Imperatriz Notícias, Whallassy compartilha sua experiência como parlamentar LGBTQIAPN+ no interior do Maranhão, comenta os desafios de romper com estigmas dentro e fora da política e explica como o projeto Portal Obras pode revolucionar a transparência pública na cidade. Confira:

“Se a cidade é preconceituosa e ela não aceita um político assumidamente gay com trejeitos, aí o problema não é meu, eu vou colocar o meu nome à disposição”.
Imperatriz Notícias: A comunicação de massa sempre foi uma arma sua, desde a época do teatro no Okazajo e da rádio. Hoje, ela continua sendo, mas com o alcance das redes sociais. Qual a diferença entre comunicar para entreter e comunicar para transformar?
Whallassy Oliveira: Eu não vejo muita diferença nos dois pontos, até porque eu tento também informar. Por exemplo, é o formato Café com Deboche [programa feito com pequenos vídeos para a rede social do Instagram com o objetivo de instigar obter respostas do governo de Imperatriz, mostrando a realidade de bairros, hospitais públicos entre outros locais em situações de abandono] , que entretém e ao mesmo tempo passa uma mensagem ali. É sempre de uma forma mais superficial, porque não tem como a gente aprofundar muitos casos dentro de três minutos, por exemplo. Mas a gente tenta passar o maior número de ideias e de informações sempre de forma muito responsável. E por que não fazer rir também? Porque não divertir, enquanto você fala de algo importante, de algo que é interessante para comunidade saber. O humor, ele sempre foi um objeto de transformação, porque foi através do humor que reforçou preconceitos, mas que também quebrou os preconceitos. Eu vou citar um exemplo aqui. Chico Anysio é um grande nome do humor do Brasil, né? E Chico Anysio reproduzia vários preconceitos. Durante décadas, ele reproduziu preconceitos como humor. E hoje esse mesmo humor, ele é usado para desconstruir os preconceitos e os paradigmas da sociedade. Então, a comunicação e o humor, eles são objetos transformadores que fazem a pessoa conhecer e refletir sem nem a mesma ter acesso a um conteúdo específico.
IN: Você tem a cultura como um dos pilares do seu mandato. Recentemente, conseguiu aprovar o projeto que reconhece o Bloco da Imprensa como parte oficial do calendário cultural da cidade. Qual foi o maior desafio para convencer a Câmara da importância de reconhecer uma manifestação cultural popular como política pública legítima?
WO: É, na verdade, não teve uma resistência da Câmara, por incrível que pareça. Apesar de uma grande maioria ser conservadora, não teve essa resistência, porque foi para comissão, que aprova, eles assinaram, passaram, foi para votação e a votação foi super tranquila, tanto que foi aprovada por unanimidade. Então, essa é a importância de ocupar o espaço, de manter os diálogos porque abre as portas e facilita esses acessos. Foi bem tranquilo, todas essas pautas culturais que eu trago e que também outros vereadores trazem, geralmente elas são aceitas de forma bem positiva.
IN: E quando entrou aqui você imaginou que iria ser mais difícil ou que seria fácil?
WO: Eu imagino que é mais difícil do que o que eu pensava, alguns acessos e algumas ações. É bem mais difícil por conta de resistências, de burocracias. E são esses entraves que a gente tenta no decorrer do mandato fazer com que estreite, que agilize.
IN: Você sempre deixou claro que cultura não é gasto é investimento, e mais que isso é uma ferramenta de resistência para os corpos dissidentes. Como você enxerga a cultura como um campo de disputa simbólico em Imperatriz?
WO: O comportamento do imperatrizense, ele, hoje em dia, pelo conservadorismo predominante que a gente sabe que existe, é por falta de políticas públicas voltadas à cultura. Isso é fato. Porque quem não não tem acesso à cultura, acaba não não desenvolvendo de forma correta o senso crítico, o senso de procura, de busca por conhecimento, porque a cultura, eu costumo falar sempre, está atrelada diretamente com a educação, com formação de caráter. E a sociedade, de uma forma geral, que não tem acesso à cultura de forma fácil, acaba que se fecha, principalmente de opiniões de outras pessoas com relação a todos os assuntos e que com a cultura ela consegue ter um senso crítico maior. E quando eu falo cultura, eu falo de uma forma bem generalizada mesmo. Eu falo da literatura, eu falo do cinema, eu falo do teatro, eu falo da das artes populares, falo de pinturas, falo de apresentações musicais, de uma forma geral. Por incrível que pareça, e por mais que as pessoas falem que não tem ligação, mas a cultura ela gera esse sentimento, de busca por conhecimento.
IN: Whallassy durante a sua campanha política para o cargo de vereador em algum momento você já foi orientado a “ser mais discreto” para conquistar eleitores?
WO: Já. Não por equipe, porque eu sempre tive uma equipe diversa. Minha equipe sempre foi da diversidade e a minha equipe sempre me conheceu Whallassy, homoafetivo e humorista. Então, a minha equipe sempre me incentivou a reforçar isso. Porém, outros políticos sempre davam um toque no sentido de falar assim: “Ah, porque para a Imperatriz a tua postura não é muito boa, porque para a Imperatriz enquanto tu tiver esse comportamento tu nunca vai chegar em lugar nenhum, porque a cidade é preconceituosa”. E eu falei assim: “Então, a minha candidatura é justamente para furar essa bolha”. Se a cidade é preconceituosa e ela não aceita um político assumidamente gay com trejeitos, aí o problema não é meu, eu vou colocar o meu nome à disposição. Se as pessoas não aceitarem naquele momento, paciência, uma hora ela elas vão aceitar. Uma hora elas não vão entender que para além da sexualidade tem um trabalho, tem uma bagagem para ajudar a cidade. Então, é uma questão de um olhar. E eu sempre tive contraponto com relação a esses comentários. Quando a pessoa me falava isso, eu falava assim: “Não, amigo, eu não vou mudar quem eu sou”. Esse é meu jeito. Essa é minha postura, essa é minha voz, essa é minha risada. Eu vou mudar para quê? Porque as pessoas estão muito acostumadas a escolher políticos baseado numa imagem que foi criada. E eu não vou criar uma imagem para agradar as pessoas. As pessoas têm que me conhecer como eu sou e aí gostar ou não em cima do que elas conhecem.
IN: E por que ainda incomoda tanto ver uma pessoa LGBTQIAPN+ ocupando o poder?
WO: Porque a comunidade lgbt ela sofre também com o machismo, que já é o preconceito que as pessoas têm, por exemplo, com a mulher na política, que a mulher historicamente sofreu preconceitos dentro da política, tanto que a gente vê uma uma minoria de mulheres ocupando esses espaços. Não seria diferente com a comunidade lgbtqiapn+. Porque também representa, digamos, essa imagem de fragilidade perante o machismo que sempre predominou. Tanto que os homens predominam na política nacional e até internacional, exatamente por conta disso. Então é nesse mesmo reflexo que é incômodo para muitos machões ver alguém da comunidade lbgt crescendo e se destacando dentro da política. Infelizmente…

“Não queremos privilégios de forma alguma, mas queremos que nossos direitos sejam garantidos”
IN: A Tribuna Popular do Orgulho LGBTQIAPN+, organizada por você em alusão ao mês do orgulho, não foi apenas um ato simbólico, mas um espaço institucional de escuta e denúncia. Em uma cidade onde a comunidade ainda enfrenta violências constantes, esse foi um marco Como foi construir esse espaço dentro de uma instituição onde discursos conservadores ainda predominam?
WO: Eu ainda acho muito doloroso perceber que algo tão simples incomoda tanto as pessoas. Porque historicamente a câmara nunca recebeu uma tribuna para comunidade LGBTQIAPN+. Esse espaço antes não tinha debatido. E eu sinto que nessa legislatura as pessoas estão mais abertas. E aí às vezes eu me pergunto se elas estão abertas porque o mundo está evoluindo ou se elas estão mais abertas porque eu ocupei esse espaço e agora elas me conhecem. Então, essa é a grande dúvida. Será que o fato de conseguir colocar e de fazer uma tribuna é porque eu tô aqui? Será que outro vereador, mesmo que aliado é da comunidade, mas não declaradamente LGBT, teria coragem de sugerir uma tribuna para debater esses assuntos? Então, por isso a importância de ocupar o espaço, porque a partir do momento que eu ocupo, ali dentro eu existo, aqui dentro eu existo, aqui dentro eu consigo cavar esses diálogos. E para ser bem sincero contigo, para ser bem sincero com a comunidade, dentro da legislatura, não há vereadores que eu sinta um pré-conceito extremo. Sinto o pré-conceito em alguns, mas não um pré-conceito extremo que prejudique a vivência e a convivência. Em contrapartida disso, tem muitos que quando eu disse que seria realizada a Tribuna do Orgulho, ficaram super felizes. “Cara, que massa, que legal, parabéns’. Então, é importante ocupar o espaço para você existir dentro do espaço, para que você consiga lutar pelas suas causas ali dentro.
IN: Na sua fala durante a Tribuna, você disse: “não queremos privilégios de forma alguma, mas queremos que nossos direitos sejam garantidos”. Você acha que ainda há uma resistência em aceitar que lutar por igualdade não é lutar por superioridade?
WO: Exatamente. Tem muita gente que fala que é frescura e que é bobagem, que todo mundo tem direito igual. Mas qual é o direito igual que eles estão falando? É o direito de trabalhar? É o direito de ter acesso à educação? É o direito à saúde? Porque se a gente for analisar a é heteronormalidade. Os heterossexuais têm o direito de se casar. A comunidade LGBT com muita luta tá conquistando isso aos poucos e às vezes até querem retroceder direitos que nós conquistamos. Eu não posso casar? Ah, porque sou LGBT? porque eu sou gay, eu não posso ter uma família. Porque sinal de família é outra coisa. Porque família é bíblico, é homem e mulher. Porque foram feitos para criar. Mas eu não quero saber das regras da Bíblia. Eu quero saber da legislação do país. Eu quero saber do meu direito de poder constituir uma família, adotar uma criança, ter um filho. Eu não posso, porque sou gay? Será que eu não vou conseguir educar um filho? Mas a família heterossexual, às vezes, tem um filho e abandona. Às vezes, na família heterossexual, tem um filho e não educa e o filho entra na criminalidade. Historicamente, a família heterossexual, normativa, bíblica, mostrou que falha em educar. Por que que também a comunidade de LGBT não pode ter o privilégio também de falhar ou de acertar. Isso é igualdade de direito. Agora, eu privar uma comunidade de ter suas próprias experiências a nível de família, por exemplo, aí é crueldade, é preconceito e burrice.
IN: Você propôs o Portal Obras como uma resposta à falta de transparência nos gastos públicos. A proposta foi aprovada, mas sabemos que mexer com dinheiro público incomoda. Qual a sensação ao propor algo que deixa a prefeitura nua?
WO: Bom, eu tenho um compromisso com quem acreditou e com quem acredita no meu trabalho. Fora isso, eu não tenho um compromisso com mais ninguém. Meu compromisso é com a população, porque eu seria totalmente incoerente de ocupar esse espaço aqui prometendo trabalhar pelas pessoas e fazer acordos que me deixassem presos, preso de alguma forma. A transparência é um ponto que eu, o Whallassy, sempre vi como problemático, porque o portal de transparência existe. Tá lá. Você pode acessar qualquer informação. Mas quem sabe acessar? Quem sabe ter acesso às informações em um portal da transparência? Como as pessoas conseguem pesquisar esses dados? E o Portal Obras é simplificado. Você apontou para a placa, tem um QR Code, lá você vai abrir a página direto no site da prefeitura que vai estar de forma simplificada. Qual é a obra, o prazo de entrega, quanto já foi gasto, qual é o orçamento, qual é a empresa que está fazendo aquela obra e foto atualizadas daquela obra. Então isso vai facilitar com que as pessoas acompanhem onde está sendo empregado o dinheiro.
IN: Para chegar no nessa proposta, você teve alguma prova ou suspeita concreta de que existe dentro da gestão atualmente alguém da gestão que lucra com essa falta de clareza?
WO: Historicamente dentro da política a gente sabe que sempre tem alguém favorecido. Nessa gestão nós ainda não temos essas informações, até porque a gestão está em estado de calamidade ainda. Então, não tem como a gente ter acesso de forma muito clara, mas, claro que a gente tem as informações de porque não estão sendo realizadas licitações, informações de contratos que foram feitos, a gente averigua esses contratos, verifica qual foi a empresa que foi contratada e até o momento tá tudo dentro das conformidades. Tudo dentro das formas legais.
IN: Você se comunica como quem conhece a rua, mas legisla em um espaço cheio de regras, vaidades e vícios institucionais, o que mais te limita hoje?
WO: Eu não tenho dificuldade nenhuma com regras, porque as regras são criadas para ser seguidas, e eu acredito que a gente tem que respeitar o espaço que a gente ocupa, né? Ao meu ver, o que engessa os espaços políticos de uma forma geral é não falar a linguagem do povo. Porque não adianta eu usar, por exemplo, a tribuna ou usar a minha mesa para falar sobre um projeto e falar numa linguagem técnica que quem tá em casa não vai entender o que eu tô falando. Então, eu sempre tento falar de uma forma extremamente popular para que o adolescente que está conhecendo a política agora entenda o que eu disse, a senhorinha que tá lá em casa vendo lá no WhatsApp dela o vídeo que recebe meu, consegui entender o que eu disse. E aí o profissional, o doutor, né, o mestrado, todos eles conseguem entender. Então eu tento falar de uma forma de uma forma mais simplista, mas ainda assim passando de uma forma aprofundada o que precisa ser passado, mas numa linguagem mais simples. Eu acho que isso às vezes engessa os espaços públicos. É a linguagem. E eu tento ao máximo não quebrar a forma popular de falar sobre as propostas, sobre as indicações, sobre os projetos de lei.
Bate-bola
IN:Um projeto que ainda não saiu do papel, mas você não abre mão?
W: A reforma do teatro Ferreira Gullar.
IN:O maior desafio de ser um corpo dissidente na política?
W: Ter que se provar a cada dia.
IN:Quem mais te inspira na luta por direitos?
W: Hoje, Erika Hilton.
IN:Uma frase que define seu mandato?
W: Resistência, eu acho.
IN:Uma crítica que você já ouviu e achou engraçada?
W: Ah, ele é petista, mas até que fala umas coisas coerentes.
IN:Imperatriz em uma palavra?
W: Majestosa
IN:O que você diria para o Whallassy que começou no teatro?
W: Bicha, vai fundo. Acredite que um dia você vai conseguir transformar muita coisa. É isso, fala assim muitíssimo
Serviço:
Instagram: @whallassy
Blog: www.whallassy.com.br/